A expectativa de redução em 1 ponto percentual na taxa básica de juro (Selic) se confirmou ontem, com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de levar o juro de 11,25% ao ano para 10,25% – menor patamar da história. Este foi o terceiro corte consecutivo na Selic desde a piora da crise financeira, a partir de setembro de 2008. Em janeiro deste ano, a autoridade monetária reduziu a taxa de 13,75% para 12,75% e em março houve mais um recuo, de 12,75% para 11,25%.
Segundo nota emitida pelo Copom, a decisão foi sem viés, por unanimidade e visou “ampliar o processo de distensão monetária”. O resultado converge com a previsão do Boletim Focus, divulgado na última segunda-feira, dia 27, no qual o mercado indicava o corte de 1 ponto percentual.
“A queda nas projeções inflacionárias para 2009 e 2010, com valores abaixo do centro da meta – 4,5% -, somados ao baixo desempenho da atividade econômica no primeiro trimestre e pessimismo para o crescimento do País este ano, abriram espaço para continuidade na trajetória de corte da Selic”, disse Marcela Prada, da Tendências Consultoria.
Segundo Prada, há expectativa de mais um corte de 0,5 ponto percentual na Selic para o próximo encontro do Copom, em junho. Com isso, a expectativa é que ao final do ano a Selic seja de 9,75%. “A gente acha que o BC reduziu o ritmo da queda em razão da evolução do cenário com menos notícias negativas e alguns sinais de melhoria, como por exemplo, o desempenho do varejo que já voltou ao nível anterior à crise”, acrescentou a economista.
Para o diretor executivo da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Storfer, o corte de 1 ponto percentual indica prudência do Banco Central diante do contínuo aumento dos gastos públicos e da sua necessidade de rolar títulos para continuar se financiando. Neste contexto não seria possível reduzir a Selic a níveis muito mais baixos. Além disso, com a desaceleração no corte da Selic, Storfer diz, que o governo postergar mudanças na poupança.
Outro fator que justificaria uma redução no ritmo de desaceleração da Selic – que na reunião de março, sofreu corte de 1,5 ponto percentual – é a preocupação com a possibilidade de ser preciso subir o juro novamente. “Não podemos esquecer que a injeção de dinheiro colocada no mercado terá que ser enxugada”, afirmou Storfer. Uma redução abaixo do que foi feita ontem, entretanto, sinalizaria ao mercado, segundo o executivo da Anefac, uma freada muito brusca na redução do juro e a falta de preocupação com a recuperação da economia.
O professor de Finanças do Ibmec São Paulo, Ricardo Rocha, disse que a taxa básica de juro no patamar de 11,25% convergia para queda. “Havia espaço para cair 1 ponto percentual, a partir de então o Copom pode avaliar o piso da taxa”, afirmou. “Mas não apostaria em um patamar abaixo dos 10%”, disse. Segundo ele, o BC não teria compromisso em número fixo para Selic, porém, componentes outros – não apenas internos – poderiam forçar mais adiante a subida do juro. “Estamos em abril, ainda é cedo, existe espaço para cair a 9% e testar o impacto desta taxa na sociedade. Mas não há certezas sobre fatores que podem forçar uma nova subida da Selic”, completou Rocha.
Repercussão
A avaliação de entidades empresariais e de trabalhadores é que a redução de 1 ponto percentual foi positiva, mas poderia ter sido melhor. “A magnitude do corte não condiz com a necessidade do país de retomar investimentos, fomentar o consumo das famílias e combater o desemprego”, disse em nota a Fecomércio do Rio de Janeiro. Em São Paulo, a Fecomércio avaliou que a autoridade monetária poderia ter chegado ao patamar de 9,25%. “A queda de dois pontos percentuais geraria uma economia de R$ 11 bilhões para o pagamento de juros da dívida pública. A taxa de juros média no mundo está entre 4,5% e 5%. Nos Estados Unidos, Japão e Europa essa média está abaixo de 2%. Comemorar que a Selic caiu de 11,25% para 10,25% parece ser resignação demais”, disse Abram Szajman, presidente da entidade.
Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), representante de um dos setores mais afetados pela crise, disse ter sido positiva a decisão do Copom, mas aquém das expectativas da indústria brasileira. “Os indicadores dos últimos meses mostram que a crise financeira ainda está longe de uma solução”, disse Armando Monteiro, presidente da entidade. “O atual ciclo recessivo da economia exige um corte mais substancial da Selic, mesmo porque a taxa de inflação no acumulado em 12 meses se encontra em trajetória cadente”, defendeu.
Pelo lado dos trabalhadores, a Força Sindical declarou ter sido “tímida” a redução de 1 ponto percentual. “Um pouco mais de ousadia traria enormes benefícios para o setor produtivo, que gera emprego e renda e anseia há tempos pelo crescimento expressivo da economia. O governo não pode continuar com esta política de incentivo a usura no País”.