Criação de vagas vai crescer lentamente ou até recuar, mas não na intensidade do último trimestre de 2008
Marcelo Rehder
A abertura de postos de trabalho com carteira assinada no País deve voltar a perder fôlego e até cair nos próximos meses, porém com menor intensidade do que no último trimestre de 2008, preveem os economistas. “Com a continuidade da desaceleração, principalmente em investimentos e exportações, vamos ver o aumento do desemprego passar da classe média para as classes mais baixas também”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.
Segundo ele, mesmo que vejamos números positivos no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) dos próximos meses, o que considera provável, eles deverão ser baixos e nada que indique que o mercado de trabalho tenha saído da crise. “Melhora efetiva só em 2010, e tudo dando certo lá fora e aqui dentro”, diz Vale.
“O resultado de fevereiro foi muito ruim. Até agora, não ocorreram fatos para comemorar, o que não significa que não venham a ocorrer no futuro”, afirma Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Para ele, isso fica claro quando se comparam os 9,2 mil empregos formais que foram criados no mês passado com os resultados de iguais períodos dos últimos três anos, em que o saldo positivo nos meses de fevereiro variou de 150 mil a 205 mil novos postos de trabalho.
“Que grande recuperação, né?”, ironizou o empresário. Ele lembra que o aumento do emprego formal em fevereiro só foi obtido graças às vagas criadas pelo setor de serviços. Como se sabe, os salários nos serviços são bem inferiores aos de outros setores de atividade, como a indústria.
Francini pondera que a tendência é de que não se repita nos próximos quatro meses uma perda de postos semelhante à ocorrida desde novembro do ano passado. Nesse período foram fechadas mais 788 mil vagas. “Acho que a parte mais inclinada da descida nós já percorremos. Agora vamos percorrer uma parte da descida que é menos inclinada. Aliás, o que o é fundamental para se chegar na estabilidade e começar a crescer de novo”.
FUNDO DO POÇO
“Não me parece que a situação está melhor”, opina Sergio Vale, da MB. “Apenas que atingimos um fundo do poço e nos mantemos nele.” Ele não acredita que o processo de perda de empregos esteja estancado.
Para Fábio Romão, economista da LCA Consultores ,setorialmente ainda haverá demissões , principalmente na indústria. “Mas, obviamente, não na magnitude a que assistimos nos últimos cinco meses.” As empresas do setor fecharam 83 mil postos em novembro de 2008 e mais 277 mil em dezembro. Neste ano, foram eliminadas 55 mil vagas janeiro e outras 56 mil em fevereiro.
“Acredito que a indústria ainda vai mostrar fechamento de postos nos próximos meses. Mas, pensando no saldo do Caged como um todo, acredito que o pior possa ter passado”, afirma o economista. Tanto é que o numero de fevereiro mostrou um saldo liquido positivo de 9 mil postos. “Nossa projeção era de mais 6 mil postos, portanto o resultado veio próximo do que a gente imaginava.”
Para o ano, a LCA projeta criação de 790 mil empregos formais, praticamente a metade das 1,452 milhão de vagas que foram abertas em 2008.