Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Pirataria conquista mais oito milhões

Pesquisa revela que 68 milhões de brasileiros compraram produtos falsificados em 2008, ante 60 milhões em 2007

RODRIGO GALLO, rodrigo.gallo@grupoestado.com.br

O número de brasileiros com mais de 16 anos que compram produtos piratas saltou de 60 milhões para 68 milhões entre 2007 e 2008, segundo mostra um estudo realizado pela Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) e pela empresa Ipsos Public Affairs, válido para todo o Brasil. Esse total de ´consumidores´ representa 47% dos entrevistados. A pesquisa revela ainda que CDs, DVDs e óculos ainda lideram o ranking dos itens falsificados mais vendidos no mercado de artigos ilegais.

O levantamento foi realizado em agosto de 2008 em 70 cidades brasileiras, mas foi divulgado apenas em janeiro pelas entidades responsáveis pelo estudo. Os pesquisadores constataram que a compra de itens piratas subiu por dois motivos: aumento de emprego e renda, que possibilitou às pessoas saírem mais às compras, e a alta da inflação no ano passado, que levou para cima o preço dos produtos originais.

De acordo com o economista Christian Travassos da Fecomércio-RJ, o principal fator que leva as pessoas à pirataria realmente é o preço. “A inflação pressionou mais o orçamento das famílias. O consumidor compara os preços e muitas vezes opta pelo produto informal, que certamente é mais barato”, disse.

De acordo com dados da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD), a pirataria já reduziu em mais da metade o número de CDs e DVDs vendidos no Brasil. Em 2002, por exemplo, foram vendidos 75 milhões de unidades. Em 2007, esse número já havia caído para 31,3 milhões.

Além disso, a indústria de falsificações também causou outros problemas não só para o mercado, mas para a própria economia brasileira. Entre 1997 e 2005, houve uma redução de 50% dos postos de trabalho diretos nesse setor de CDs e DVDs.

Por conta da venda de produtos ilegais, o governo deixa de arrecadar cerca de R$ 50 milhões por ano em tributos, como Cofins e ICMS, por exemplo.

Para coibir esse tipo de crime, a Associação Antipirataria Cinema e Música (APCM) ampliou as fiscalizações. Em 2008, foram realizadas 3.591 operações deste tipo no País, que resultaram na apreensão de 4.089.079 discos de música e 2.040.673 de filmes e shows.

O motivo para CDs e DVDs liderarem a lista dos piratas mais vendidos pelos camelôs é justamente a facilidade de acesso. “O consumidor sai às ruas e se depara com inúmeras pessoas vendendo unidades falsificadas. É um grande apelo ver três filmes sendo vendidos por R$ 10”, disse a diretora da União Brasileira do Vídeo (UBV), Tânia Lima.

De fato, quem circula por pontos da cidade como a Rua XV de Novembro, no centro, sabe muito bem a que Tânia se refere: é possível encontrar à venda até mesmo DVDs de filmes que não foram lançados no cinema. Atualmente, um dos mais procurados é The Spirit, de Frank Miller – que só estreia em 20 de março, segundo a Sony Pictures.

Preço atrativo

A nutricionista Lúcia (nome fictício), 27 anos, admite que consome produtos pirateados com frequência. Segundo ela, o motivo principal é o preço. “Trabalho no centro de São Paulo, e todo dia, na hora do almoço, vejo muitos camelôs vendendo CDs e DVDs. É difícil resistir à tentação e não comprar três filmes por apenas R$ 10”, disse ela, que não se importa com a qualidade dos vídeos. “Se deixarem de funcionar logo, tudo bem: dificilmente assisto um filme mais de uma vez”, diz.

Lúcia também admite consumir um outro tipo de produto irregular. “Baixo muitas músicas da internet, apesar de saber que é errado. O problema é que ganho R$ 1.200 por mês e tenho de pagar aluguel, contas da casa e a mensalidade do curso de inglês, então, não posso pagar R$ 35 por um CD, que é um preço abusivo”, afirma a consumidora.