O Estado SP
CLEIDE SILVA e AE
Representantes da indústria, do comércio e dos trabalhadores criticam a decisão do Banco Central (BC) de não alterar a Selic, mas a opinião não é unânime. No setor industrial, enquanto o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, considerou “inaceitável” a interrupção da trajetória de queda dos juros, o presidente da General Motors do Brasil, Jaime Ardila, achou a medida “correta” e defendeu que não ocorram mais mudanças neste ano.
Monteiro Neto interpretou que, ao manter o juro anual em 8,75%, o BC considerou que a crise financeira foi superada. Em sua análise, porém, essa condição “não condiz com a realidade.” Para ele, os cortes anteriores foram insuficientes para que a indústria retomasse o ritmo de crescimento registrado no início de 2008 e novos projetos de investimentos estão travados. “A decisão do Copom contribui para que a recuperação seja vagarosa, o que traz enormes prejuízos para a produção e o emprego”, disse.
Com visão oposta, Ardila considerou a manutenção dos juros “correta, pois o BC já promoveu várias mudanças e ainda não conhecemos seu impacto real no mercado”. Ele defendeu que não ocorram mais alterações na Selic este ano.
Segundo Ardila, a mudança nos juros leva tempo para ter efeitos no mercado e ainda não foi possível avaliar os impactos das últimas reduções. Para o executivo, o importante é manter a disponibilidade de crédito. O mercado de carros é um dos mais dependentes de financiamento, com cerca de 70% das vendas feitas por crediário.
O presidente da Fecomércio, Abram Szajman, viu a decisão como conservadora diante da pouca evidência de risco inflacionário. “Indiretamente o governo está alimentando um fluxo de investidores internacionais que ainda são regiamente remunerados ao investirem no Brasil”, disse.
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, também disse que a política do BC continua voltada em prol dos especuladores. Em sua opinião, a decisão do Copom frustra os trabalhadores que “ansiavam por uma queda drástica na taxa de juros como estímulo à economia neste quarto trimestre.”
De acordo com Paulinho, as incertezas econômicas que dominaram o primeiro semestre estão se dissipando, e o BC, ao manter a taxa básica, prejudica o setor produtivo. “É importante ressaltar que parte do parque industrial continua ociosa e os membros do Copom permanecem insensíveis com esse setor, que gera renda e emprego.”
Szajman reclamou que a redução promovida nos últimos meses não foi repassada em todas as modalidades de empréstimos. Para a Fecomércio, a Selic já está em um dígito mas, agora, “a meta é perseguir um dígito próximo aos de países civilizados.”