Financial Times/Valor – Escrito por John Reed e Peggy Hollinger
A principal central sindical dos funcionários da Renault convocou greve de 24 horas para amanhã, após a montadora ter apresentado palno para cortar cerca de 6 mil empregos na Europa, a maior parte na França. A CGT fez a convocação depois de a direção da Renault reunir-se com o conselho de trabalho da central sindical para discutir o plano de reestruturação da empresa francesa. A organização também convocou outros sindicatos para se juntarem à greve contra as operações da montadora na França.
A central é a maior da Renault e é vista como de linha dura. No entanto, mesmo a CFDT, mais moderada, condenou o plano de corte de postos de trabalho e seu líder, François Chereque, acusou a Renault de fazer os funcionários pagarem pelos “erros estratégicos” da própria empresa.
A montadora cortará 3 mil empregos da área de serviços na Europa, a maioria na França, e outros 1 mil em sua fábrica em Sandouville, que produz o modelo Laguna e reduzirá o número de turnos de dois para um.
O Laguna, de médio porte, voltado ao público de alto padrão, apresentado pelo executivo-chefe da empresa, Carlos Ghosn, como um veículo-chave em sua reformulação, vem registrando vendas abaixo das previsões em mercados complicados.
A fábrica deveria produzir o substituto da minivan Espace, projeto agora engavetado porque os consumidores passaram a dar preferência a veículos menores. A Renault cortará mais 900 empregos em subsidiárias na França e 1,1 mil em outros países europeus. De acordo com a montadora, os cerca de 4 mil cortes, programados no total na França, serão voluntários, como requer a lei do país.
A convocação da greve chega em meio ao crescimento do sentimento de pessimismo na França com o declínio do poder de compra e os receios de volta dos altos índices de desemprego, na esteira da desaceleração da economia.
A Renault é uma das maiores empregadoras e exportadoras industriais da França.
Ontem, enquanto a greve era convocada, a Renault divulgava os detalhes de seu novo Mégane, um dos carros mais vendidos da Europa, a ser revelado na próxima feira automotiva de Paris.
Em julho, a Renault reduziu em 10% sua meta de vendas em 2009, para 3 milhões de unidades, afetada pela demanda em desaceleração na França e Europa Ocidental. Manteve, entretanto, o objetivo de alcançar margem de lucro operacional de 6% no próximo ano. Para isso, terá de cortar os empregos.
As vendas de carros de passageiro na França encolheram 7,1% em agosto e ainda mais em outros grandes países a Europa Ocidental. A montadora francesa investe para construir fábricas e aumentar a participação de mercado em países de baixo custo e alto crescimento econômico, como Rússia e Marrocos.
O governo da França está determinado a impedir que grandes empresas como a Renault transfiram operações para o exterior. Em entrevista a rádio, ontem, o ministro da Indústria do país, Luc Chatel, disse que os empregadores precisam “ser sensíveis ao fator emprego”. Afirmou ainda que o governo “chamará para prestar contas”às empresas que realocarem setores tradicionais no exterior.