Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Principais notícias de hoje do Valor Econômico

Na indústria, emprego e renda ainda subiram em setembro

Agência Brasil, do Rio

O nível de emprego na indústria ficou praticamente estável na passagem de agosto para setembro, com variação de 0,1% . Em agosto, o setor havia verificado leve retração no número de empregos de 0,1% em relação a julho. Na comparação com setembro do ano passado, houve avanço de 2,2% – vigésima sétima alta consecutiva neste tipo de comparação. No ano, o emprego industrial acumula alta de 2,7% em relação ao mesmo período de 2007 e, no acumulado dos 12 meses fechados em setembro, a expansão alcança 2,9%. Os dados fazem parte da Pesquisa Industrial Mensal e foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A pesquisa mostrou, também, que o valor da folha de pagamento dos trabalhadores da indústria aumentou 2,7% em setembro, depois de ter recuado 0,5% em agosto. Na comparação com o mesmo período de 2007, houve aumento de 7,9%. De janeiro a setembro, o acréscimo atinge 6,8%.

Na comparação com setembro do ano passado, as contratações superaram as demissões em 12 das 14 áreas investigadas, com destaque para São Paulo (2,6%), Minas Gerais (5,2%) e Rio Grande do Sul (3,3%). O levantamento também mostra que houve crescimento no número de postos de trabalho em 12 dos 18 setores pesquisados.

Entre os setores que aumentaram a oferta de emprego, máquinas e equipamentos (10,2%), meios de transporte (8,2%), máquinas, aparelhos eletrônicos e de comunicações (10,2%), produtos de minerais não-metálicos (8,1%) e alimentos e bebidas (1,9%) foram os que exerceram as maiores pressões positivas. No acumulado do ano, 11 locais e 12 ramos ajudaram positivamente no resultado.

Entre os setores, os destaques foram máquinas e equipamentos (12,1%) e meios de transporte (10,1%). Entre os locais, São Paulo (3,8%), Minas Gerais (4,6%) e Região Norte e Centro-Oeste (3,6%) foram as regiões que mais empregaram mão-de-obra nestes ramos durante o ano. De acordo com o IBGE, a evolução positiva dos índices de emprego industrial nos últimos meses “reflete maior dinamismo da atividade produtiva”.

Em relação a setembro de 2007, verificou-se ganho salarial dos trabalhadores da indústria em todos as 14 regiões pesquisadas, com destaque para São Paulo (9,1%) e Minas Gerais (12,1%). Na comparação com setembro de 2007, a folha de pagamento da indústria teve expansão em 13 dos 18 ramos investigados, com os maiores impactos em transportes (16%), máquinas e equipamentos (12,4%), metalurgia básica (19,3%) e produtos de minerais não-metálicos (20,7%).

IGP-M mostra preços em alta no início de novembro

FolhaNews, de São Paulo

O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M ), divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontou inflação em alta de 0,80% na primeira prévia de novembro, resultado superior ao da leitura inicial do mês anterior (0,55%). No ano, o índice acumula alta de 10,4%, e nos últimos 12 meses, 12,34%. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira pela FGV (Fundação Getulio Vargas). A primeira prévia do IGP-M de novembro traz a apuração de preços verificada entre os dias 21 e 31 de outubro.

O Índice de Preços por Atacado (IPA) subiu 1,01% no período, contra 0,71% um mês antes. O índice dos preços dos bens finais passou de deflação de 0,17% para alta de 0,29%, com destaque para o subgrupo alimentos processados (0,20% para 0,92%). Em relação aos bens intermediários, o índice passou de 1,03% para 1,51%, com destaque para o subgrupo materiais e componentes para a manufatura (0,93% para 1,49%). O índice referente a matérias-primas brutas subiu 1,04%, menos que na primeira prévia de outubro, 1,20%.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,22%, contra ligeira deflação de 0,08% um mês antes. As altas foram registradas nos grupos alimentação (-0,87% para 0,12%), saúde e cuidados pessoais (0,10% para 0,43%) e educação, leitura e recreação

(-0,08% para 0,26%). O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) subiu 0,70%, o que representa desaceleração em relação ao mês anterior (0,97%).

