Guilherme Manechini, de São Paulo
A fabricante brasileira de autopeças Sabó iniciou a produção em sua primeira unidade na China. Com investimentos de 7 milhões de euros e capacidade para fabricar 200 mil peças por mês, a empresa vai atender a seis projetos da Volkswagen no país asiático. A princípio, não há previsão de que a produção da China seja exportada para o Brasil.
Até começar a fabricar as primeiras peças, há duas semanas, foram quatro anos entre estudos e cumprimentos de burocracias exigidas pelas autoridades chinesas. Só então foi dado o sinal verde para o funcionamento da unidade. E apesar da percepção de que quem vai à China busca reduzir os custos de produção, a Sabó diz não ser essa a sua intenção. De acordo com Luis Gonzalo Guardia Souto, diretor-geral da Sabó para a América do Sul, o principal motivo para a empresa desembarcar na China foi o contrato com a Volks, e não os custos baixos.
“Há dois anos temos um contrato de intenção com Volkswagen”, conta Souto, ao frisar que a empresa não pretende substituir a produção de alguma outra unidade pela da China. A Sabó possui fábricas na Europa, Estados Unidos e Argentina, além de escritórios comerciais no Japão e na Austrália.
Para ingressar no mercado chinês, a fabricante brasileira teve de usar a imaginação. O primeiro passo foi contratar um executivo local que fosse fluente em alemão. O profissional escolhido tinha de conhecer os caminhos para uma empresa estrangeira se instalar na China e ao mesmo tempo fazer a ponte com os executivos da Volks e da Kaco, empresa alemã controlada pela Sabó. Depois, veio o contrato com a montadora alemã e a partir daí a instalação da fábrica.
O investimento foi dividido em duas etapas: 5 milhões de euros até 2010 e os 2 milhões de euros restantes até 2013. Os recursos foram financiados por bancos austríacos e alemães.
Outra curiosidade sobre a Sabó na China é que a empresa não teve de arrumar um parceiro local para poder construir uma fábrica. “Já faz um tempo que não existe a obrigatoriedade de um sócio chinês, mas por outro lado o processo como um todo fica muito mais burocrático”, diz Souto, apontando este como um dos fatores que fizeram a companhia aguardar quatro anos para começar a produzir na China.
Atualmente, 40 funcionários trabalham na fábrica da Sabó na China, que ocupa uma área de 3 mil metros quadrados no distrito de Tongzhou, em Beijing. As peças fornecidas à Volks são utilizadas nas transmissões dos veículos. A especialidade da Sabó é a fabricação de sistemas de vedação, com itens como juntas para motores, mangueiras e retentores. No Brasil, a companhia possui duas fábricas, emprega 3.415 funcionários e produz mais de 500 mil peças por dia.
Antes de entrar no mercado chinês, a única operação da Sabó na Ásia era um centro técnico e comercial no Japão. Segundo Souto, a empresa decidiu ir para lá há dois anos com o objetivo de se aproximar das montadoras japonesas. “É lá que são tomadas as decisões e os fornecedores são homologados”, explicou.
Questionado sobre os impactos da crise americana no Brasil e nos demais países em que a Sabó está presente, o executivo diz acreditar que a empresa está bem posicionada. “Até o momento o mercado nacional está resistindo”. Já em relação aos outros mercados, em especial ao dos Estados Unidos, Souto acrescentou que o foco da Sabó são os veículos pequenos, que tendem a ser mais procurados com o ajuste das economias.