Segundo sindicato, movimento foi deflagrado após demissões feitas no sábado e teve adesão de 2.300 trabalhadores
Em tentativa anterior de acordo, empresa não deu garantia de emprego após redução de jornada e salário e hoje haverá nova reunião
DA REPORTAGEM LOCAL
Os 2.300 trabalhadores da fábrica da Pirelli, em Santo André, entraram em greve na noite de sábado, segundo o Sindicato dos Borracheiros da Grande São Paulo. O movimento foi deflagrado após a demissão de 11 funcionários no mesmo dia.
“A Pirelli propôs redução de jornada com redução salarial, mas não admitia estabilidade dos empregos após o vencimento do contrato”, afirma Terezinho Martins da Rocha, presidente do sindicato. “Não aceitamos essa proposta, e as demissões começaram já na sexta-feira.”
Segundo Martins, houve uma assembleia na fábrica na troca de turno, na noite de sábado, e a greve foi aprovada. A intenção do sindicato é reverter as demissões e reabrir as negociações sobre a redução de jornada e salários. A posição sobre garantia de emprego é mantida.
Procurada, a Pirelli não respondeu a pedido de entrevista até o fechamento desta edição.
A fábrica da Pirelli em Santo André produz pneus de caminhões e tratores. Esses veículos registraram queda nas vendas pelo quarto mês consecutivo em fevereiro. Além disso, mesmo com o corte do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e a expansão de cobertura do Finame (Financiamento de Máquinas e Equipamentos), principal linha de crédito do setor, as vendas não se recuperaram.
O patamar de vendas mais baixo obrigou a Volkswagen Caminhões e Ônibus, por exemplo, a afastar 500 trabalhadores da unidade de Resende (RJ) por cinco meses. Com isso, a capacidade de produção foi reduzida de 230 para 170 veículos por dia.
Nas outras montadoras, as projeções de vendas também foram bastante reduzidas. Apesar de todos os fabricantes e fornecedores de autopeças estarem tentando se adaptar à nova realidade, Martins afirma que a Pirelli tem tido uma postura mais dura do que outras fabricantes de pneus.
Segundo ele, tanto a Bridgestone Firestone quanto a Goodyear fizeram PDVs (Programas de Demissão Voluntária) atraentes, o que as tem ajudado a adequar o número de trabalhadores à demanda. Já a Pirelli não teria oferecido a mesma possibilidade, afirmou.
Martins disse ainda que a Pirelli já propôs o mesmo modelo de redução de jornada e salário, sem garantia de emprego, aos funcionários da fábrica de Gravataí (RS), onde são feitos pneus de caminhões e motos.
Conflito
Empresas de diversas áreas têm adotado o modelo de redução de jornada e salários como alternativa de adequação dos estoques às vendas. Levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com 431 empresas, no início deste mês, mostrou que 9% das indústrias já tinham feito acordos para redução de jornada e salários. Outras 24% pretendiam adotar procedimento semelhante nos próximos meses.
No mesmo levantamento, foi identificado que 80% das entrevistadas já tinham tomado ações com relação a seus trabalhadores após a crise.
Reduções generalizadas nas jornadas de trabalho indicam que as empresas deverão evitar ao máximo novas contratações nos próximos meses, afirma o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Pesquisa Datafolha divulgada na semana passada mostrou que, em troca de garantia de emprego, 41% dos trabalhadores empregados aceitariam reduzir o seu salário, enquanto 40% disseram que aceitariam abrir mão de parte dos seus direitos trabalhistas com o mesmo objetivo.