COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A redução do IPI propiciou a retomada das vendas de carros, mas apenas as montadoras foram beneficiadas. Os trabalhadores continuaram a ver dispensas no setor e, em alguns casos, sentiram uma sobrecarga de trabalho, já que a produção foi retomada com um efetivo menor nas fábricas. Essa é a avaliação de sindicalistas ouvidos pela Folha.
“Nossa indignação é que o setor foi atendido com a isenção do imposto e com os R$ 8 bilhões [colocados à disposição dos bancos de montadoras no ano passado]. Mas as empresas ainda alegam que isso é insuficiente e demitem”, afirma Francisco Nunes Rodrigues, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, ligado à Força Sindical.
Em sua base, a GM já dispensou 180 trabalhadores desde a semana passada, diz. Esse contingente faz parte de 1.633 funcionários que têm contratos temporários na fábrica. Outros 300 tiveram de tirar licença remunerada.
De acordo com Nunes, apesar do enxugamento de pessoal, a produção não caiu na mesma proporção. “Antes, cada turno produzia 50 carros por hora. Agora, são 43 carros por hora. Estamos sobrecarregados. Há um desgaste muito grande”, afirma.
Para Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ligado à CUT, o governo faz bem em reduzir o IPI, mas os trabalhadores deveriam ser consultados para discutir uma fórmula de manutenção de empregos. “Porque, se as empresas continuam demitindo, não vamos mesmo conseguir sair da crise.”
O secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, Luiz Carlos Prates, lamenta o fato de os trabalhadores “nem terem sido ouvidos” quando o governo decidiu reduzir o IPI da primeira vez. “Isso não chegou a ser discutido conosco. Na crise, ficamos vulneráveis a chantagens de empresas.”
(PAULO DE ARAUJO)