Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Notícias

Plano econômico de Obama não cria empregos; EUA vivem declínio

UOL

Le Monde

Nicolas Baverez*

Em 2008, Barack Obama foi eleito em meio a euforia para tirar os Estados Unidos de uma grande recessão e do atolamento no Iraque e no Afeganistão. Em 2010, às vésperas das eleições dadas como perdidas aos democratas, ele deve anunciar um novo plano de estímulo de US$ 150 bilhões em razão de uma retomada que derrapa e não está criando empregos.

Após sete anos de conflitos, 4.400 mortos entre os soldados americanos e cerca de 100 mil vítimas civis iraquianas, as tropas de combate deixam um Iraque em plena guerra civil. A mesma questão se esboça no Afeganistão, com a crônica anunciada de uma retirada tendo confrontos tribais como pano de fundo.

Sob a impopularidade do primeiro presidente negro dos Estados Unidos despontam o declínio do país e a missão impossível que lhe foi incumbida: garantir a transição sem conflitos de uma hiperpotência ilusória para uma nação de primeira linha, mas de direito consuetudinário, limitada por dentro pelas dificuldades associadas ao superendividamento, e por fora pela concorrência dos gigantes emergentes.

Assim como a França e o Reino Unido após a humilhação de Suez em 1956, Obama deve colocar as ambições em coerência com meios restritos: algo inédito na História da nação americana.

Os pilares da supremacia dos Estados Unidos no século 20 estão todos minados. Não somente a retomada vem fracassando, com um crescimento voltando a 1%, o naufrágio do setor imobiliário e um desemprego em massa que atinge 17% da população ativa, como a perspectiva de ver a China se tornar a primeira economia do mundo no decorrer da década de 2030 vem se reforçando.

Marginalizados no plano industrial, os Estados Unidos estão vendo Xangai rivalizar com Wall Street e as empresas chinesas se tornarem líderes em setores do futuro como o das energias renováveis. Pela primeira vez, nenhuma empresa americana figura entre os dez primeiros grupos mundiais para a criação de valor. A concorrência dos emergentes não se limitou à indústria, mas se estende à agricultura com o Brasil e aos serviços com a Índia. Ela não recai somente sobre o custo da mão de obra, mas também sobre a eficácia do capital e da pesquisa. A classe média, base do consumo e da estabilidade democrática, está se desintegrando.

Os próprios princípios e instrumentos da liderança americana estão sendo reavaliados. A gestão do capitalismo foi deslegitimada pela crise. A política econômica se tornou impotente.

O acúmulo de déficits não consegue mais reavivar o crescimento em razão do peso das dívidas e do desemprego que paralisam os cidadãos. A manutenção contínua das taxas zero de juros e das compras de dívidas pelo Federal Reserve de até 10% do PIB reforçam a desconfiança em vez de criar confiança. O monopólio do dólar é contestado pela vontade dos países da Ásia de se dotarem de uma zona comercial e monetária autônoma. Por toda parte, a influência política e intelectual dos Estados Unidos está em retração.

Entretanto, o declínio dos Estados Unidos, ao contrário da Europa e do Japão, continua sendo relativo e resistível. Os Estados Unidos são o único grande país desenvolvido a possuir um crescimento populacional dinâmico, e deverá ganhar mais 100 milhões de habitantes até 2050. Os investimentos, a jornada de trabalho e a poupança estão se recuperando. Margens de manobra financeiras consideráveis subsistem com a possibilidade de aumentar os impostos (31% do PIB) e de interromper os dois conflitos que custaram mais de US$ 1 trilhão. A atratividade continua elevada para as empresas e sobretudo os cérebros.

Os Estados Unidos continuam a estruturar, se não a dominar, as redes que organizam a globalização. A flexibilidade da sociedade e o sentido de inovação constituem trunfos para a conversão do modelo econômico. E por fim, os Estados Unidos iniciaram um grande debate nacional sobre seu declínio, o que demonstra sua capacidade de se questionar e de se renovar.

Com a ascensão das potências do Sul, o recuo americano é inevitável. Mas eles poderão se beneficiar com a diminuição do fardo imperial. O fim de sua liderança global, contudo, tornará o mundo mais perigoso. As democracias devem se preparar para viver sem o resseguro definitivo do capitalismo, e sem o escudo estratégico americano.

*Nicolas Baverez é economista e historiador

Tradução: Lana Lim