O IG Mettal, Sindicato alemão que representa 3,9 milhões de trabalhadores nos setores metalúrgico e automotivo, firmou acordo que garante aumento real e reduz jornada para 900 mil trabalhadores na principal região industrial do País. O acordo foi precedido de reuniões e paralisações de 24 horas. O aumento será de 4,3% e a jornada cai de 35 para 28 horas. O acordo vai vigorar por próximos 27 meses.
A conquista dos alemães fura o bloqueio neoliberal, cuja marca é o arrocho salarial, a derrubada de direitos e a piora na qualidade das relações de trabalho. A Agência Sindical conversou com sindicalistas brasileiros, que saúdam as conquistas dos companheiros alemães.
Valter Sanches, secretário-geral da IndustriAll Global Union, explica que o acordo foi obtido após cinco rodadas de negociação e greves que paralisaram gigantes como a Airbus, Daimler, BMW e Bosch. Segundo o dirigente – que tem origem no sindicalismo ABC – essa conquista pode estimular o fechamento de acordo nacional dos metalúrgicos e também balizar para futuras negociações em outros setores sindicais.
“Inicialmente o acordo foi feito com o IGMetalll de Baden-Wurttenberg, um Estado dos mais ricos e onde estão as sedes de Mercedes-Benz, Porsche, Bosch, Mahle, entre outras. Beneficia 900 mil trabalhadores dos setores metalmecânico e eletroeletrônico. Mas deve ser estendido à totalidade dos três milhões de metalúrgicos alemães” comenta Sanches.
O acordo abrange todos os trabalhadores, sócios ou não do Sindicato. Para Valter Sanches, o que foi acordado estabelece um novo patamar nas negociações. Sua expectativa é que venha a influir em futuras negociações na Alemanha e outros países europeus. Ele não crê impacto inflacionário. “A inflação alemã foi de 1,7% em 2017. Portanto, os trabalhadores estão tendo um bom ganho real. Não deve elevar o custo de vida, pois um eventual aumento de consumo não provocaria inflação de demanda. Não é a tradição da Alemanha ou da Europa” alega.
Além do ganho econômico, o dirigente destaca a importância da redução de jornada. Valter Sanches comenta: “É uma grande inovação, porque visa não apenas partilhar os ganhos de produtividade gerados pelos trabalhadores face à digitalização e ao novo patamar da chamada Indústria 4.0. Vejo que gerará um maior equilíbrio vida-trabalho, porque o trabalhador poderá ter mais tempo pessoal com a jornada de 28 horas”.
Esse padrão de acordo, crê o secretário-geral da IndustriAll Global Union, está distante do Brasil por conta da conjuntura nacional recessiva. “Entendo que serve de inspiração aos sindicatos brasileiros, mas infelizmente nossa economia está em recessão e a correlação de forças atual não indica uma conquista desse porte aos brasileiros” completa.
Brasil – A vitória do Sindicato alemão pode ter reflexos não só na Europa, mas também por aqui. Em entrevista à Agência Sindical, Marcelino da Rocha, presidente da Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal), destaca seu caráter inédito. “Normalmente as montadoras trabalham com 40 horas semanais. Lá eles trabalhavam 35 horas. Reduzir pra 28 horas e com aumento salarial é muito positivo”, avalia.
Miguel Torres, presidente dos Metalúrgicos de SP e Mogi, da Confederação Nacional da categoria (CNTM) e vice da Força Sindical, considera a conquista capaz de revigorar a luta global por empregos e mais qualidade de vida. “Serve inclusive pra resgatar a importância de nossa pauta trabalhista que prevê – entre vários itens econômicos e sociais – redução constitucional da jornada de 44 pra 40 horas semanais, sem redução salarial, para metalúrgicos e demais categorias”, pondera Miguel.