Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Ritmo da construção preocupa indústria

A festejada retomada da construção civil -a mais forte e duradoura dos últimos 25 anos- começa a dar lugar a uma preocupação na indústria de material de construção. A demanda pode ocupar rapidamente a capacidade ainda disponível e seguir mais veloz do que o tempo necessário para expansões. A associação dos fabricantes de material de construção estima em 85% a ocupação atual, alta, segundo sua própria avaliação.

A indústria do cimento é obrigada hoje a operar num ritmo 14% superior em relação ao mesmo período do ano passado e torce para que não passe disso. A indústria do aço prevê expansão de 12,5% do mercado interno, mas projeta aumento de só 7,5% na produção em 2008. Já o conjunto da indústria de material de construção, que reúne do básico ao acabamento, revisou de 12% para 18% o crescimento do faturamento em 2008, o que projeta receita inédita de R$ 92,4 bilhões no ano.

“Diria que é um crescimento ainda com viés de alta, pode ser maior do que isso. O ritmo, de fato, já nos preocupa”, afirma Melvyn Fox, presidente da Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção).

Símbolo da construção, a demanda por cimento fechou o mês de julho com compras de 4,88 milhões de toneladas em todo o país, volume que projeta demanda de 58,56 milhões de toneladas em 12 meses.

O forte crescimento no último ano elevou a ocupação das 65 fábricas espalhadas pelo território nacional a um preocupante nível, a apenas 4,5 milhões de toneladas do limite final da indústria, ou seja, um espaço de 7%. De acordo com José Otávio Carvalho, secretário-executivo do SNIC (Sindicado Nacional da Indústria do Cimento), entre o pico e a baixa demanda, a indústria sempre tem uma folga de 15%.

Desde o ano passado, quando a demanda pegou o setor despreparado -e houve problema no abastecimento na região Centro-Oeste do país-, unidades e fornos parados foram reativados, e um ambicioso pacote de investimentos foi anunciado pela indústria. Até 2012, a capacidade pode ser incrementada em mais 30 milhões de toneladas, o que ampliará o limite de produção para 93 milhões de toneladas por ano. A questão é que uma fábrica de cimento, entre a decisão de construir e a primeira produção, pode durar no mínimo três anos.

O setor prefere a palavra esforço do que garantias de que não faltará produto nos próximos anos. “Não há como dar garantia de que não vai faltar. O que dissemos é que a indústria está tomando providência”, diz Carvalho. O ritmo do crescimento pode surpreender ainda mais e suplantar a velocidade de entrada de novas unidades produtoras, como no aço.

Nas siderúrgicas, o problema, segundo o IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia), é a demanda não prevista. “O que falta é previsibilidade. A produção de aço requer previsões antecipadas, e isso deve ser observado pelas construtoras. É preciso planejamento”, diz Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente do IBS.

Ao contrário da indústria de cimento, o setor deu garantias ao governo de que não haverá falta de aço. Segundo Lopes, a demanda interna atinge hoje 60% da capacidade da siderurgia, o restante é exportado. O recente crescimento da demanda interna levou a indústria a reduzir as exportações e colocar no mercado local os volumes vendidos no exterior.

Além disso, a siderurgia anunciou a ampliação da capacidade, dos atuais 41 milhões de toneladas para 66,7 milhões de toneladas. Parte disso vai abastecer o mercado da construção civil, que cresce hoje a ritmo chinês, 12%.

A nova capacidade foi anunciada por siderúrgicas já instaladas e por novas. Nesse número, não estão contabilizados empreendimentos em fase de estudo para depois de 2010, que podem agregar mais 16,5 milhões de toneladas e elevar o parque siderúrgico nacional a 83,2 milhões de toneladas, o dobro do tamanho atual.

Satisfeita com o maior ciclo de expansão do mercado da construção civil das últimas duas décadas, a indústria fabricante de material lançou um alerta: “Estamos no limite. Se crescermos mais, vamos ter problemas”.

A Abramat espera a redução do ritmo de encomendas a partir deste mês, para o fechamento do ano com crescimento de 18%. De janeiro a julho deste ano, a receita do setor cresceu ao ritmo de 30,9% em relação a igual período de 2007. “A partir de agora, a tendência é de redução desse patamar. Isso porque a base de comparação já é muito maior do que foi até agora”, explica Fox, da Abramat.

Segundo ele, os investimentos industriais já anunciados asseguram o atendimento do mercado brasileiro ante o crescimento de 18%. Nesse caso, a indústria fechará o ano com uma taxa de ocupação de 85%. Para 2009, a previsão é de crescimento de 12%. “Qualquer coisa fora dessas expansões pode afetar o abastecimento do mercado”, pondera.