Cláudio Belli – Valor
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Paulo Pereira da Silva
, pré-candidato a prefeito de São Paulo pelo PDT: política fiscal para descentralizar o emprego
Por Raphael Di Cunto
Valor Econômico
Aumentar os impostos para as empresas instaladas no centro de São Paulo e reduzir os tributos na periferia. Essa é a proposta do deputado federal Paulo Pereira da Silva, pré-candidato do PDT à prefeitura da capital paulista, para descentralizar a maior cidade do país, reduzir o trânsito com uma redução no número de pessoas que se deslocam para o centro todos os dias e melhorar a qualidade de vida nos bairros mais afastados, com aumento da oferta de emprego e serviços.
“Sei que vai ter muita gente me xingando por isso, mas tem que aumentar o ISS [Imposto Sobre Serviços] do centro, é a única forma de levar os médicos e empresas para a periferia”, afirmou. “Hoje está tudo no centro por causa da infraestrutura, mas é absurdo o doente sair da Zona Leste de ônibus para ter atendimento médico, ou o trabalhador viajar quatro horas por dia para chegar ao emprego”, argumenta.
Com o slogan de campanha “cada bairro uma cidade”, o pedetista defende o aumento do ISS do centro expandido de São Paulo e a redução na periferia, ao lado de abatimento no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para as empresas que se instalarem fora da região central. “As cidades da região metropolitana fazem guerra fiscal, então também vou entrar nessa guerra”, diz o parlamentar, que discursa: “Com emprego perto de casa, o trabalhador não terá de pegar o carro ou ônibus para cruzar São Paulo, é o jeito de melhorar o trânsito.”
Entre os incentivos defendidos está, inclusive, os concedidos para a construção do estádio do Corinthians, na Zona Leste da cidade, que irá sediar a abertura da Copa do Mundo de 2014. “É um princípio de política que eu gostaria de fazer. Valoriza a região e leva infraestrutura e empregos”, afirma. A arena do clube recebeu incentivos fiscais que podem chegar a R$ 530 milhões, segundo estimativas da prefeitura.
Paulinho recebeu o Valor na sede da Força Sindical, em São Paulo, central que é a segunda maior do país e que ele preside desde 1999. Ainda envolvido com as manifestações contra a desindustrialização do país, ele promete se licenciar do cargo no dia 2 de maio, logo depois das comemorações do Dia do Trabalhador, para se dedicar em tempo integral à campanha – estimulada pelo partido para aumentar a bancada de vereadores, mas que ainda é incerta mesmo entre os pedetistas.
Enquanto isso, tem se espelhado nos projetos que o PDT implantou na Subprefeitura de Itaim Paulista de 2005 a 2009, na gestão do tucano José Serra e de seu sucessor, o atual prefeito Gilberto Kassab (PSD), para formular outras propostas. Uma delas é instalar “câmaras de animação econômica” nos bairros, projeto iniciado pelo partido no Itaim Paulista. “Você identifica a vocação do bairro, qualifica os moradores e dá inicio a pequenas empresas, que depois se consolidam”, explica.
O deputado recorre ao mote da descentralização para apontar os erros de Kassab na prefeitura, ao criticar a nomeação de coronéis para comandar as subprefeituras – “a população ficou com medo e se afastou”. “Quem faz a política pública é o prefeito, mas o subprefeito precisa ter força, autonomia e recurso para administrar”, diz.
Paulinho diz que o principal problema da cidade é transporte e dos paulistanos é a saúde. Para melhorar o atendimento na área, quer comprar leitos nos hospitais privados para pacientes da rede pública e dobrar o número de equipes do Programa Saúde da Família. Ele é a favor do uso de Organizações Sociais para gestão dos equipamentos de saúde, mas quer “aumentar a fiscalização”.
Para amenizar o trânsito, repete a proposta de descentralizar os empregos com a ida de empresas para a periferia, e defende a construção de corredores de ônibus. “Metrô é caro. Não sei se essa informação é verdadeira, mas já ouvi dizer que um quilômetro de metrô custa um bilhão de reais. O orçamento de São Paulo é R$ 38 bilhões. Para se ter uma linha de metrô igual a da França ou Estados Unidos ia demorar muito”, diz.
Quer construir um corredor de ônibus no meio das marginais Pinheiros e Tietê, que circulam a cidade. “As pessoas poderiam dar a volta em São Paulo sem passar pelo centro”, afirma. Ele é contra qualquer tipo de restrição ao tráfego, seja o pedágio urbano ou proibir a circulação de caminhões nas principais vias da cidade nos horários de pico – prática adotada na atual gestão.
Paulinho também critica a inspeção veicular. Diz que já pensou em acabar com o serviço – como quer o deputado federal e pré-candidato do PMDB, Gabriel Chalita-, mas que mudou de ideia porque “é preciso tirar os carros velhos da rua”. Argumenta, porém, que veículos novos não deveriam passar pela fiscalização – hoje feita quando o carro ou moto completa um ano. Também não promete isentar da taxa, como faz o candidato do PT, Fernando Haddad. “Isso é um erro. Se isentar, quem paga é a prefeitura”, afirma.
Para a Educação, o pedetista defende a escola de tempo integral, “uma bandeira história do PDT”, o ensino profissionalizante desde cedo nas escolas. Quer fazer parcerias com igrejas, ONGs e empresas para suprir o déficit de creches na cidade – uma das principais promessas de Kassab, mas que, apesar da criação de 100 mil novas vagas, não será cumprida.
No campo das alianças, admite que está difícil de conseguir apoios, mas refuta desistir para apoiar o ex-governador José Serra (PSDB), embora o PDT tenha recebido a Secretaria de Relações do Trabalho no governo de São Paulo. “A conversa foi para apoio apenas em 2014”, diz. A conversa mais avançada é com o presidente do PSB estadual, Márcio França, para compor uma terceira via ao lado do PCdoB, do vereador Netinho de Paula, outro pré-candidato. Entretanto, a proposta esbarra no próprio PSB, com a direção nacional querendo apoiar o PT.
Paulinho diz que ainda não conversou com o PCdoB e que até acha interessante uma composição, mas discorda sobre o candidato da chapa ser escolhido pelo primeiro nas pesquisas de intenção de voto, como defendem incentivadores do bloco. “Em toda pesquisa, o Netinho vai ter um ou dois pontos a mais que eu. Agora, a rejeição dele é muito maior que a minha, tem que considerar isso também”, cobra.
E vê como pequenas as chances de Haddad. “O PT normalmente tem entre 25% e 30% dos votos na cidade, mas esses votos estão divididos entre outras candidaturas. Ganho a pesquisa expontânea de intenção de votos entre os metalúrgicos, por exemplo. É um setor que sempre votou com o PT, mas trabalha comigo há 30 anos, não é fácil alguém de fora tirar esse eleitorado de mim não”, diz o deputado, que oscila entre 8% e 9% nas pesquisas oficiais, em que aparece como quinto colocado.