Denúncia foi remetida ao Ministério Público do Trabalho; Bosch nega pressão
DIMITRI DO VALLE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
A direção do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba acusou ontem a Bosch de pressionar e promover “assédio moral” sobre funcionários da unidade de Curitiba para aceitar reduzir em 20% os salários e a jornada de trabalho.
A empresa nega. A denúncia foi encaminhada pelo sindicato ao Ministério Público do Trabalho. Em nota oficial, a Bosch confirmou que vem mantendo contatos com os trabalhadores, mas nega haver pressão sobre os funcionários.
Segundo o presidente do sindicato, Sérgio Butka, “a pressão e o terrorismo” estão ocorrendo nos três turnos da empresa, todos os dias.
Butka disse que funcionários são chamados em grupo para conversar com suas chefias para que aceitem as condições de redução salarial e de expediente sob ameaça de demissão.
De acordo com o presidente do sindicato, mesmo que fosse aceita, a proposta não garantiria a manutenção do emprego. O sindicalista disse ainda que ela é inviável porque os empregados da Bosch em Curitiba já rejeitaram em três assembleias, realizadas entre dezembro e este mês, as propostas da empresa que tenham objetivo de retirar direitos trabalhistas.
“A empresa ainda não sentou para discutir o assunto com o sindicato, não apresentou nenhuma proposta oficial. Está apenas fazendo assédio moral sobre os funcionários, e isso nós não podemos admitir”, afirma Butka.
A Bosch demitiu no início de dezembro 250 funcionários por conta da crise mundial. Segundo o sindicato, foram 800 dispensas ao longo do ano passado. Fabricante de bombas injetoras para motores a diesel, a empresa tem cerca de 4.000 empregados atuando em Curitiba e é considerada a maior metalúrgica do Estado.
Butka disse que 80% dos funcionários da Bosch estão comprometidos com bancos por meio de programas de empréstimos e posterior desconto em folha. Segundo ele, uma redução salarial causaria problemas entre bancos e trabalhadores para saldar as dívidas.
Em vez de demitir, o sindicato propõe que a Bosch adote a suspensão temporária de contratos, a exemplo do que foi estabelecido na montadora Renault, também no Paraná.
Entre janeiro e junho, mil trabalhadores da Renault farão cursos profissionalizantes, remunerados com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e terão ainda uma ajuda de custo da própria montadora. O acordo prevê que, dependendo da realidade do mercado automotivo, eles poderão ser chamados a reassumir seus postos ao final do prazo.
Outro lado
Bosch afirma que age com transparência
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
A direção da Bosch no país disse, por meio de sua assessoria, que os contatos com os trabalhadores estão sendo feitos seguindo o “princípio de transparência”.
A empresa negou que as conversas com os empregados configurem assédio moral, como disse a direção do sindicato dos metalúrgicos.
“A Bosch ressalta que sempre atuou dentro da legalidade, respeitando o direito dos trabalhadores, e que se mantém aberta ao diálogo.”
No comunicado, a Bosch disse que as reduções de salário e de jornada previstas em lei são “a solução necessária para adequar o grau de ocupação de pessoal à demanda atual”. A empresa destaca que o setor automobilístico vem enfrentando “acentuada queda de demanda”. Na nota, a empresa afirma que, antes de demitir, adotou outras medidas, como a suspensão temporária de novas contratações, concessão de férias regulares e coletivas e restrição a gastos em todas as áreas.