A classe trabalhadora sempre defendeu um modelo econômico baseado no crescimento, emprego e renda. Um dos pilares desse modelo é o mercado interno forte. E não há mercado interno forte sem emprego de qualidade e salários justos.
O modelo que defendemos não é muito diferente do que propõem entidades empresariais do setor produtivo. Portanto, nesse momento, o empresariado produtivo é um importante aliado da classe trabalhadora pela mudança da atual política econômica. Essa política privilegia a especulação, ao manter juros extorsivos e enriquecer quem especula sem trabalhar.
Foi contra esse modelo lesivo para o Brasil que a Força Sindical e demais Centrais voltaram a protestar em frente ao Banco Central ontem (1º), em São Paulo, cobrando redução dos juros. A taxa Selic de 14,15% estrangula o setor produtivo e encarece o crédito para os consumidores. Enquanto fábricas demitem e lojas fecham as portas, bancos acumulam recordes em lucro real.
A grande mídia, infelizmente, não informa à Nação os reais danos causados pela política de juros altos. Não diz que, além de fragilizar o setor produtivo, essa política saqueia o Estado, que fica refém do sistema financeiro. Sim, existe um sistema financeiro e ele é braço selvagem do capital. Um grupo de cerca de 10 bancos compra, regularmente, os títulos públicos do governo nos leilões do Banco Central e vive dos juros altos que o próprio Estado lhes paga.
Há um site interessante – Auditoria da Dívida Pública – criado pela auditora aposentada da Receita Federal, Maria Lucia Fattorelli. Quem acessar o site vai saber, por exemplo, que em 2015 o Brasil consumiu R$ 962 bilhões pagando juros. Isso dá, pasmem, R$ 2,6 bilhões ao dia. Observe que Guarulhos, uma das maiores cidades brasileiras, tem orçamento de R$ 4,3 bi/ano. Ou seja, num único dia, o pagamento da dívida consome o equivalente a 65% do orçamento anual da nossa cidade.
Tenho dito à Força Sindical que precisamos ganhar a base trabalhadora para a luta contra a especulação. Precisamos levar ao metalúrgico, ao químico, ao vigilante, ao médico, ao empreendedor etc. a real dimensão do custo social dos juros altos. Precisamos somar forças no combate à política econômica do governo. Devemos exigir que o resultado do esforço da Nação seja distribuído igualmente entre os brasileiros.
O Estado é uma construção política e jurídica. O Estado brasileiro é democrático, de Direito e tem compromissos com a justiça social. Uma política econômica que concentre renda; pior, ainda, uma política que pune quem trabalha em benefício de quem só especula, é crime contra a Nação.
Ao protestar contra os juros altos, precisamos criar meios de ganhar o apoio da população para a nossa causa. O Brasil não pode ser exaurido pelo sistema financeiro, obrigando-se a repassar para o capital internacional nosso patrimônio, nossas estatais e agora nosso pré-sal.
É preciso também que o setor patronal esteja engajado nesta luta para reduzir os juros, baratear o setor produtivo e o Brasil voltar a distribuir renda. Não é justo deixar a responsabilidade somente para os trabalhadores.
José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região