União e entidades negociam plano de apoio ao comércio

Cibelle Bouças, de São Paulo

Governo federal e representantes do varejo, comércio e serviços articulam a criação de uma política de desenvolvimento para o setor, à semelhança da política industrial lançada em maio deste ano. O primeiro esboço do plano engloba mudanças na área tributária e em encargos trabalhistas, além da criação de programas de financiamento específicos para o setor. De acordo com o secretário nacional de Comércio e Serviços do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Edson Lupatini Júnior, o governo trabalha para concluir e lançar a política de desenvolvimento para comércio e serviços em seis meses.

“A proposta original consiste em adequar as ferramentas da PDP (Política de Desenvolvimento Produtivo) a necessidades específicas do comércio”, afirma Lupatini. No dia 21 de outubro, o ministério estabeleceu grupos de discussão para refinar as propostas enviadas pelo setor privado ao governo no início de outubro. De acordo com ele, os grupos avaliam a viabilidade das propostas e mecanismos necessários para torná-las viáveis, como a publicação de decretos e leis, impactos das mudanças tributárias sobre o setor e a arrecadação nos Estados e municípios e o potencial de geração de empregos decorrente das medidas.

Um dos pilares da proposta é a redução da carga tributária e a simplificação do sistema de arrecadação. O diretor-executivo do Instituto para o Desenvolvimento para o Varejo (IDV) e uma das lideranças do projeto, Emerson Kapaz, cita, entre outros pontos, a redução e equalização das alíquotas de tributos que recaem sobre produtos da cesta básica. “Cada Estado tem uma tributação diferente. E não é difícil unificar, isso pode ser resolvido no Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária).”

Outro ponto sugerido, e que deve ser avaliado nas discussões da Reforma Tributária, é a implantação em todos os Estados do modelo de substituição tributária, que, segundo Kapaz, “simplifica e facilita o combate à informalidade”. Ele cita um estudo da consultoria McKinsey, de 2006, apontando que 54% do comércio varejista no Brasil está na informalidade, sendo que a maior parcela desse percentual é de estabelecimentos de varejo de alimentos e farmacêuticos.

Na área trabalhista, além da desoneração da folha de pagamentos, foi sugerida a criação de um “Simples trabalhista”, que pudesse desburocratizar o processo de contratação de pessoal e reduzir a carga sobre as empresas. Kapaz observa que o custo para contratar um trabalhador corresponde a 103,46% do salário. “Não é apenas isso. Ainda hoje em alguns municípios o varejo encontra dificuldades para abrir aos domingos por incompatibilidades da legislação local com a nacional. Às vezes a população quer, a loja quer, os funcionários querem porque receberão hora extra, mas a lei municipal impede algo que é permitido nacionalmente. É mais um entrave à expansão do setor.”

O setor privado também sugeriu medidas para internacionalizar o comércio brasileiro, via ampliação e fortalecimento de canais de distribuição, com apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). “A vantagem de levar uma bandeira para fora é que com ela é possível levar produtos brasileiros com mais facilidade.”

O projeto de política de desenvolvimento para comércio e indústria foi proposto pelo IDV, Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), Associação Brasileira de Franchising (ABF), Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Confederação Nacional do Comércio (CNC), Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). E foi apresentado a representantes do Banco do Brasil, BNDES, Caixa, Receita Federal e Ministério do Trabalho.

A proposta inclui ainda um programa de apoio à inovação e desenvolvimento tecnológico das empresas. Kapaz cita como uma das possibilidades a universalização do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped). “O IDV se credenciou com a Receita Federal para que as empresas associadas participem do sistema, o que hoje ocorre de forma voluntária”, diz. Segundo ele, a Renner já aderiu ao sistema e o grupo Pão de Açúcar deve aderir ainda neste ano. O IDV possui 31 grandes grupos varejistas associados, que juntos faturam R$ 100 bilhões por ano, geram 400 mil empregos diretos em 9,2 mil pontos de venda.

De acordo com Lupatini, do Ministério do Desenvolvimento, a política para o comércio “será articulada com a política industrial”. Segundo ele, é possível que ao fim das discussões se conclua que é melhor criar medidas específicas para algumas áreas do comércio. Entretanto, ele não cita quais seriam as áreas prioritárias.

