Representantes dos trabalhadores querem contrapartida das montadoras, com 80% de peças locais
08 de setembro de 2011 | 23h 00
Raquel Landim, de O Estado de S. Paulo
Os sindicatos estão apoiando o pleito das montadoras de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os carros, conforme anunciado na política industrial Brasil Maior. A posição dos representantes dos trabalhadores aumenta a pressão sobre o governo, que ameaça desistir do benefício.
O governo federal está preocupado porque as montadoras resistem a assumir contrapartidas como metas para utilização de peças locais, redução de emissões e um porcentual fixo de investimento em pesquisa e tecnologia. Por isso, ao invés de reduzir o imposto, o governo avalia elevar o IPI para quem ficar fora do novo regime automotivo.
“Se apenas elevarem o IPI dos importados, não teremos geração de emprego aqui”, disse Quintino Severero, secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Segundo os sindicalistas, o governo adiou uma reunião com montadoras e sindicatos, marcada para ontem, para fechar o decreto sobre o tema. O encontro foi postergado depois que montadoras e governo chegaram a um impasse na terça-feira. O ministério da Fazenda não confirma que a reunião com os sindicalistas estava agendada.
O apoio dos sindicatos, no entanto, não sai de graça. Eles também querem que as montadoras assumam “contrapartidas sociais”. A principal delas é o aumento do conteúdo de peças locais exigido no novo regime automotivo. Os sindicatos defendem 80%, estabelecido por modelo.
A proposta hoje na mesa é de 60%. As montadoras querem que o porcentual seja fixado por empresa, já que modelos novos tem menos valor agregado local.
A posição dos sindicatos favorece as quatro grandes montadoras – GM, Volks, Ford e Fiat – que estão a mais tempo no País e, por isso, têm condições de utilizar mais autopeças locais.
Severo reconhece que a proposta beneficia algumas empresas, mas reforça que “não queremos maquiladoras”. Montadoras como Citroën, Toyota, Honda ou Nissan têm mais dificuldade para cumprir um porcentual de peças locais tão alto.
A Força Sindical defende a redução do IPI, mas gostaria que o governo elevasse também o imposto de importação sobre os carros. “Queremos as duas coisas. Defender o mercado dos importados, mas também elevar a nacionalização de peças no País”, disse Miguel Torres, vice-presidente da Força e presidente do Sindicatos dos Metalúrgicos de São Paulo.
Na proposta entregue ao governo, ao qual o Estado teve acesso, a Força Sindical defende “contrapartidas sociais”, como jornadas de trabalho semanal de 40 horas, rotatividade de trabalhadores não superior a 3% ao ano, representação sindical no local de trabalho e ainda o estabelecimento de um piso salarial nacional para o setor automotivo.
Torres disse que não está preocupado com as recentes paralisações das montadoras de veículos para baixar estoques. “É até estranho que façam isso em meio à negociação com o governo pelo IPI. Não caímos nessa”, disse.