MARCOS BURGHI
17 de março de 2011
Mais categorias profissionais conseguiram sair das mesas de negociação salarial com reajustes acima da inflação em 2010. Para 2011, ano com previsão de alta na inflação e nos juros, a expectativa também é de que grande parte dos trabalhadores obtenha ganho real, mas em menor escala.
Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que acompanhou 700 unidades de negociação, no ano passado 88,7% delas chegaram ao fim com acordos por reajustes acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que serve de base para as discussões. O porcentual é o melhor desde 1996, quando o levantamento teve início.
O economista Carlos Eduardo Oliveira, membro do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), acredita que os aumentos acima da inflação devem ser tendência também para 2011, mas os ganhos tendem a ser menores. Oliveira acredita que mesmo em um cenário de juros e inflação em alta e aperto no crédito, a previsão é de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) — soma dos bens e serviços produzidos no País — em 4,5%. “Não é a evolução que se viu em 2010, mas seria uma alta considerável, que levaria à valorização dos salários”.
Oliveira observa que o ritmo de criação de postos de trabalho também segue em alta. O saldo de novos empregos formais voltou a bater recorde em fevereiro e fechou o mês em 280,8 mil vagas, o melhor desempenho para o segundo mês do ano, segundo o Ministério do Trabalho. No primeiro bimestre, foram abertas 448,7 mil vagas. A meta do governo para este ano são três milhões de novos empregos formais. “A busca por mão de obra abre caminho para reajustes de salários”, diz o economista do Corecon.
Douglas Pinheiro, coordenador do curso de Administração e Economia das Faculdades Integradas Rio Branco, acredita que o crescimento menor em relação a 2010, quando o PIB avançou 7,5%, atingindo R$ 3,7 trilhões, será benéfico à economia, pois trata-se de um ritmo que pode ser adotado sem que haja problemas inflacionários.
“Creio que as negociações em 2011 vão resultar em aumentos acima da inflação, só não sei se na mesma proporção que em 2010”, afirma Pinheiro.
Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, diz que as perspectivas para os reajustes em 2011 “são boas”. Ele afirma que embora a previsão de aumento do PIB seja menor, a elevação de 4,5% está prevista sobre o valor de 2010, que cresceu 7,5%. “É diferente do que aconteceu no ano passado, quando o aumento do PIB teve como base um valor menor”, diz.
Torres se refere ao fato de que, em virtude da crise econômica internacional, o PIB brasileiro de 2009 foi de R$ 3,1 trilhões, valor 0,2% menor que o registrado em 2008. “Há falta de mão de obra, por isso as campanhas devem obter melhor resultado”, avalia.
Eliana Elias, supervisora técnica do Dieese, atribuiu o aumento do número de negociações salariais com reajustes acima da inflação ao aquecimento da economia. “Mesmo com um crescimento menor há espaço para aumentos reais também em 2011”, avalia. Segundo ela, pode haver reduções nos porcentuais, mas o cenário propício a aumentos reais irá continuar.
Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, também aposta na manutenção dos aumentos reais.
Fábio Pina, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), é mais comedido. “Crescimento menor significa menos espaço para reajustes muito acima da inflação”, afirma.
Pina não sabe se a marca de 95,3% de negociações com aumento acima da inflação atingida em 2010 pelo comércio se repetirá este ano. “Além do aspecto financeiro há os benefícios e este ano pode haver uma desaceleração no ritmo da economia”, diz.
O metalúrgico José Duarte, 56 anos, diz que o aumento de 2010 foi bom “porque recuperou as perdas da inflação e conseguimos um pouco mais”. Ele conta que por uma política de valorização da empresa, ainda recebeu aumento de 4% além do obtido pela categoria. Duarte se diz animado para 2011. Em sua opinião, o reajuste será melhor que em 2010.