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Após redução de 1,5 milhão de postos em 2015, analistas projetam cortes de mais de 1 milhão em 2016
Drenado por uma onda de demissões em quase todos os setores, o mercado de trabalho perdeu no ano passado 1,5 milhão de postos formais, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Com a redução de 3,7% no volume de carteiras assinadas no país, o número de trabalhadores formalizados chegou a 39,6 milhões, nível semelhante ao registrado em 2012.
Apesar de o resultado ser o pior da série e o primeiro negativo desde 1999, não há previsão de alívio no curto prazo. Considerando que as primeiras estimativas para este ano projetam fechamento de mais de um milhão de vagas, o biênio 2015-2016 pode superar a marca dos 2,5 milhões de empregos formais perdidos.
O ministro do Trabalho e Previdência Social, Miguel Rossetto, admitiu ao comentar os números que 2015 foi um ano “difícil” para o emprego, mas destacou que o mercado de trabalho tem “capacidade rápida de resposta”. “Minha expectativa é que, na medida em que tenhamos início de retomada dessa atividade, haverá retomada muito rápida da geração de emprego”, disse.
A indústria liderou as demissões em 2015, com 608,8 mil cortes, reduzindo sua participação no volume vagas no país para 19,2%, contra 20,9% em janeiro de 2013. A construção civil foi a que mais perdeu em termos percentuais – as 416,9 mil demissões líquidas representam redução de 13,6% no estoque de emprego. Os serviços e o comércio, com, 276,1 mil e 218,7 mil, respectivamente, tiveram o primeiro desempenho anual negativo desde 1998.
Apesar de continuarem neste ano, as demissões devem mostrar uma composição ligeiramente diferente, dizem economistas, com um ritmo menor de cortes na indústria e manutenção do ajuste intenso observado nos serviços nos últimos meses do ano.
“A queda na produção industrial foi muito forte no ano passado. As empresas já adequaram [os quadros de funcionários], demitiram os trabalhadores mais qualificados”, afirma o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira. Os serviços, diz, por terem sido o último setor a sentir os efeitos da recessão, ainda têm espaço para cortar. “Eles vão ser o grande destaque negativo do primeiro trimestre”.
Para o economista Fabio Romão, da LCA Consultores, o primeiro trimestre deve ser o pior para o emprego neste ano, reflexo ainda da recessão forte do ano passado, responsável por uma contração de 3,6% no PIB, conforme as estimativas da consultoria. O mercado de trabalho, lembra, reage à atividade de maneira defasada. Assim, a nova queda esperada para o rendimento real, ainda que em nível menor do que em 2015, reforça a expectativa de novas demissões no comércio e nos serviços.
A projeção da LCA para o saldo de vagas formais em 2016, negativo em 1,2 milhão, conta com perdas de 517 mil empregos na indústria, que devem se concentrar nos primeiros três meses do ano. Romão ressalta, entretanto, que segmentos como o de material de transporte e o de metalúrgica e mecânica, que contam grande volume de funcionários em regime de “layoff” e férias coletivas, podem passar por novos desligamentos significativos.
Os salários médios de admissão contabilizados pelo Caged recuaram 1,64% em termos reais em 2015, 2,4% só em dezembro, passando a valer R$ 1.270,74. Essa queda expressiva no poder de compra das famílias, que deve continuar também neste ano, pondera a MCM Consultores, fará com que o mercado de trabalho seja um dos poucos focos de alívio para a inflação neste ano.
A dinâmica é inversa àquela observada ainda em 2014, quando a taxa de desemprego medida pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) atingiu a mínima histórica de 4,8% e os salários do Caged aumentaram 0,5% em termos reais. Em 2013, eles avançaram 3,1%, já descontada a inflação.
Para Oliveira, do Fibra, o mercado de trabalho deve seguir desinflacionário pelos próximos três anos, pelo menos. Ao lado da taxa de câmbio “mais comportada”, será um dos principais responsáveis pela inflação “em torno do centro da meta” durante o primeiro semestre.