Folha SP
País tem 2,6 milhões de novos pobres, de acordo com o Censo; índice é maior entre jovens, negros e hispânicos
Desde o início da crise econômica, o número de jovens adultos que vive com os pais saltou 25%, para 5,9 milhões
LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON
A crise econômica levou a pobreza nos Estados Unidos a atingir no ano passado seu nível mais alto desde 1993, com 15,1% da população -ou 46,2 milhões de pessoas- vivendo abaixo do limite, informou ontem o Birô do Censo.
São 2,6 milhões de novos pobres, um salto de 6% sobre o ano anterior e a quarta alta desde os primeiros sinais de problemas financeiros no país, em 2007.
O número, que se refere ao primeiro ano completo de medição desde que os Estados Unidos saíram oficialmente da recessão, em julho de 2009, é mais um indício de que a recuperação econômica tem ocorrido de forma letárgica, sem registrar impacto positivo. Reflete também o alto desemprego no país, que resiste a ceder do patamar de 9%.
A linha de pobreza nos EUA, em 2010, indica uma renda anual de até US$ 22,3 mil (R$ 37 mil) para uma família de quatro pessoas. De modo geral, a renda familiar média anual também caiu (2,3% no período), encerrando 2010 em US$ 49.445 para uma família de quatro pessoas (R$ 82.300 pelo câmbio de 31/12/2010, ou o equivalente a R$ 6.858 ao mês -o triplo do Brasil).
Desde 2007, porém, a queda é de 6,4%. Economistas estimam que o americano continuará a ter menos dinheiro em casa neste ano.
CRIANÇAS E JOVENS
Outro dado que o levantamento reflete é o desalento dos jovens adultos ante a dificuldade de entrar no mercado de trabalho: entre 2007 e o segundo trimestre deste ano, o número de pessoas que têm de 25 a 34 anos e mora com os pais cresceu 25%, para um total de 5,9 milhões.
“É difícil avaliar com precisão o impacto disso nas taxas gerais de pobreza”, diz o comunicado do Censo. “A taxa oficial de pobreza entre os jovens adultos que moram com seus pais é de 8,4%, mas quando sua situação é determinada a partir da própria renda, 45,3% deles têm renda abaixo da linha de pobreza para um adulto sozinho”, aponta o documento.
Os dados do Censo mostram ainda que pesquisas de centros de estudos já indicavam: a pobreza é mais grave entre as crianças, e entre os negros e os hispânicos.
Para quem tem até 18 anos, o índice neste ano chegou a 22%, um salto de 1,3 ponto, ou 900 mil pessoas. A pobreza também aumentou 0,8 ponto percentual entre os adultos de 18 a 64 anos, chegando a 13,7%, e manteve-se estável em 9% para os que têm mais de 65 anos. Por conta disso, as crianças são hoje 35,5% dos pobres americanos, embora sejam 24,4% da população total, afirma o Censo.
Quando a divisão é por origem e etnia, o abismo é maior. Enquanto o índice entre os brancos não hispânicos bate em 10%, mais de um em cada quatro negros ou hispânicos é pobre nos Estados Unidos hoje.