O projeto defendido pelo setor privado contempla medidas para desburocratizar a oferta de crédito ao setor de comércio e serviços. “A maioria das lojas é alugada, o que dificulta a tomada de crédito nos bancos, que exigem a comprovação de ativos para segurar a operação”, observa Kapaz. “Por outro lado, 60% a 70% das vendas do varejo são feitas com cartão de crédito, que é um recebível melhor que um imóvel, que teria de ir a leilão, por exemplo”, considera.

Daí, o projeto de criar um fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC) para o comércio, para garantir crédito a projetos de curto e médio prazos. A formação de um FDIC, que funcionaria como uma alternativa ao crédito convencional oferecido pelos bancos, foi apresentada ao Departamento de Bens de Consumo do BNDES em agosto. O setor privado sugere que o banco entre para o fundo com uma cota de 30% e ofereça taxas de juros inferiores às cobradas pelo mercado. Em princípio, as 31 empresas associadas ao IDV deteriam o restante das cotas do fundo, que seria utilizado pelas cotistas para projetos de financiamento de curto e médio prazos, com a abertura de lojas, por exemplo. “Esse fundo poderia chegar a R$ 1 bilhão”, estima o diretor-executivo do IDV.

Kapaz afirma que as negociações pararam com o agravamento da crise externa. De um lado, as redes varejistas querem que o banco defina as condições do crédito para participarem ou não do fundo. O banco, por sua vez, quer saber quanto as empresas estão dispostas a investir. “As turbulências atrapalharam um pouco o processo, mas estamos levantando com as empresas quanto cada uma poderia destinar para o fundo”, diz. Procurado, o BNDES informou por meio de sua assessoria de imprensa que mantém o diálogo com o setor do comércio para discutir o tema, mas que a discussão ainda está em fase embrionária e não há iniciativas concretas em curso.

Para financiar projetos de longo prazo, diz Kapaz, o setor privado sugeriu ao banco que adaptasse o cartão BNDES – usado hoje para aquisição de máquinas e equipamentos – às especificidades do setor. A assessoria do banco informou que o cartão é uma ferramenta já acessível ao setor de comércio e serviços, mas que normalmente não é utilizado devido ao limite baixo de crédito oferecido (R$ 200 mil). O banco informou ainda que não há estudos para adaptar o cartão BNDES ao comércio.

Montadora prevê crescimento zero em 2009

Marli Olmos, de São Paulo

A indústria automobilística, um setor que representa em torno de 5,4% do Produto Interno Bruto do país, prepara-se para não crescer em 2009. A estabilidade já é considerada um sinal positivo, visto que o setor vinha crescendo num ritmo acima da sua capacidade. A General Motors , uma empresa à beira da falência nos Estados Unidos, seu país de origem, é uma das empresas que prevê manter o ritmo no Brasil. O presidente da filial brasileira, Jaime Ardila, trabalha com três cenários de produção de toda a indústria em 2009: no mais conservador o volume empataria com o total esperado para este ano – 3,5 milhões de unidades.

Economista de formação, Ardila é capaz de dividir em percentuais até mesmo o seu estado de espírito. Ele diz estar 50% conservador, 20% pessimista e 30% otimista. “Mas isso muda a cada semana”, avisa. No cenário pessimista de Ardila, a produção de veículos no Brasil em 2009 pode ficar em 3,18 milhões e na otimista, 3,7 milhões.

Outra montadora que trabalha com três cenários para 2009 é a Renault. Nesse caso, a expectativa mais otimista em relação ao mercado interno é empatar com os volume esperado para este ano – 2, 8 milhões de veículos. Se a situação “ficar preta”, como define o presidente da empresa, Jérôme Stoll, haverá uma queda, para 2,4 milhões de unidades.

