A greve dos caminhoneiros reforça a necessidade de fazermos permanentemente uma reflexão sobre quais são as reais e o tamanho das necessidades do Brasil. Não é só uma luta pela redução do preço do diesel.
O movimento explodiu, com expressivo apoio da população, porque ninguém aguenta mais pagar tantos impostos e não receber nenhum serviço de qualidade em troca. Temos que arcar com os prejuízos do descaso com as estradas, a saúde pública, a educação, o déficit habitacional, a desnacionalização do País e a qualidade de vida e de trabalho da classe trabalhadora. Enquanto isto, os privilégios e oportunismos rolam soltos por aí.
Sobre a greve dos caminhoneiros, o presidente Temer foi à TV dizer que é preciso atender as necessidades básicas da população. Quais necessidades? Há anos a população sofre com a falta de medicamentos nos postos de saúde, os hospitais não têm leitos suficientes nem material básico de trabalho e os pacientes, inclusive com doenças graves, esperam meses por uma consulta ou um exame, enquanto a doença evolui. E o que dizer do sistema de transporte precário, do desemprego crescente e dos 27 milhões de trabalhadores sub-aproveitados?
Temer disse que as “medidas tomadas atendem praticamente a todas as reivindicações dos caminhoneiros”. Atendem ou protelam? A política de refino da Petrobras e de preços dos combustíveis vai mudar e deixar de atender os interesses dos acionistas privados e do capital internacional?
Por outro lado, o pleito dos transportadores não é dissociado dos da população e dos trabalhadores. E os preços do gás de cozinha, dos medicamentos e da habitação? E a falta de correção da tabela do Imposto de Renda? E o congelamento dos investimentos públicos em saúde e educação?
Precisamos dar uma virada na política econômica do País e olhar para quem realmente precisa. O presidente falou também em solidariedade. Solidariedade se pratica. Então, que o governo comece a praticá-la. Desejamos uma solução para a paralisação, sensata, sem confrontos nem violência. E repudiamos qualquer forma de intervenção militar e opressora. A luta dos caminhoneiros é a luta de todos nós, brasileiros e brasileiras.
Miguel Torres
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes e da CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos), vice-presidente da Força Sindical e um dos coordenadores do movimento Brasil Metalúrgico