Por José Pereira dos Santos
“O Brasil passou rapidamente de rural a urbano. Em poucas décadas, o campo se esvaziou e as cidades se encheram de gente. Nas metrópoles, a expansão rápida e descontrolada amontoou pessoas em favelas, em periferias distantes, sem infraestrutura, sem serviços e sem Estado.
Essa urbanização selvagem tem sua face visível no esgoto a céu aberto, no casario amontoado e quase sempre inacabado, nas ruas sem asfalto, na sujeira, na falta de iluminação, na ausência de policiamento, escolas e postos médicos. É o que Caetano Veloso diz em uma de suas canções: “Não é construção e já é ruína”.
Mas essa urbanização acelerada não trouxe só mudança na paisagem. O interiorano transferido de seu chão para o território urbano viu-se também desprovido de sua cultura. O conjunto de valores e crenças cultivado em seu local de origem, onde tinha função social e prática, aqui pouco lhe servia, pois na cidade grande a urgência da sobrevivência requeria outros valores, outra cultura.
Essa mudança – rápida, forçada e desassistida – está na base da violência atual. Até porque esse povo todo teve de se virar por conta própria. Não houve (desde a ditadura) ações efetivas de apoio, assistência, orientação e educação.
Ao contrário. No processo selvagem de urbanização, a Educação foi relegada a segundo plano. E os meios de comunicação de massa ajudaram a deseducar e a desagregar, engrossando o caldo de cultura para a violência, a corrupção e todo tipo de degeneração.
O Brasil avançou em muitos setores. Mas não conseguimos um padrão mínimo de segurança. Pelo contrário. Passamos a considerar natural a violência do crime organizado e do próprio Estado, incluindo os abusos de setores da Polícia.
Manifestações – A violência muitas vezes está imersa e só espera a hora de levantar a cabeça. Não estranha, portanto, que ela surja nas manifestações de rua, onde grupelhos e policiais se enfrentam, às vezes com mortes, como a do cinegrafista da TV Bandeirantes.
O Estado, agora, vem e propõe uma lei que endureça a repressão aos manifestantes violentos, como se já não fôssemos um País onde o cidadão tropeça em leis. Assim, o Estado, que é ocupado pela classe dominante desde as Capitanias Hereditárias, lança mão, mais uma vez, de um recurso autoritário e ineficaz.
Não estranha que amplos setores da mídia retratem de forma histérica a violência. Até porque essa grande mídia é um dos braços operacionais do sistema desumano que insiste em dar as cartas, eximindo-se de responsabilidade e colocando culpa nos outros, muitas vezes tentando iludir a sociedade. Como, aliás, ocorre no caso do porto construído em Cuba com dinheiro do povo brasileiro. A oposição e a mídia tentaram desviar o foco dos milhões de Reais gastos no porto de Cuba, enquanto nossos portos estão todos falidos. Em vez disso, preferiram criticar o dinheiro gasto pela presidente Dilma e sua equipe em hotel e jantar em Portugal.
Eu, como todos os que amam a Pátria, quero um País pacífico. Entendo que, para isso, precisamos travar um debate racional. Leis que tentam atiçar o linchamento em nada vão ajudar. O governo precisa recuar dessa iniciativa, porque ela significa retrocesso institucional perigoso e inaceitável”.
José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
E-mail: pereira@metalurgico.org.br
Blog: www.pereirametalurgico.blogspot.com