A Fiat já trabalha com projeções macroeconômicas: 2,5% de PIB, 5% de inflação e taxa Selic média de 13% no ano, segundo o presidente da empresa, Cledorvino Belini. A General Motors já havia preparado, seis meses atrás, um plano para 2009 com base em projeções macroeconômicas, que tiveram que ser alteradas com a crise. A expectativa do PIB caiu de 4% para 3%, a inflação subiu de 4,5% para 5,1%, a taxa básica de juros foi alterada de 11,83% para 13,75% e o dólar passou de R$ 1,85 para R$ 2,00. Ardila faz uma confissão: “Não sei se esse câmbio em 2009 é uma projeção ou um desejo pessoal.”

O ritmo das exportações preocupa e deverá ser, em 2009, ainda menos acelerado do que vem se mostrando na segunda metade de 2008. “O problema é saber qual será o ponto de equilíbrio não apenas do nosso câmbio como do câmbio dos países vizinhos, que são os nossos maiores clientes”, afirma o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider.

O volume de veículos vendidos em outros países pode chegar a 780 mil unidades este ano, segundo projeções da Anfavea. Mas, para 2009, os presidentes das montadoras não esperam mais do que 700 mil.

A Volkswagen, a montadora que mais exporta, já reduziu suas metas. A empresa vai vender no exterior 180 mil automóveis este ano. Mas o presidente da companhia, Thimas Schmall, prevê reduzir a cota de exportação para 160 mil unidades em 2009. Stoll, presidente da Renault, diz que a empresa está preocupada com o que acontece na Argentina, um dos seus principais destinos de exportação.

Seja como for, a indústria automobilística se prepara para trabalhar em 2009 no ritmo para o qual se preparou. Os índices de crescimento que, mês a mês surpreendiam os executivos antes do aperto no crédito, chegaram a amedrontar os menos preparados. Nenhum investimento foi postergado e agora o setor vai enfrentar um ano bem mais tranqüilo.

Para Valdir Souza, diretor de vendas e marketing da Delphi para a América do Sul, o mercado estava em um ritmo muito acelerado, tanto é que desde o fim do primeiro semestre o setor falava da necessidade de uma redução da demanda. “Não dava para continuar utilizando 110% da capacidade, sendo que é preciso ter alguma folga”, disse o executivo, ao explicar que a indústria automotiva considera ideal uma ocupação entre 85% e 90%.

Segundo Souza, nessa faixa de utilização o setor se mostra mais rentável, já que com ela totalmente tomada os custos logísticos e de pessoal sobem significativamente. Entre 70% e 80%, na opinião do executivo, é um nível razoável. “Estávamos trabalhando até em dia de Natal”, lembra Belini, presidente da Fiat.

No próximo Natal, porém, todos estarão descansando. O aperto no crédito afetou as vendas domésticas, justamente onde a indústria conseguiu impulso para crescer nos três últimos anos. Os estoques estão altos. O setor terminou outubro com 298 mil unidades. Por isso recorreu às férias coletivas. Mas, com a irrigação do crédito, garantida pelo governo por meio dos bancos estatais, o fôlego tende a melhorar. As indicações de fornecedores e de concessionários, porém, são de que os estoques não devem baixar antes da virada do ano.

Nos EUA, GM espera ajuda do governo

John D. Stoll e Sharon Terlep, The Wall Street Journal, de Detroit

Temor de qua a montadora seja forçada a pedir concordata derruba suas ações para a menor cotação desde 1946

A ação da General Motors caiu para a menor cotação desde 1946, devido à intensificação dos temores de que a montadora pode ficar sem caixa e ser forçada a pedir concordata. Vários analistas divulgaram relatórios sombrios sobre a montadora e ela própria reconheceu que corre o risco de violar os termos de alguns de seus financiamentos e que isso pode dar a seus credores o direito de exigir o pagamento imediato de US$ 6 bilhões. Sem assistência do governo, o colapso da empresa é inevitável, segundo analistas. No Congresso, deputados e senadores se esforçam para obter socorro emergencial às três maiores montadoras americanas: Ford, GM e Chrysler.

