Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Artigo

Por que nos atacam?

José Pereira dos Santos

Uma das razões do atraso nacional está na forma com que os trabalhadores são tratados pelos governos e o grande capital. Por paradoxal que pareça, nossa classe dominante vê o trabalhador como problema, e não solução. Não como um sujeito ativo da economia, mas como secundário e dispensável.

No fundo, essa postura desqualifica o trabalho, numa visão de que a sociedade só evolui por meio do capital. Errado: na verdade, o avanço econômico depende do trabalho, do capital e do Estado.

Isso explica muita coisa. Explica, por exemplo, o fato do Brasil ter sido o último País a abolir a escravidão. Explica, também, porque Getúlio Vargas foi tão combatido ao criar as leis trabalhistas e o salário mínimo. Explica a derrubada de Jango em 1964 e as seguidas perseguições ao movimento sindical.

Vivemos no Brasil atual uma fase de graves ataques aos trabalhadores e às suas entidades. Esses ataques ganharam força após o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Veja:

Terceirizações – A Lei 13.429/2017, aprovada no governo Temer, precariza as condições de trabalho e desorganiza o próprio mercado de trabalho. Terceirizado ganha menos, tem maior rotatividade no emprego, cumpre jornada mais extensa e é quem mais se acidenta. Prometia gerar empregos. Só produziu subemprego.

Reforma trabalhista – A Lei 13.467/2017, de Temer, visava mudar 11 itens da CLT. Ao final, mudou mais de 100. Ela piora as relações de trabalho e cria dificuldades à ação sindical. Temer prometeu quatro milhões de novos empregos. Mas o desemprego só aumentou.

MP 873 – Bolsonaro editou Medida que praticamente inviabilizava a sustentação sindical. A Câmara não votou e a MP caducou. Nem a ditadura nos atacou de forma tão violenta.

Mas Bolsonaro não sossega. Agora, ele manda ao Congresso a MP 881, que nos ataca duramente. Por exemplo: libera o trabalho aos domingos e feriados; limita o poder fiscalizador dos conselhos profissionais; põe fim à obrigatoriedade de criação das Cipas (Comissões Internas de Prevenção de Acidentes) em situações específicas – num País que ainda é recordista em acidentes de trabalho.

Na época da Colônia, havia o senhor de terras e engenho, que explorava até a morte a mão de obra cativa ou a pequena parte assalariada. E, no engenho, a figura mais temida era a do feitor, sua função era vigiar e castigar os escravos nos períodos que estivessem trabalhando e nos momentos das fugas.

Bolsonaro tem origem humilde. Ao que tudo indica, sua família está longe de ser herdeira daqueles antigos senhores de escravos. Ele, portanto, não é o clássico dono de engenho. Então, por que aceitar a função de feitor?

José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
e secretário nacional de Formação da Força Sindical
E-mail: pereira@metalurgico.org.br
Facebook: www.facebook.com/PereiraMetalurgico
Blog: www.pereirametalurgico.blogspot.com.br