Defendemos a necessidade de uma reforma política em nosso país. Ela é justa e necessária. Há muitos e muitos anos fala-se na propalada reforma política. Mas, ao que tudo indica, nenhum governante teve coragem para bancá-la. Desta vez foi o Congresso quem decidiu tocar em frente. Mas não podemos aceitar do jeito que os dirigentes estão fazendo, jogando nas costas do povo uma estranha figura, assustadora, uma aberração. Um verdadeiro monstro. O foco da discussão incide sobre a mudança no sistema eleitoral.
A reforma política proposta pelo Congresso, ao invés de melhorar o cenário, tornará pior ainda a situação que estamos vivendo. O Congresso elaborou uma listagem fechada, onde os atuais deputados têm prioridade. O presidente de cada partido político é quem vai escalar o time, é ele quem decide quem joga e em que posição, além do tempo que quiser.
Como a renovação no Congresso já não é grande, com esta reforma, ela será pior ainda. O povo não vai votar em seus candidatos. Vai ficar à margem do processo, como um cidadão de segunda classe, um desclassificado.
Mas na hora de pagar a conta sim, ele estará presente. Isso porque o financiamento público de campanha está em gestação. Todos nós, cidadãos brasileiros, teremos de pagar a conta de campanha dos políticos. Pagaremos a conta, mas não fomos previamente consultados. Não podemos nem ser contra, porque tudo já está decidido pelos donos do poder. São um grupo como aqueles antigos sábios que se isolavam em uma montanha e decidiam tudo baseados em seus princípios e convicções, pouco se importando com a opinião dos outros. Julgam-se acima de tudo e de todos.
Vamos pagar as campanhas dos políticos, mas infelizmente não vamos votar. Não teremos o direito de escolher nossos representantes porque a lista virá fechada, ao gosto dos presidentes dos partidos. Votaremos em siglas, nos partidos. De agora em diante, esqueçam os candidatos porque vamos pagar as campanhas, mas não teremos o direito de escolher em quem votar. Nem em vereador, em deputado estadual ou federal. Isso porque será implantado o sistema de listas partidárias.
Esta reforma política em gestação no Congresso tira, portanto, o direito sagrado de votar, ao fazer com que o eleitor vote em partidos e não mais em candidatos. O certo seria implantar o voto distrital misto.
Em outras palavras, a reforma política fará com que o Congresso tire o dinheiro de nosso bolso, mas também leva o direito de escolhermos nossos representantes. Concordamos apenas com um ponto desta reforma, a questão da fidelidade partidária. O parlamentar que largar o partido que o eleger será substituído pelo primeiro suplente, e o infiel perderá o assento.
Mas, infelizmente, não haverá mais renovação no Congresso. Seus ocupantes serão sempre os mesmos. Não haverá lugar para pessoas com novas idéias, com propostas interessantes, inovadoras e criativas. Isso porque os presidentes dos partidos vão se fechar neles mesmos, não permitindo que outras pessoas entrem para melhorar o ambiente. Renovação nunca mais.