Bolsa Família “desbanca” cana em Alagoas

Paulo Totti, de Maceió

A cana-de-açúcar, mais tradicional atividade econômica de Alagoas, não é mais a que mais contribui para a economia de Alagoas. Depois de tantos “mais”, os ricos usineiros – e também os já não tão ricos – passaram a conviver com o advérbio “menos”. Nos últimos anos, e acentuadamente durante o mandato do atual governo federal, os donos do açúcar tornaram-se menos importantes do que os beneficiários do Bolsa Família, menos importantes do que os aposentados da Previdência Social, menos importantes até que os desempregados. Hoje a economia alagoana depende mais destas três categorias e menos dos usineiros.

O poder político, exercido por elas próprias ou por seus delegados, continua monopólio das famílias de usineiros, mas até isso começa a ser questionado. Na periferia das grandes cidades, no Sertão, no Agreste e nas barrancas do São Francisco, os coronéis da cana ainda ganham eleições, mas sua influência já é menos decisiva e constata-se que, proporcionalmente, há menos votos em seus currais de eleitores. Programas federais, como a Previdência Social, o Bolsa Família e até o seguro desemprego, injetam mais dinheiro em Alagoas do que a massa salarial produzida pela cana-de-açúcar.

Uma tonelada de cana-de-açúcar, por exemplo, começa a ser paga a R$ 3 e esse valor pode chegar a R$ 4,5 dependendo da produtividade de cada trabalhador (acordo coletivo da categoria, em vigor na atual safra). Como serão colhidas 30 milhões de toneladas pelos cerca de 100 mil trabalhadores do setor (trabalho concentrado nos meses de safra, setembro/março), a massa salarial gerada na principal atividade agrícola do Estado chegará a R$ 100 milhões. O Bolsa Família transfere por mês R$ 30,7 milhões a 356,5 mil famílias, beneficiando em torno de 1,4 milhão de alagoanos. Num ano (não há 13º), o Bolsa Família irrigará Alagoas com R$ 368 milhões, três vezes e meia os salários provenientes da cana-de-açúcar.

O quadro do seguro desemprego é semelhante. No ano passado, 65 mil alagoanos receberam R$ 134 milhões do seguro-desemprego, um terço a mais do que os cortadores de cana.

Maior é a contribuição da Previdência Social. Todos os meses, 381 mil famílias recebem R$ 188 milhões – média de R$ 494,52 por aposentado ou pensionista, em agosto de 2008. Num ano, com o 13º, a Previdência beneficiará cerca de 1,5 milhão de alagoanos, quase metade da população do Estado, com R$ 2,4 bilhões – mais de 20 vezes o pagamento da cana. A arrecadação da Previdência no Estado é de apenas R$ 400 milhões. O déficit de R$ 2 bilhões, que torna aposentados com salário mínimo os cidadãos mais ricos de vilarejos e cidades do Sertão, tem sido considerado “generosidade irresponsável” por alguns economistas neoliberais.

Filiado a outra corrente, a dos que atribuem ao Estado a responsabilidade de, com políticas públicas, amenizar desigualdades sociais, especialmente no Nordeste, o economista Cícero Péricles, da Universidade Federal de Alagoas, constata: “Desde meados da década de 90, mais da metade dos recursos manejados pelo Estado vêm de Brasília. É a parceria silenciosa e socialmente positiva”. Cícero dá o exemplo de Inhapi, município do interior, que, em 2003, contribuiu com R$ 41 mil para a Previdência e recebeu dela R$ 3,5 milhões.

Cícero Péricles considera que, com o dinheiro do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Bolsa Família e também do Fundo de Participação dos Municípios (formado por 22,5% da arrecadação do Imposto de Produtos Industrializados, IPI, e do Imposto de Renda, IR, com distribuição obrigatória de 35% no Nordeste), “é que se movimenta o comércio local e também a máquina pública, pagando-se a folha de pessoal e outras despesas de centenas de municípios do Nordeste, inclusive capitais”.

A parceria inclui outros programas de menor volume financeiro, mas de importante impacto social como o microcrédito do Banco do Nordeste, o Pronaf, que financia e agricultura familiar, e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), que financia a pré-escola, o ensino fundamental e o ensino médio.

