“O fim da Guerra Fria afastou o fantasma da guerra nuclear, retirando do horizonte o risco de uma hecatombe capaz de ameaçar nossa própria existência. Foi um avanço histórico na construção de um mundo mais seguro e pacífico.
Porém, muitos dos interesses conflitantes entre nações e povos permaneceram ou se agravaram. Isso foi empurrando as populações mais pobres do Oriente Médio e de nações africanas para o islamismo radical, onde encontram identidade e voz. Os jovens, principalmente, são atraídos para o radicalismo e engrossam as fileiras de grupos armados locais ou ligados ao terror internacional.
Nas últimas décadas, surgiram com força grupos como o Taleban, Al-Qaeda e Estado Islâmico. Infelizmente, a realidade é que todos eles, em algum momento, foram instrumentalizados por potências ocidentais a fim de interferir na geopolítica regional. O pano de fundo é o controle do petróleo e também o escoamento de armamentos produzidos pela indústria bélica.
Portanto, enquanto não mudar o padrão de relações –culturais, políticas e econômicas – entre as potências e esses povos a situação não evoluirá. É preciso colocar o diálogo na frente das armas, pois dialogar será sempre mais eficaz. Os países mais ricos, especialmente Estados Unidos e membros da União Europeia, estão diante desse desafio. Precisam agir com racionalidade, caso contrário o radicalismo encontrará mais adeptos, especialmente entre jovens do Oriente ou descendentes de muçulmanos das periferias de metrópoles da Europa.
A violência covarde praticada contra civis na França revolta a todos nós. A possibilidade de novos ataques obriga governos a adotar medidas severas de segurança, que, mal ou bem, acabam atiçando a indústria de armas, para a qual nada mais contraproducente do que a paz. Já vimos isso ocorrer depois do ataque às torres gêmeas, nos Estados Unidos.
Observe que a recente onda de terror na França ocorre num momento de forte fluxo migratório para a Europa. Parte desses migrantes têm origem em muitas regiões africanas onde crescem focos de radicalismo religioso. Isso quer dizer que vão aumentar as restrições à entrada de estrangeiros, agravando os problemas sociais e o chamado terror econômico, gerado pela exclusão.
Nada é mais grave, dramático e caro que a guerra. A superação da Guerra Fria foi um progresso fabuloso para a humanidade. Mas as potências e órgãos como a ONU não conseguiram avançar o suficiente na prevenção e combate ao terror. Os atentados terroristas na França mostram que isso precisa ser feito, com urgência. É justo que as nações cuidem de sua segurança. Mas, sem esquecer, que o objetivo final é a paz, sem a qual não haverá o progresso material e cultural real”.
José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
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