Em reunião ministerial, presidente diz que crise eliminou pressão inflacionária
Para ministros, Lula quis dar recado ao BC para que reduza os juros; governo fará campanha “antipânico” para incentivar o consumo
SIMONE IGLESIAS
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em reunião ministerial ontem na Granja do Torto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a prioridade do governo deixou de ser a inflação e passou a ser o crescimento da economia -numa inflexão importante na equipe econômica e assumida para os ministros pela primeira vez.
Lula pediu à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) um PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) 2 para explorar o petróleo do pré-sal e fazer as obras para a Copa do Mundo de 2014, que será no Brasil. “Dilma, você que é a mãe do PAC, prepare um plano de continuidade”, disse Lula, segundo relato de ministros à Folha.
Segundo os presentes, Lula foi claro: disse que não há mais pressão inflacionária por conta de excesso de demanda no Brasil devido aos efeitos da crise internacional. “A crise já acabou com o risco de excesso de demanda para nós. Agora é estimular o crescimento”, afirmou, sempre de acordo com relatos obtidos pela Folha.
Os ministros entenderam como um recado explícito do presidente ao Banco Central de que deseja queda dos juros básicos (taxa Selic), hoje em 13,75% ao ano. O presidente do BC, Henrique Meirelles, estava presente. O órgão sempre usa a preocupação com a demanda interna como forma de justificar os juros altos.
Para estimular o crescimento em 2009, Lula determinou que os ministros invistam ao máximo os recursos das pastas em programas e obras e insistiu que os brasileiros precisam comprar para manter a economia aquecida e evitar o desemprego. Afirmou que eventuais cortes devem ser feitos no custeio, e não em investimentos. “Se tiver espaço para cortar, vem falar comigo. Quero corte no custeio, na despesa corrente, não no investimento.”
Grosso modo, os gastos de custeio são de manutenção da máquina. No entanto, entram nessa rubrica verbas para manutenção de hospitais e estradas. Investimentos são todos os gastos em obras novas.
“Foi uma reunião para que os ministros pudessem conhecer o chão em que estão pisando. Na área de consumo e gastos correntes, sempre faremos o máximo de economia e os ministérios já estão contingenciados. Mas não em investimentos e obras prioritárias do PAC. Vamos manter o Brasil como um grande canteiro de obras”, disse o ministro Guido Mantega (Fazenda) ao relatar comentários do presidente.
Segundo Lula, o Brasil crescerá menos em 2009 em comparação a este ano, mas é possível buscar crescimento mesmo que com “alguns arranhões”.
O governo avaliou que o lançamento do PAC e de programas sociais como o Bolsa Família, apesar de criticados, foram fundamentais para impedir que o país fosse afetado, porque possibilitaram mercado consumidor dinâmico.
Segundo Mantega, o Brasil não enfrentará recessão, como EUA, União Européia e Japão, e, no máximo, terá uma desaceleração no crescimento, mas com taxas positivas.
“Vamos manter os projetos do PAC criando condições para estimular investimentos privados. Se necessário, vamos reduzir tributos e, nisso, temos arsenal de medidas a serem feitas”, afirmou o ministro.
Campanha
Enquanto acena com possível redução de tributos e se esquiva de falar em diminuição dos juros, o governo dará aos brasileiros, por meio de campanha institucional, a receita para enfrentar a crise.
Com o slogan “O mundo confia no Brasil e o Brasil confia nos brasileiros”, será lançada em 10 de dezembro uma campanha “antipânico” de rádio, TV, jornal e internet estimulando o consumo.
Na reunião, Mantega mostrou ao presidente e ministros dados preliminares do BC que serão divulgados hoje, os quais apontam melhora na liberação de crédito pelos bancos públicos e privados em novembro, em comparação ao auge da crise, no mês passado. Apesar do crescimento, Mantega comentou que ainda não se está no ponto ideal ou satisfatório.
“Parte do comércio ainda está comprometida com falta de crédito. A oferta está em cerca de 80% do que era antes de a crise se tornar aguda”, afirmou.
Ao explicar aos ministros o momento da economia, Mantega enfatizou que “a crise mundial está se transformando de uma crise financeira para uma crise da economia como um todo”. Mas minimizou os efeitos na economia brasileira.
O ministro disse que o presidente Lula também manifestou preocupação com o que chamou de “vácuo de poder” nos EUA até que o presidente eleito, Barack Obama, assuma a Presidência, em 20 de janeiro, pois vê o governo de George W. Bush “enfraquecido”.