Confrontadas com exigências ambientais e disparada nos custos, algumas siderúrgicas resolveram reformular a receita de séculos para a fabricação do ferro usado na produção do aço.
Empresas da Europa, Austrália e América do Norte desenvolveram processos que contornam uma etapa altamente poluente da produção do ferro e estão encontrando siderúrgicas da Ásia e da África dispostas a apostar na inovação. Mas a sul-coreana Posco, a terceira maior siderúrgica do mundo, foi ainda além do tradicional alto-forno.
O aço é normalmente feito pelo refino do ferro em três etapas. Primeiro, o minério de ferro e o carvão são aquecidos e transformados em materiais – sínter e coque, respectivamente – que podem se misturar facilmente. Aí, eles são carregados no alto-forno, onde se combinam para se tornar ferro-gusa. Finalmente, o ferro-gusa é fundido ainda mais e misturado com outros materiais numa forma líquida de aço, que é então moldada em formas ou laminada.
A Posco, porém, construiu um alto-forno que pode preparar tipos mais baratos de carvão e minério de ferro para serem convertidos em ferro-gusa sem colocá-los nos fornos altamente poluentes usados na fabricação tradicional. Ela investiu mais de US$ 2 bilhões em pesquisa para criar o processo, chamado Finex, que desenvolveu em conjunto com a empresa antecessora da Siemens-VAI, hoje uma divisão da alemã Siemens AG.
A unidade da Siemens construiu antes o alto-forno em usinas da Saldanha Steel, que pertence à ArcelorMittal, na África do Sul; da Jindal Vijayanagar Steel Ltd. na Índia; e da Baosteel Group Corp. na China. O processo Corex eliminou a necessidade de processamento separado do coque e do sínter, e a Baosteel, a maior siderúrgica chinesa, está agora erguendo seu segundo alto-forno Corex, que deve começar a produzir em 2010.
A Posco e a Siemens-VAI haviam planejado construir uma pequena usina de demonstração usando o processo Corex, mas elas decidiram tomar um passo adicional. Embora o Corex possa usar fino de carvão barato, o processo Finex usa tanto fino de carvão como fino de minério de ferro, o que o torna mais eficiente em termos de custos.
As siderúrgicas vêm experimentando novos processos na etapa de produção do ferro há muitos anos, principalmente com alterações na relação dos ingredientes, na esperança de reduzir o uso do coque. A maioria das alternativas nunca chegou ao mercado porque consumia muita energia. “Se você consegue fazê-lo sem gastar muito mais energia que o processo normal, ganha tudo”, diz Jerome Lambert, gerente ambiental e de tecnologia do escritório de Pequim do Instituto Internacional do Ferro e do Aço.
O ferro criado no alto-forno Finex pode ser usado em qualquer tipo de aço, inclusive os de alta qualidade usados na indústria automobilística, dizem executivos. A Posco afirma que usa para o ferro-gusa Finex os mesmos processos de inspeção e controle de qualidade de outros altos-fornos. Em ambos os casos, o ferro tem de ter a mesma composição.
A usina Finex da Posco, que começou a operar em maio de 2007, operou abaixo das metas de produção e acima das projeções de consumo de energia por meses, em parte por causa de problemas mecânicos. “No começo estávamos tentando fazer várias coisas”, diz Lee Chang-hyung, um engenheiro da Posco. Até setembro de 2007, diz, “não podíamos alcançar nossa meta (de produção) diária. Depois disso, a estabilizamos”.
No momento, a usina da Posco produz 1,5 milhão de toneladas de ferro por ano, ou cerca de 6% das necessidades siderúrgicas da empresa. Seu custo operacional, que não inclui despesas fixas, é equivalente a 90% do custo nos dez altos-fornos tradicionais da empresa, quando medido numa base de produção comparável. Com planos de se expandir para a Índia e o Vietnã, a empresa tem pelo menos seis outros altos-fornos nos planos, e executivos dizem que devem usar o projeto Finex para eles.
Nos últimos meses, as pressões de custos aumentaram para as siderúrgicas, que foram forçadas a aceitar grandes aumentos de preço para o carvão siderúrgico e o minério de ferro.
A diferença nos preços por tonelada entre o carvão siderúrgico e o fino de carvão mais barato usado no novo alto-forno da Posco pulou de US$ 15 para US$ 50 este ano. Recentemente, a Posco concordou em pagar à mineradora Rio Tinto 96% mais por minério de ferro granulado, o tipo usado em altos-fornos tradicionais. Já o preço do minério de ferro usado em seu novo alto-forno subiu apenas 79%, e a partir de uma base mais baixa.