É o que afirma o presidente do Sindicatos dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, que deu entrevista ao TUTAMÉIA (confira a íntegra no vídeo acima) no final da manhã desta quinta-feira (17.1), logo depois da inauguração de uma exposição de fotografias que documenta a trajetória do sindicato em seus 86 anos de existência.
O aniversário transcorreu no último dia 27 de dezembro, mas a entidade escolheu a data de ontem para fazer a inauguração como homenagem a Manoel Fiel Filho, operário assassinado no dia 17 de janeiro de 1976 nas câmaras de tortura da ditadura militar. Ao iniciar sua fala na cerimônia de abertura, Miguel pediu um minuto de silêncio para celebrar a memória do militante, de Santo Dias da Silva e de todos os ativistas e dirigentes sindicais mortos.
São símbolos da combativa existência da entidade, como lembra o título da exposição –86 de Lutas e Conquistas. “Nada do que temos hoje veio de graça”, disse Miguel na entrevista ao TUTAMÉIA, destacando, por exemplo, a greve de 1962 pelo abono de Natal.
Muitos a consideravam picuinha, uma reivindicação louca. Mas os metalúrgicos seguraram uma greve por 31 dias, saíram vitoriosos, e sua conquista foi o embrião para o que hoje conhecemos como décimo terceiro salário.
A jornada de trabalho de 44 horas, definida na Constituição de 1988 –hoje tão ameaçada—,também foi estabelecida a partir de lutas sindicais. Em 1983, pipocaram as greves pela redução da jornada: os trabalhadores se reunião em frente à empresa, entravam na fábrica e cruzavam os braços. Foi duro, mas vieram os acordos e veio a lei.
Direitos hoje em risco, aponta Miguel, que conclama à luta contra esse ataque aos trabalhadores e ao país:
“Temos de unificar o movimento sindical. Acabou esse negócio de que o cara é radical, não é radical, se é de extrema, se não é, defender bandeiras que não têm consenso. Temos de unificar a luta dos trabalhadores em pontos objetivos. Devemos também trazer os movimentos sociais para essa luta. Hoje a maioria dos trabalhadores não tem carteira assinada, estão na informalidade e não têm a representação que deveriam ter. Nesse momento é juntar todas as representações da sociedade, os quilombolas, os indígenas, os companheiros do movimento sem terra, para defender os interesses da população e do país.”
Empresários também estão ameaçados e podem se unir ao movimento geral, acredita Miguel Torres, que fez um chamamento ao final da entrevista ao TUTAMÉIA:
“É um momento difícil o que estamos passando. Todos os sinais que estão vindo mostram que vai se aprofundar essa crise. Temos de ter a capacidade de nos unirmos em torno da defesa do país. Até você, empresário, que quer ter um país melhor, que quer ter tranquilidade para seu filho estudar, temos de estar juntos nessa luta. Queremos um país que seja dos brasileiros, que seja justo e tenha crescimento, e que sua população tenha os benefícios que ela merece ter.”
O chamamento à união foi constante nas falas de todos os convidados ao palco do Palácio do Trabalhador –eles mesmos significando essa unidade defendida por Miguel Torres, pois havia representantes de várias centrais sindicais e diversas correntes políticas –entre outros, falou Gilberto de Carvalho, assessor do presidente Lula e ministro no governo Dilma.
Na própria exposição não falta política. Há fotos da presença dos metalúrgicos em manifestações e campanhas como as Diretas Já, e uma imagem de Miguel ao lado de Lula no dia em que o ex-presidente foi preso em São Bernardo, no ano passado:
“A prisão de Lula é uma injustiça muito grande. Lula foi um presidente que diminuiu o estado de pobreza do país, fez um programa de eletricidade que fez a energia chegar ao interior do país, deu dignidade às pessoas, abriu faculdades novas. Fez um trabalho muito importante. Por causa disso, ele foi perseguido nesse processo todo, foi preso, em nossa opinião, injustamente. Por que as denúncias feitas não tem base nem há provas concretas contra ele.”
A exposição segue até o dia 15 de fevereiro, aberta de segunda a sexta, das 9h às 16h, no Palácio do Trabalhador – sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, rua Galvão Bueno, 782.