Sem a Previdência, as transferências federais para Alagoas e seus municípios, em 2007, foram de R$ 4,1 bilhões. Para este ano, a previsão está em torno de R$ 5 bilhões. Mesmo crescente, a arrecadação da União em Alagoas será de R$ 1 bilhão – um déficit de R$ 4 bilhões, o dobro do já acumulado com aposentadorias e pensões. Mais um exemplo: a Prefeitura de Maceió arrecadou de impostos, em 2005, R$ 125 milhões e recebeu da União, em transferências e repasses, R$ 480 milhões Toda essa dependência de recursos federais é demonstração da enorme fragilidade da economia de Estados e municípios do Nordeste – não só de Alagoas – e também da necessidade de sua continuação, enquanto investimentos privados não forem suficientes para impulsionar a economia por um caminho auto-sustentável. Provavelmente a sustentabilidade só será alcançada se o socorro federal continuar – como o deficiente visual que precisa de óculos para encontrar os próprios óculos.

O governador Teotônio Vilela acredita que um Estado austero e modernizado, com excelência de gestão, pode atrair investimentos e acabar com a situação de “desgarrado” da federação com que Alagoas se apresentava há dois anos. Cícero Péricles não subestima os propósitos do governador nem descrê de seus resultados, mas observa que nos últimos anos se acentuou a “federalização” do Estado, o que permitiu a ampliação do mercado interno e a “abertura de janelas” para “superação de um modelo de crescimento desigual e excludente”. Por isso, defende a “radicalização” das relações Estado/União, “um aprofundamento de dependência que só beneficiará Alagoas”.

Em livro que escreveu no ano passado “Economia popular – uma via de modernização para Alagoas” , presente nas mesas de executivos e autoridades do Estado, Cícero Péricles recomenda: “A alavanca para esse processo (o salto do Estado para o século XXI) é a aliança firme com o governo federal”. A perda de importância econômica dos usineiros e a emergência de novos protagonistas da política – as centenas de milhares de pessoas, através das quais o governo central oxigena a economia alagoana, e que já não necessitam do “favor” do coronel para sobreviver – pode provocar, ou já provoca, mudanças no cenário de distribuição de poder.

Um indicador dessa situação pode ser o prefeito de Maceió, Cícero Almeida (um populista do PP, reeleito com mais de 80% dos votos). É um caso raro de importante político alagoano em cuja reconhecida ascendência não há senhores de engenho. (Na última metade de século, Sebastião Marinho Muniz Falcão seria outra exceção. Eleito governador com apoio do então presidente Juscelino Kubitschek, recebeu impeachment da Assembléia em 1957, numa sessão em que um deputado foi morto e outro ferido. Na mesma sessão o repórter Márcio Moreira Alves, do “Correio da Manhã”, estava na tribuna de imprensa e levou um tiro. Novamente eleito governador em 1965, Muniz Falcão foi impedido de assumir pela ditadura militar. Era natural de Araripina, Pernambuco. Sem ligação com os usineiros, estes o acusavam de “forasteiro”).

As mudanças, incipientes, não impedem Alagoas de continuar com forte representação política nacional, superior à sua importância econômica. O Senado é o exemplo mais eloqüente da liderança política vinculada à economia da cana. Ali têm assento Renan Calheiros (PMDB), Fernando Collor de Mello (PTB) e João Tenório (PSDB). Este último, desconhecido no sul do país, é novidade, mas não renovação: usineiro e controlador das indústrias Sococo, é casado com a secretária da Fazenda, Fernanda, irmã do governador e ex-advogada de usineiros. Suplente de Teotônio Vilela Filho, João Tenório sucedeu-o no Senado, quando este se elegeu governador pelo PSDB em 2006.

Pessimismo passa longe dos fabricantes

Ceila Santos, para o Valor, de São Paulo

É raro encontrar um fabricante, na indústria de computadores, que esteja pessimista com a demanda brasileira para 2009. A expectativa é de que o Brasil seja o terceiro maior em vendas de computador, atrás apenas dos Estados Unidos e China.

Hoje o país ocupa a quinta posição, com 10,7 milhões de computadores vendidos em 2007, segundo a consultoria IDC, e já vendeu 5,68 milhões unidades, no primeiro semestre deste ano, de acordo com a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica). A principal razão do otimismo da indústria é de que a compra do computador está relacionada com acesso à internet, o que reforça a tendência de vender mais modelos portáteis do que os convencionais, de mesa. Dados da Abinee mostram que, no primeiro semestre, foram vendidos 1,76 milhão de notebooks, 186% a mais que no mesmo período de 2007.

