Em relação a dezembro, houve aumento de 92,7%, mas montadoras ainda amargam queda de 27,1% ante igual mês de 2008
Para fevereiro, previsão da associação do setor é que a média diária de produção seja de 10,8 mil veículos, 21,4% acima da de janeiro
TATIANA RESENDE – DA REDAÇÃO
A produção da indústria automobilística começa a se recuperar do baque sofrido em dezembro. Em janeiro, foram fabricados 186,1 mil veículos no país, 92,7% a mais do que no mês anterior, mas ainda num patamar inferior (-27,1%) ao do mesmo período em 2008.
Considerando a média diária entre esses meses, a queda chegou a 23,6%. Segundo a Anfavea (associação das montadoras), em janeiro a média diária ficou em 8.863 unidades. A entidade preferiu não fazer projeções para o ano, mas adiantou a previsão para este mês -baseada nos dados da primeira semana-, quando devem ser fabricados 21,4% veículos a mais por dia útil (10.800 unidades).
Em vendas, houve aumento de 1,5% na comparação de janeiro (197,5 mil veículos) com dezembro, com destaque para o licenciamento de automóveis (5,2%), impulsionado pela redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) anunciada em 11 de dezembro e válida até março. No confronto com o mesmo mês de 2008, houve diminuição de 8,1% no emplacamento de veículos e de 6,7% no de carros. Para este mês, que tem 19 dias úteis, é esperada uma média diária de 9.800 unidades, 4,3% acima da de janeiro, que teve 21 dias.
Questionado sobre uma possível pressão das montadoras para prorrogar a vigência da redução nas alíquotas do imposto, Jackson Schneider, presidente da Anfavea, disse que “é cedo para fazer esse tipo de ponderação com o governo”.
Para Luiz Carlos Mello, diretor do Centro de Estudos Automotivos e ex-presidente da Ford no país, a indústria automobilística já devia iniciar as conversas com o governo federal pedindo essa prorrogação. “No Brasil, há demanda reprimida, diferentemente de outros países, como Estados Unidos, Japão e Europa, onde o mercado está maduro”, afirma, citando locais onde considera que a crise internacional vai afetar mais esse mercado.
Sobre a falta de alguns modelos nas concessionárias de São Paulo, Schneider argumentou que “não houve pessimismo exagerado” da indústria com o corte brusco na produção em dezembro. “A redução do IPI foi anunciada após muitas montadoras já terem concedido férias coletivas”, afirmou, ressaltando ainda que o problema atingiu modelos ou características específicas, como a cor desejada pelo cliente.
O setor encerrou o mês passado com 193.384 veículos em estoque, suficiente para abastecer o mercado por 31 dias. Em dezembro, com o ritmo de vendas mais lento, eram 36. Para Schneider, 27 dias são um período normal.
Apesar da isenção de IPI também para caminhões, concedida pelo governo federal no dia 18 de dezembro após pressão de fabricantes e transportadoras de cargas, as vendas desse segmento tiveram retração de 23,9% em relação a dezembro e de 20,7% ante janeiro de 2008. Uma das explicações, segundo Mello, é que boa parte da frota foi renovada no ano passado, o que diminui a demanda neste ano em meio à crise.
As exportações de veículos caíram quase pela metade no confronto com dezembro, atingindo US$ 350,6 milhões em valor (-43,5%) e 22.600 unidades (-48,1%). No caminho inverso, cresce a participação dos importados nas vendas, representando 19,6% dos licenciamentos no mês passado, contra 16% em dezembro e 13,9% em setembro. Na avaliação de Schneider, essa expansão, mesmo após o agravamento da crise e a elevação do dólar ante o real, pode ser justificada pelos estoques, mas admite que “temos que ficar atentos”.
Em janeiro, o número de empregados nas montadoras teve a terceira queda consecutiva, com o fechamento de 1.858 vagas. Nos três últimos meses, foram 5.458 postos, incluindo os contratos temporários. Com a melhoria da produtividade, ponderou Mello, parte desses empregos não será recuperada mesmo que as vendas voltem ao patamar pré-crise.