Marcelo Rehder
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, afirmou ontem que o Banco Central deve se responsabilizar pelas demissões no País, caso o Comitê de Política Monetária (Copom) não acelere o ritmo de quedas da Selic com reuniões quinzenais. Para ele, o Brasil já precisaria estar hoje com uma taxa básica de no máximo 8% ao ano, o que corresponderia a 3% de juros reais.
“Se as reuniões do Copom continuarem sendo a cada 45 dias e chegarmos a uma Selic de 7% ou 8% só no fim do ano, então o Banco Central que se responsabilize pelo desemprego”, disse Skaf. “Porque juros altos significam desemprego.”
O presidente da Fiesp informou que a indústria paulista voltou a fechar postos de trabalho em fevereiro. Só em dezembro e janeiro já foram eliminadas 162,5 mil vagas, que vão se somar aos do mês passado. Os dados sobre as demissões de fevereiro serão divulgados hoje pela entidade.
Skaf considerou “irresponsabilidade” do Copom não ter reduzido a taxa Selic no último trimestre de 2008, quando a taxa básica atingiu 13,75% ao ano. Nesse período, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 3,6% em relação ao trimestre anterior, enquanto a queda do PIB industrial chegou a 7,4%.
“Agora, eu pergunto: o Banco Central acertou ao não ter reduzido os juros no fim do ano passado, num período em que o PIB brasileiro apresentou um dos piores resultados do mundo? Está na cara que errou e ninguém cobra isso dele”, indagou o presidente da Fiesp.
Na opinião de Skaf, o BC vai continuar errando, caso as reuniões do Copom não passem a ser quinzenais. Segundo ele, a medida contribuiria para evitar que uma queda do PIB este ano.
O presidente da Fiesp reconheceu que o Copom agiu certo ao ter reduzido ontem a taxa básica de juros em 1,5 ponto porcentual, para 11,25% ao ano. Porém, insiste que agora é preciso acelerar a queda com reuniões menos espaçadas.”Se for para esperar 45 dias, então teria que ter baixado a Selic em 2,5 ou 3 pontos porcentuais, e não 1,5 ponto.”
Para Skaf, a decisão de ontem deve ter um impacto psicológico positivo entre empresários e consumidores, mas sem efeitos práticos. “Só vamos ter de fato efeitos práticos no momento em que a Selic cair para 7% ou 8% ao ano, o que vai ajudar a minimizar os efeitos nocivos da crise que está nos atingindo.”
REPERCUSSÃO
Armando Monteiro
Presidente da CNI
“Entendemos que é urgente a adoção de uma postura mais agressiva e trazer a Selic para o nível de um dígito com tempestividade”
Kátia Abreu
Presidente da CNA
“A Selic tinha de ter caído 2 pontos. O único instrumento que o governo tem para reaquecer a economia é a política monetária, pois a política fiscal se esgotou”
Aloizio Mercadante
Líder do PT no Senado
“O choque de juros já foi feito por outros países. O Brasil tem um instrumento que outros países não têm mais para enfrentar a crise e precisa utilizá-lo com rapidez e sustentabilidade”
Artur Henrique
Presidente da CUT
“Insistimos em queda mais acentuada dos juros e na diminuição do intervalo entre as reuniões do Copom, como forma de acelerar o processo de redução da Selic”
Paulo Vieira da Cunha
Ex-diretor do BC
“O corte que levou a Selic para 11,25% ao ano, e com magnitude superior ao movimento realizado em janeiro, indica que a projeção do BC para o PIB deve estar na faixa de 1% a -1% para o ano”
Paulo Pereira da Silva
Presidente da Força
” A queda do PIB é uma digital de que a crise econômica chegou ao País e deve servir de alerta para o governo da necessidade de baixar os juros e o spread bancário´´
Alencar Burti
Presidente da ACSP
“Esperava que a coragem das autoridades monetárias em elevar o juro quando julgaram necessário fosse demonstrada agora com corte mais ousado”
Dilma Rousseff
Ministra-chefe da Casa Civil
“Esta conjuntura internacional deflacionária é uma oportunidade única para o Brasil passar a ter juros civilizados”
José Serra
Governador de São Paulo
“Antes tardíssimo do que nunca, porque superamos seis meses de inércia nessa matéria. Eu aplaudo. Achei positivo”