Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Sindicatos já admitem abrir mão de direitos

Para evitar onda de demissões no início de 2009, metalúrgicos de SP, PR e AM já negociam com empresas condições para retorno das férias

Cleide Silva e Paulo Justus

Sindicatos de trabalhadores já aceitam abrir mão de direitos na tentativa de evitar possível onda de demissões no início de 2009. Diante da perspectiva de um começo de ano desaquecido, várias empresas estudam medidas a serem adotadas em janeiro, quando os funcionários voltam das férias coletivas.

Por enquanto, as medidas estão sendo aceitas por sindicatos de menor porte. São iniciativas previstas na Constituição, desde que acertada entre patrões e trabalhadores, como a redução de jornada e salários. Mas grandes companhias, como a Volkswagen, já anunciaram que vão negociar medidas para adequar a produção à demanda, o que colocará o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, um dos mais fortes do País, novamente no foco das discussões sobre flexibilização de direitos trabalhistas.

O Sindicato dos Metalúrgicos de Embu Guaçu (SP) fez acordo com fábricas de autopeças para corte da jornada e dos salários. “Desde 1º de dezembro os metalúrgicos trabalham quatro dias por semana, mas têm garantia do emprego”, diz o dirigente Jorge Rodrigues.

O Sindicato dos Metalúrgicos de Bragança Paulista (SP) concordou em reduzir a jornada e o salário dos trabalhadores da fabricante de eletroeletrônicos Tyco. Com isso, obteve três meses de garantia de emprego, a partir de janeiro. “As demissões já estão acima do normal e estamos com medo de janeiro, quando os funcionários voltam das férias”, diz José Machado, vice-presidente da entidade.

Em Curitiba, o sindicato dos metalúrgicos participa hoje de audiência no Ministério Público do Trabalho com as empresas e está disposto a aceitar medidas de redução de salários e jornada e suspensão do contrato de trabalho.

Ceder na negociação nem sempre significa sucesso. O Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco propôs redução dos salários e suspensão temporária do contrato de trabalho com a condição de que a fábrica de vagões Amsted Maxion reintegrasse 400 demitidos. “A empresa não aceitou rever as demissões”, diz o presidente do sindicato, Jorge Nazareno. A empresa também demitiu 1,1 mil pessoas nas fábricas de Hortolândia e Cruzeiro e cortará mais 700 vagas em Campinas.

DISCUSSÃO TRIPARTITE

A Takata, fabricante de volantes e air bags em Jundiaí (SP) pretende negociar com os 1,2 mil trabalhadores a redução da jornada e dos salários de até 20%. A idéia é suspender um dia de trabalho na semana, informou Rodrigo Ronzella, gerente-jurídico da empresa. “Tudo depende de como vai começar janeiro.” A empresa depende da confirmação de pedidos das montadoras.

Na terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ao Estado que o Planalto vai estimular empresários e sindicalistas a negociarem acordos coletivos, mas não quer se envolver na discussão. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)acha que a discussão tem de ser tripartite.

“Se o governo quer resolver o problema, tem de convocar empregados, empregadores e a Justiça para buscarmos uma solução”, diz o diretor do Departamento Sindical, Roberto Della Manna.

Hoje, o comitê criado pela Fiesp para discutir a crise econômica vai debater o tema da flexibilização. “Diante de tantas informações, estamos preocupados que alguns (empresários) analisem que a situação é mais séria e comece a dispensar sem precisar, apenas para evitar ser pego no contrapé”, afirmou Della Manna.

A CUT já manifestou ser contra acordos que signifiquem perdas para os trabalhadores. Para o presidente da CUT, Arthur Henrique, as empresas lucraram muito nos últimos anos e têm condições de manter os postos de trabalho. O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, orienta os sindicatos a evitar acordos em que o trabalhador cede em troca de garantia de emprego.