Pesquisa feita pela Pyramid Research em parceria com a Microsoft com 1.257 pessoas da América Latina aponta que, na compra de seu primeiro computador, 67% dos brasileiros preferem o notebook com modem de banda larga móvel embutido. É por isso que a parceria entre fabricantes e operadoras móveis se tornou crucial.

A Vivo foi a primeira a dar as mãos a um fabricante de computadores, em novembro do ano passado, para estimular a venda do serviço de banda larga. A Positivo foi a escolhida. “É a principal fabricante nacional que tem mais condições de oferecer preço baixo para popularizar o acesso à internet móvel, em função dos incentivos fiscais”, explica Fábio Freitas, gerente de ofertas Premium da operadora. O pacote inclui modem grátis, 50% de desconto no serviço por três meses e um computador no valor de R$ 1.119, pago em dez parcelas.

A TIM aliou-se à HP, em maio deste ano, para oferecer três meses de graça do serviço de banda larga móvel via notebook ao custo final de cerca de R$ 3 mil. Renato Ciuchini, diretor de Planejamento Estratégico e Novos Negócios da operadora, diz que “mais de 60% do tráfego de dados da TIM provêem do acesso por computador”.

Em agosto foi a vez da Claro anunciar acordo com a Microboard, cujo pacote inclui notebook no valor de R$ 3,9 mil e um ano de banda larga de 1Mbps de graça. “Calcula-se que até 2011, 50% dos notebooks vendidos no Brasil terão modem embutido”, informa Fiamma Zarife, diretora de Serviços de Valor Agregado da Claro.

Valeria Molina, diretora de sistemas pessoais da área de consumo na HP, acrescenta que o uso do modem embarcado deve seguir o mesmo caminho do recurso Wi-Fi nos notebooks. Ou seja, no futuro, todas máquinas virão com acesso à internet móvel embutido. Apesar da parceria com a HP, os dois modelos que permitem acesso direto à internet móvel recebem o chip de qualquer operadora.

Encomendas no Japão

As encomendas à indústria de máquinas japonesa no terceiro trimestre tiveram sua maior queda em uma década, declarou o governo, acrescentando que o setor espera para breve apenas uma modesta recuperação. Isso reforça o temor de que os gastos de capital não conseguirão resgatar a economia do país da atual vulnerabilidade. O núcleo das encomendas – uma amostra dos futuros investimentos em produção – caiu 10,4% em relação ao terceiro trimestre de 2007.

TAM reduzirá custos para economizar até R$ 400 milhões no próximo ano

Roberta Campassi, de São Paulo

Sem saber o cenário econômico que 2009 reserva, a TAM optou por voar mais baixo. A companhia aérea vai usar seus aviões por menos horas, postergar investimentos e cortar custos. O principal objetivo no ano será preservar o caixa e a liqüidez.

A TAM pretende reduzir todos os custos que não têm relação direta com a operação da empresa, de forma a economizar entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões em 2009. “De gastos com táxi e celular a projetos de tecnologia da informação (TI), tudo está sendo revisto com austeridade”, disse o vice-presidente de finanças e relações com investidores da empresa, Líbano Barroso, durante evento para investidores, ontem. Sobre a redução de custos operacionais, a TAM disse que ainda não conseguiu fazer uma estimativa segura devido à forte volatilidade do dólar e do petróleo, dois itens que pesam bastante sobre os resultados.

A empresa pretende manter o plano de frota e deve passar de 125 aviões em 2008 para 130 no ano que vem. Mas, diante da desaceleração da demanda por viagens aéreas, a TAM deverá voar menos horas com cada avião e, portanto, seus custos serão menos diluídos. Daí a necessidade de apertar o cinto onde for possível. “Tomamos a decisão corajosa de manter o tamanho da empresa mesmo num ano difícil, porque quando o mercado se recuperar queremos estar bem posicionados”, disse Barroso.

