Câmbio desfavorável e concorrência de produtos chineses agravaram situação da Magneti Marelli
15 de janeiro de 2012 | 3h 08
MARCELO REHDER – O Estado de S.Paulo
Pressionada pela crise mundial, pela valorização do real e pela competição dos produtos chineses, a Magneti Marelli, subsidiária do grupo Fiat que produz autopeças, vai fechar no fim do mês a sua fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. De 450 funcionários diretos e 150 terceirizados, só 100 ainda não foram demitidos e devem continuar trabalhando até o fim de janeiro, apenas para cumprir alguns contratos que ainda restaram à empresa.
Os problemas na fábrica de São Bernardo começaram há cerca de oito anos, depois que ela direcionou 80% das vendas de seu único produto (camisas de cilindro, usadas entre o bloco e o pistão de motores) ao exterior. Segundo a empresa, em 2007 a produção chegou a 1 milhão de peças. Mas a crise de 2008 fez a demanda cair para 200 mil peças. “Os resultados da unidade foram seriamente afetados”, alega a Magneti Marelli em nota. “A alta valorização do real ante o dólar fez o negócio chegar a níveis insustentáveis.”.
A Magneti Marelli não é um caso isolado. Outras empresas seguem o mesmo caminho de fechar fábricas no País ou buscam alternativas para ganhar competitividade. A Vulcabrás Azaleia, por exemplo, vai transferir este ano parte de da sua produção de calçados para a Índia, onde o custo de produção é menor que no Brasil. Antes, porém, fechou sete fábricas no País e demitiu quase 9 mil trabalhadores em 2011.
Os culpados são os velhos conhecidos problemas estruturais, que incluem a carga tributária, a infraestrutura precária, a custosa legislação trabalhista e os juros reais mais altos do mundo, que não devem ter solução no curto prazo. Nesse processo, os salários maiores e o câmbio também são coadjuvantes.
“O custo de produzir no Brasil é um dos mais altos do mundo”, diz José Ricardo Roriz Coelho, diretor do departamento de competitividade e tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Se de um lado o trabalhador tem conseguido aumentar a sua renda, de outro ele não tem acesso a produtos que são caros e prefere levar importados para casa ou viajar e comprar produtos lá fora.”
O presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Pedro Passos, afirma que a remuneração de executivos já é mais alta que no exterior. “Em alguns casos de setores mais próximos que eu conheço, a remuneração do executivo aqui é 30% a 40% mais cara que a de um executivo americano no mesmo padrão de formação e experiência.”
Passos, sócio fundador da fabricante de cosméticos Natura, se referia aos setores de embalagens e derivados de químicos. Contudo, ele considera que são poucos os setores em que há vantagem evidente de se produzir hoje no Brasil. Basicamente os que estão ligados diretamente ao mercado interno e têm benefícios de logística ou aqueles que têm uma barreira de proteção muitas vezes vantajosa.
A Natura, cujas vendas no País correspondem a 93% do faturamento, está entre os primeiros. “Mesmo assim já estamos produzindo fora do Brasil, por meio de parcerias com empresas locais em países como México, Colômbia e Argentina”, conta Passos. “Por incrível que pareça, e eu não estou falando dos asiáticos, na maior parte dos produtos o custo de produção nesses países é menor que no Brasil.”
Segundo ele, os produtos fabricados nesses países se destinam preferencialmente ao consumo interno, mas também poderão ser exportados para toda a América Latina.