Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Recuperação branda da atividade abre espaço para Selic abaixo de 10%

Valor Econômico

Por Sergio Lamucci

De São Paulo

O pior momento da atividade econômica ficou para trás e desde novembro está em curso uma recuperação, mas a uma velocidade ainda moderada, não sendo um obstáculo à queda da taxa Selic abaixo de 10% ao ano, acreditam vários analistas. Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada ontem, o Banco Central deixou claro que pretende reduzir os juros para a casa de um dígito. Um ponto importante para explicar a atividade contida é que uma parte razoável da indústria ainda precisa ajustar estoques, ao mesmo tempo em que o efeito do ciclo de corte dos juros iniciado em agosto levará alguns meses para ser sentido com mais força.

Para o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, o fundo do poço para a economia ocorreu em setembro e outubro de 2011. Nos últimos dois meses do ano passado, já houve uma retomada mais forte do crescimento, diz ele. Em novembro, o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), que tenta antecipar a tendência do Produto Interno Bruto (PIB), cresceu 1,1% sobre o mês anterior, feito o ajuste sazonal. Para dezembro, Borges espera um avanço de mais 0,5%, amparado principalmente na expectativa de alta de 1% da produção industrial.

A questão é que esse ritmo, tudo indica, não se manteve no começo deste ano, diz ele. Estimativas preliminares da LCA apontam para uma alta de 0,1% do IBC-Br em janeiro. Um dos problemas é que uma parte da indústria virou o ano com estoques ainda elevados. Até que eles sejam ajustados, a produção deve demorar para engrenar. Borges acredita que houve um crescimento muito modesto das vendas do varejo ampliado (que inclui automóveis, autopeças e material de construção) em dezembro, de 0,1% a 0,2%. “A venda de carros foi fraca no último mês de 2011. Em janeiro, parece ter melhorado um pouco”, afirma ele, lembrando que o Natal não foi dos melhores para o varejo. “Esse cenário para a atividade é compatível com um juro caindo até 9,5% ao ano”, diz ele. Hoje, está em 10,5%.

O economista-chefe do HSBC, André Loes, também diz que a atividade está em recuperação. No primeiro trimestre, porém, a retomada ainda será modesta, avalia ele. Para Loes, a atividade deve “pegar no tranco” no segundo trimestre, ganhando mais força especialmente a partir de julho. “No segundo semestre, a economia estará crescendo bem.” Nesse período, o impacto da queda dos juros será mais intenso, por exemplo.

Loes vê a Selic recuando até 9% ao ano. “A atividade não parece um limitador para o corte dos juros, embora o BC sempre esteja olhando mais à frente. ” Ele estima que a inflação deve ficar em 5,4% neste ano, abaixo dos 6,5% do ano passado, mas acima do centro da meta, de 4,5%. A queda dos juros até 9% e a perspectiva de que o governo não deve fazer uma política fiscal restritiva como em 2011 devem fazer com que a inflação não convirja para perto dos 4,5%, acredita ele. Segundo Loes, isso pode fazer com que os juros tenham que voltar a subir, talvez no começo de 2013.

O economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, também acredita que a atividade não vai impedir a queda dos juros abaixo de 10%. A retomada ainda não é exagerada, diz ele, embora destaque alguns pontos que podem “cobrar seu preço” mais tarde em termos de inflação mais alta. O mercado de trabalho segue aquecido, como mostra a baixíssima taxa de desemprego de 2011, e a demanda deve continuar a crescer à frente da oferta. O consumo das famílias deve se beneficiar do impulso do corte dos juros, do relaxamento das medidas de restrição ao crédito e das desonerações tributárias para eletrodomésticos da linha branca, enquanto a indústria tem perspectivas difíceis, especialmente nos setores expostos à forte concorrência dos importados, observa ele, que vê uma Selic de 9,5%.

Na ata, o Copom pareceu contraditório ao falar da atividade. Num trecho, avalia “como decrescentes os riscos da persistência do descompasso, entre segmentos específicos, entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda”. Em outro, diz que “a demanda doméstica ainda se apresenta robusta, especialmente o consumo das famílias, em grande parte devido aos efeitos dos fatores de estímulo, como o crescimento da renda e da expansão do crédito”. Borges acredita que a contradição é apenas aparente. “Para mim, o BC quis dizer que conjunturalmente a atividade se enfraqueceu, mas que não há motivos nos fundamentos da economia que impeçam a retomada daqui para frente.”