Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Salário curto, jornada dobrada


Brasileiro troca horas de sono por mais trabalho

 

Fernando Nakagawa

 

Ricardo Gomes entrega pizzas em Fort Lauderdale, cidade praiana da Flórida, nos Estados Unidos. Até o ano passado, dormia oito horas por dia.

 

Mas, há alguns meses, com a piora da crise, as entregas diminuíram e o salário caiu 40%. Para tentar compensar, passou também a entregar comida chinesa e as horas de sono, como consequência, diminuíram pela metade.

 

Mesmo com mais serviço, o dinheiro no fim do mês não voltou ao patamar de antes. Por isso, teve de reduzir a remessa de dólares enviados mensalmente para a família em Goiás.

 

“O salário chegou a cair 40%. Mas, como temos dívidas no Brasil, Ricardo teve que conseguir um segundo emprego para, pelo menos, continuar pagando as contas”, lamenta a mulher do brasileiro, Lilian Urias Gomes.

 

Há seis anos, o casal vive longe um do outro. Ele na Flórida e ela, em Goiás.

 

O dinheiro enviado todo mês por Ricardo tem um único destino: as parcelas de dois apartamentos financiados em Goiânia.

 

GORJETA MENOR

 

Como entregador, Ricardo recebe 10% do valor de todos os pedidos. Mas, se ninguém pedir pizza em uma noite, volta para casa sem nenhum centavo no bolso, porque não há pagamento mínimo. Também há as gorjetas, que, no entanto, dependem das entregas e da disposição dos fregueses.

 

Antes da crise, Lilian conta que era muito comum seu marido ganhar até US$ 5 dos clientes. “Agora, parece que os americanos aprenderam com os brasileiros. Quando dão gorjeta, é apenas US$ 1 ou, no máximo, US$ 2´´, acrescenta, bem humorada.

 

Para o casal, porém, os milhares de quilômetros de distância que o separam, podem estar chegando ao fim.

 

A última parcela do financiamento dos apartamentos deve ser paga nos próximos dias, e Ricardo Gomes pretende voltar ao Brasil em junho.

 

Para comemorar, o casal planeja um bom churrasco brasileiro. Pizzas e comida chinesa, nem pensar.