A TAM estima que a demanda por viagens crescerá entre 5% e 9% em 2009 – neste ano, o crescimento entre janeiro e setembro foi de 10,2%. Do lado da oferta, a companhia vai ampliar a capacidade doméstica em 8% e a internacional, em 20%.

Caso 2009 seja mais negro do que o previsto e a demanda se retraia ainda mais, a TAM pode vir a negociar a redução da frota e, em última instância, deixar aviões no chão e cortar pessoal. “Mas não acreditamos que isso será necessário”, disse Barroso.

A companhia aérea acredita que a concorrência será “racional” no que diz respeito aos preços das passagens. Barroso disse não esperar, por exemplo, que a novata Azul Linhas Aéreas, que pretende iniciar vôos em dezembro, faça guerra tarifária. Mas aproveitou para deixar seu recado. “Não temos nenhuma munição de caixa reservada para brigar nem pretendemos queimar caixa. Mas as concorrentes precisam saber que estamos preparados.” A TAM fechou o terceiro trimestre com caixa de R$ 2,1 bilhões. Tem dívidas de R$ 836 milhões no curto prazo e de R$ 1,75 bilhão no longo prazo.

A TAM estima que conseguirá manter o “yield” de 2009, indicador que mostra quanto cada passageiro paga por cada quilômetro que voa, no mesmo patamar deste ano, em termos nominais.

A empresa divulgou ontem seus resultados do terceiro trimestre. A TAM teve prejuízo líquido de R$ 112,7 milhões, contra lucro de R$ 48,5 milhões no mesmo período de 2007. A linha final do balanço foi afetada, principalmente, por uma perda financeira de R$ 301,5 milhões, sendo que R$ 268,3 milhões desse total referem-se a perdas com hedge (proteção) de combustível. Esse prejuízo, porém, só sairá do caixa da empresa a partir do quarto trimestre e ao longo de 2009. A TAM havia protegido 50% do seu consumo de combustível a US$ 110 o barril de petróleo, mas a cotação do insumo no trimestre fechou a US$ 104.

Se considerada apenas a diferença entre as vendas e custos de operação, a TAM teve lucro bruto de R$ 164 milhões, quase o triplo do alcançado no mesmo trimestre de 2007.

As vendas líquidas subiram 40,5%, para R$ 2,89 bilhões, ajudadas pelo aumento da demanda e também pela elevação dos preços das passagens. Nos vôos domésticos, o “yield” subiu 18% de um ano para o outro, para R$ 0,28. A Gol, que divulga resultados na sexta-feira mas já comunicou projeções, também reajustou tarifas no terceiro trimestre, em cerca de 40%. Nos vôos internacionais da TAM, o yield cresceu 5,1%, para R$ 0,18.

Em relação aos custos de operação, a alta foi de 36%, para R$ 2,73 bilhões. O principal item desse aumento foi, sem surpresas, o combustível, cujo custo subiu 68% para R$ 1,1 bilhão. Gastos com pessoal e seguros também subiram de forma significativa – 36% e 41%, respectivamente.

Pelas regras da contabilidade dos Estados Unidos (US Gaap), o prejuízo da TAM no terceiro trimestre foi de R$ 475 milhões, contra lucro de R$ 143 milhões no ano anterior. Pelo modelo americano, a companhia registra em seu balanço patrimonial cerca de 52 aeronaves adquiridas via leasing financeiro cujos pagamentos são feitos em dólar. Assim, a empresa fica com ativos em reais e dívidas em dólar. Como a moeda americana se valorizou no trimestre, a diferença entre ativos e passivos foi negativa em R$ 535 milhões e prejudicou o resultado final.

A TAM informou que, a partir do quarto trimestre, já pretende divulgar seus balanços em IFRS – pela legislação, a adoção das regras internacionais de contabilidade é obrigatória a partir do balanço anual de 2008. “Até agora, entendemos que os resultados em IFRS serão bastante próximos daqueles em US Gaap”, disse Barroso. A principal mudança para companhias aéreas será, justamente, a necessidade de registrar as aeronaves adquiridas via leasing financeiro nos balanços, o que deve aumentar a exposição à volatilidade cambial.