“Uma das afirmações no fim de semana que têm, para mim, a maior relevância e à qual deve-se prestar atenção é do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em seu artigo dominical na Folha de S. Paulo.
Com um título que ecoa a grande cultura judaica medieval – “Guia para os perplexos”- ele afirma que “um processo concomitante de ajuste fiscal e monetário em uma economia em recessão é algo raro na economia mundial”. Identifica mais uma jabuticaba: um ajuste que se dá com recessão, um freio que acelera.
E, portanto, o movimento sindical tem razão em enfrentar o ajuste, porque ao fazê-lo combate a recessão e seus efeitos nocivos contra o emprego e os salários, ocasião apropriada para os ataques aos direitos e conquistas dos trabalhadores.
Em geral, para combater a recessão, são adotadas medidas anticíclicas que contrariam as tendências depressivas e criam estímulos para sua superação e para a retomada do crescimento econômico. Esse é o bom-senso.
Mas o ajuste, como vem sendo feito e como vem sendo propagandeado, contribui para a desaceleração econômica, concilia com o desmanche social, agrava os efeitos perversos já existentes e cria novos – até mesmo um efeito novo de desorientar multidões de brasileiros (aqueles que manifestam nas ruas sua oposição ao governo e os que, preocupados, procuram compreender ainda silenciosos que algo lhes está sendo retirado, que o governo não tem feito o que havia prometido).
É necessário reajustar o reajuste, apontando não só o caminho das explicações e negociações, se for preciso com autocrítica séria, mas, sobretudo, mudando o conteúdo das medidas e sua orientação estratégica.
Quando uma xícara tem duas alças pode-se tomá-la com a mão esquerda ou com a mão direita; o que não se pode fazer é tentar tomá-la com as mãos cruzadas, porque é certo que se derramará o conteúdo”.
João Guilherme, consultor sindical