Objetivo da entidade é que índice de representatividade se aproxime dos 35% verificados nos países desenvolvidos
Diretor da CNI afirma que baixo associativismo é característico da cultura da sociedade brasileira, mas aponta avanços
DA REPORTAGEM LOCAL
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) iniciou em 2006 um programa para aumentar a associação de empresas a sindicatos e tornar essas entidades mais fortes.
Hoje, cerca de 20% das 500 mil indústrias do país estão associadas a algum sindicato, percentual que está estabilizado há anos, segundo a confederação.
Com o Programa de Desenvolvimento Associativo, a CNI quer que esse índice fique próximo ao de países desenvolvidos -de 30% a 35%- em um prazo de quatro a seis anos.
“A CNI tem trabalhado com as federações para fortalecer o trabalho dos sindicatos. Até o final deste ano, o programa terá capacitado 800 líderes sindicais, que serão capazes de ter gestão mais forte”, diz Rafael Lucchesi, diretor de operações da CNI, que reúne 1.200 sindicatos no país.
Na avaliação de Lucchesi, a maioria dos sindicatos de indústrias tem representatividade. “Além de capacitarmos 800 líderes sindicais, estamos ajudando na criação de sites de 450 sindicatos, que serão canais de ação e de prestação de serviços às empresas filiadas. Estamos finalizando o trabalho de planejamento estratégico de aproximadamente 400 sindicatos”, diz.
A cultura de associativismo do Brasil é diferente da de países da Europa e dos Estados Unidos, na opinião de Lucchesi. “Esse não é um problema apenas de representação patronal, mas também de representação de trabalhadores. O baixo associativismo é característica da cultura da sociedade brasileira. Mas nós estamos avançando e de forma persistente. Existem sindicatos patronais muito fortes no Brasil. Não há crise de representatividade, o que existe é a necessidade de elevar o número de sócios.”
Para Roberto Della Manna, diretor titular do Departamento Sindical da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), os 133 sindicatos associados da Fiesp têm representatividade. “Os sindicatos são independentes e não temos influência sobre eles. A Fiesp faz o que compete a ela, que é dar apoio aos sindicatos, sem entrar no mérito.”
Della Manna também considera que os empresários brasileiros não têm “espírito” de associativismo. “Como já pagam o imposto sindical, acreditam que não é preciso se associar.” O empresário acredita que, se o imposto sindical acabar, muitos sindicatos desaparecerão. “Por essa razão, é necessário que se faça um trabalho para elevar o número de sócios.”
A Fiesp contratou recentemente uma empresa especializada em associativismo para visitar as empresas e explicar as vantagens de se associar a uma entidade sindical.
Ações integradas
Com 106 sindicatos filiados, a Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) desenvolve há cinco anos ações em parceria com seus associados para tornar as entidades mais atuantes, segundo Augusto Franco, diretor-geral do Sistema Firjan. “Percebemos que os sindicatos não tinham sequer receita para manter suas estruturas e prestar serviços às empresas. Auxiliamos, por exemplo, essas entidades a abrir 50 sites, produzir boletins e enviá-los com nossos comunicados para otimizar custos.”
O resultado dessas ações, segundo diz, está no incremento de associados. Das cerca de 16 mil indústrias fluminenses, 5.900 pagam voluntariamente mensalidade aos 106 sindicatos existentes. “Um sindicato ou uma federação não existe se o foco de atuação não for o associado, a empresa.”
No Paraná, os sindicatos sem representatividade são impedidos de participar e votar nas decisões da Fiep (Federação das Indústrias do Paraná), segundo diz Rodrigo da Rocha Loures, presidente da entidade. “Se o sindicato não tem atividade, não pode ter o mesmo voto que tem uma entidade ativa.”
Dos 96 sindicatos filiados à Fiep, três não estão aptos a votar, segundo Loures. A federação também desenvolve uma campanha para fortalecer os sindicatos que atuam no setor.
Alcantaro Corrêa, presidente da Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina), diz que também tem feito trabalho para aumentar a participação das empresas em seus sindicatos.
“Todos os 131 sindicatos filiados à federação são assistidos e cobrados pela Fiesc, que orienta e dá suporte econômico, jurídico e trabalhista para eles. Na minha opinião, um sindicato com dois, três ou cinco sócios não deve existir, por não ser produtivo.”
Só reforma resolve
Para o superintendente de relações trabalhistas da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Magnus Apostólico, a falta de representatividade de entidades que representam trabalhadores e empregadores só será resolvida com uma “profunda” reforma na legislação sindical -a proposta de mudança foi encaminhada pelo governo ao Congresso, mas não teve andamento.
“No Fórum Nacional do Trabalho, que discutiu a proposta de reforma sindical, defendemos a tese que, para ser um sindicato, ter o direito de sentar à mesa de negociação e receber qualquer recurso, era preciso demonstrar a representatividade. Só é representativo quem tem associados”, diz.
“O associado tem de dizer ao sindicato: quero que você exista e estou disposto a pagar voluntariamente para você existir porque o sindicato é importante e precisa existir para defender meus interesses.”
No setor bancário, 130 das 150 instituições que atuam no país pagam mensalidade voluntária aos seis sindicatos de bancos que atuam por região. (FÁTIMA FERNANDES E CLAUDIA ROLLI)