Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Sindicatos pressionam por aumento real

Matéria publicada no dia 17/10/09

Recuperação da economia se transforma em argumento de pressão dos trabalhadores para conseguir maiores reajustes

No primeiro semestre, 93% dos 245 acordos analisados pelo Dieese tiveram reajustes iguais ou acima da inflação; em 2008, só 87%

CLAUDIA ROLLI

FÁTIMA FERNANDES

DA REPORTAGEM LOCAL

A recuperação da economia se transformou em argumento de pressão dos trabalhadores para conseguir reajustes de salários com ganhos reais (acima da inflação) neste semestre.

A atuação dos sindicatos em 2008, principalmente entre setembro e dezembro, quando o país sentiu de forma mais intensa os efeitos da crise, foi para manter o emprego. Nas campanhas salariais deste ano, o foco dos sindicatos já é recuperar o poder de compra dos salários.

Bancários e metalúrgicos que trabalham em montadoras, categorias com forte poder de mobilização, já conquistaram de 1,5% a 3% de aumento real, além de abonos salariais de R$ 1.500 a R$ 2.800 e participação nos lucros e resultados.

Essas negociações abrem espaço para que outras categorias negociem aumentos reais que variam de 5% a 10% -caso dos químicos, gráficos, trabalhadores do setor de alimentação e dos petroleiros. Para os trabalhadores, as empresas voltaram a produzir -e a faturar- neste ano e têm condições de arcar com maiores reajustes.

“Os efeitos da crise foram brandos no Brasil. As indústrias retomaram a produção, e as lojas, as vendas. Sempre que tem retomada da economia o quinhão dos trabalhadores tem de aparecer. Se o mercado interno está forte e aquecido, é possível criar melhores empregos e salários”, afirma Vagner Freitas, secretário de administração e finanças da CUT.

No primeiro semestre deste ano, 93% dos 245 acordos coletivos analisados pelo Dieese tiveram reajustes iguais ou acima da inflação (INPC). No mesmo período do ano passado, o percentual foi de 87%.

A tendência neste semestre é que os reajustes se mantenham acima da inflação. “Quem negociou no primeiro semestre negociou em plena crise e, mesmo assim, obteve bons resultados. Neste semestre, as categorias negociam em um cenário melhor. A perspectiva é que o país cresça entre 4% e 5% e já houve melhora no emprego e na produção, especialmente no caso de setores que receberam incentivos fiscais e subsídios do BNDES”, afirma José Silvestre de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese.

Os aumentos reais de salários também estão mais robustos porque a inflação está em queda. “Fica bem mais fácil para o empresário dar ganho real de salário com inflação anual entre 4% e 4,5% do que próxima de 7%. A inflação é peça fundamental nas negociações salariais”, diz Fábio Romão, economista da LCA Consultores.

Para o advogado trabalhista Luis Carlos Moro, os sindicatos tiveram de assumir uma posição mais “ofensiva” após constatarem que a crise não atingiu o país na proporção esperada. “As empresas se preparam para demissões, suspensão de contratos de trabalho e arrocho salarial. Quando o lucro de várias companhias foi divulgado e se constatou que chegava à casa de bilhões de reais, os sindicatos reagiram e retomaram a bandeira do aumento real.”

Em setores que ainda não reagiram, como o têxtil, as discussões salariais serão mais difíceis. Trabalhadores do setor têxtil de São Paulo pedem aumento real de 5%, mais a correção da inflação. “Não vai chegar nem perto disso. Em 2008, demos 0,8% de aumento real, que já foi maior do que podíamos”, afirma Rafael Cervone, presidente do Sinditêxtil, sindicato da indústria têxtil.

Os químicos de São Paulo já preparam paralisações para conseguir negociar aumento salarial. “O faturamento do setor cresceu, em média, 7% nos últimos dez anos. Se negociamos medidas no início do ano para evitar a demissão, agora as empresas se recuperaram e têm condições de nos atender”, diz Sergio Luiz Leite, presidente da Fequimfar (federação dos químicos), que representa 100 mil trabalhadores no Estado.

“Como a economia vai crescer até o final do ano, se não houver aumento real de salário, haverá um festival de greves”, diz Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.

Para empresários, aumento pedido por sindicatos é “irreal”

Principal alegação é que a crise econômica teve impactos diferenciados na produção dos setores

DA REPORTAGEM LOCAL

Representantes da indústria, do comércio e do setor de serviços consideram que o aumento real reivindicado por categorias profissionais com data-base neste semestre é “irreal”.

“Pedir 5% a 10% de aumento acima da inflação é algo irreal. Não dá para negociar esses percentuais nem que a vaca tussa”, diz Roberto Della Mana, diretor do Departamento Sindical da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Como a crise econômica teve impactos diferenciados na produção dos setores, há sindicatos patronais que têm condição de conceder reajustes melhores e “outros que não vão conseguir conceder nem a reposição da inflação” -caso dos que dependem principalmente do mercado externo, afirma Della Manna.

Em agosto, a produção industrial brasileira apresentou expansão em 7 das 14 regiões pesquisadas pelo IBGE. A recuperação foi puxada pelos Estados com atividades relacionadas à cadeia do setor automotivo -como São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul.

Na análise de alguns empresários, a recuperação da atividade econômica não é motivo para pressionar por reajustes superiores à inflação.

“Aumento de salário pode significar aumento de custo, o que não é bom. A negociação com os sindicatos tem de considerar o longo prazo de modo a garantir a competitividade da empresa”, diz Jackson Schneider, presidente da Anfavea, associação que representa as montadoras de veículos.

Para Schneider, os ganhos reais de salários que ocorreram no ramo metalúrgico foram resultado de greves. “A pressão por aumento real de salário é legítima, mas tem de haver um entendimento. Há situações diferentes entre as empresas do setor, até porque estão em regiões diferentes ou enfrentam grande competição no mercado externo”, afirma.

Rafael Cervone, presidente do Sinditêxtil (reúne as empresas têxteis), diz que, apesar de a economia dar indícios de retomada, é “prematuro” achar que a indústria está produzindo e faturando mais. “A produção de vestuário está praticamente estável em relação a 2008. A negociação salarial no nosso setor tem de ser consciente e discutir a reposição da inflação.”

No setor comercial, as negociações superaram a expectativa dos próprios empresários. “Concedemos 2,45% de aumento real, o maior percentual dos últimos dez anos”, diz Ivo Dall´Acqua, presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Fecomercio-SP.

Um dos fatores que impulsionaram o comércio neste ano e permitiu ao setor patronal atender o pedido dos comerciários foi o reajuste dado ao salário mínimo (descontada a inflação, o aumento chegou a 6,39% neste ano). “A classe C teve mais acesso ao consumo, o que incrementou as vendas.”

Para Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, os patrões deram o reajuste pedido para evitar greves e poder negociar o trabalho dos comerciários durante os feriados e os domingos. (CR e FF)