Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Produtividade poderia crescer 25% com mais igualdade entre sexos, avalia Bird

Valor Econômico

Sergio Leo

De Brasília

Apesar de avanços notáveis nos últimos anos na redução das desigualdades entre homens e mulheres, no mercado de trabalho e no acesso à saúde e educação, persiste grande distância em termos de salários e produtividade, quando comparados trabalhadores e patrões do sexo feminino e masculino.

Com base nessa constatação, o Relatório de Desenvolvimento Mundial de 2012, divulgado pelo Banco Mundial (Bird) indica que, se fosse eliminada a brecha entre homens e mulheres, o produto agrícola mundial cresceria entre 2% e 4,5% e a produtividade nos países cresceria no mínimo 3% ou até 25%, dependendo do país.

O Brasil é um dos países com mais destaque no relatório. É citado cerca de 40 vezes, 10 delas como exemplo negativo e 20 como bom exemplo de iniciativas ou apoio à redução da desigualdade entre os gêneros. No capítulo sobre como as tecnologias de comunicação e informação podem ajudar a reduzir a discriminação contra mulheres, o relatório cita estudos segundo os quais as novelas da TV Globo ajudaram a reduzir a taxa de fertilidade. O efeito das novelas, diz o relatório, “é significativo”: equivale ao aumento de um médico por mil habitantes, ou de dois anos de educação formal.

O exemplo brasileiro também é citado para alertar para o perigo das generalizações nas análises. A situação das mulheres. não é homogênea, como mostram os movimentos em defesa dos direitos das empregadas domésticas no Brasil, cita o Banco Mundial.

O relatório contém a óbvia demonstração de que, em regiões mais atrasadas do mundo, é maior a disparidade de oportunidades entre os gêneros, mas aponta também para conclusões como a de que, apesar da redução do hiato educacional entre homens e mulheres – particularmente acelerado nos últimos anos em países em desenvolvimento da América Latina -, as mulheres têm continuado a receber salários mais baixos, mostrar menor produtividade e ser menos eficientes quando no comando de empresas.

Segundo o relatório, o valor agregado por trabalhador, na Europa e Ásia Central, é 34% menor em firmas controladas por mulheres que em empresas administradas por homens. Na América Latina, o percentual é de 35%, e fica entre 6% e 8% na África Subsaariana. “Companhias em que mulheres são as proprietárias também têm desempenho menos favorável que firmas de propriedade masculina em outras dimensões”, nota o relatório. “Elas tendem a ser menos lucrativas e gerar vendas menores”, além de ter menores probabilidades de sobrevivência, relata o Banco Mundial.

O relatório mostra que as diferenças de capital humano (como níveis educacionais) explicam apenas parte da persistente desigualdade de produtividade e remuneração entre os gêneros – em alguns países, até dificulta encontrar explicação, já que as mulheres passaram a ser maioria entre os de melhor nível educacional.

Reduzir o hiato educacional não será suficiente para melhorar a situação das mulheres, porque a desigualdade continua em outros fatores, como responsabilidades na família e acesso a empregos e posições de mando em certos setores.

A constatação estatística de que, na média, empresas com mulheres no comando têm pior desempenho que as dirigidas por homens podem ser explicadas por fatores como a concentração de mulheres em postos de mando em setores de menor produtividade e tamanho, com menos acesso a recursos produtivos e menor uso desses recursos.

“As evidências mostram que mulheres têm a mesma produtividade que homens quando têm acesso aos mesmos recursos”, afirma o Banco Mundial. O documento aponta exemplos de medidas capazes de reduzir as disparidades, como a iniciativa de garantir créditos a empresas de propriedade feminina na África, por parte da Corporação de Finanças Internacional, braço do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o setor privado.

“Em um mundo globalizado, pequenas mudanças podem levar a grandes vantagens competitivas”, disse a co-diretora do Banco Mundial para o relatório de Desenvolvimento, Ana Revenga, ao defender a adoção de políticas para reduzir o hiato entre homens e mulheres no mercado de trabalho.

A eliminação das diferenças no acesso a oportunidades econômicas e dos hiatos de produtividade e remuneração entre homens e mulheres devem ser complementadas por medidas que reduzam a mortalidade e desigualdade na educação de mulheres, o que ainda ocorre principalmente em países da África Subsaariana, e a adoção de programas para reduzir a diferença de gênero na família e na sociedade, como a garantia de creches.

Uma dessas medidas, elogiada no estudo, é a decisão de conceder à mulher o dinheiro dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, no Brasil. Embora no México esse tipo de medida tenha levado ao aumento da violência doméstica, ele, em geral, leva ao aumento do poder de barganha da mulher no lar, favorecendo a uma mudança no papel das donas de casa.