Folha de SP – DE SÃO PAULO
O Brasil ainda é um importante produtor mundial de manufaturas. Mas seu peso no setor global provavelmente caiu em consequência de um ritmo de crescimento da indústria mais lento que o de outros emergentes, como China, Índia e Rússia em anos recentes.
Esse foi o cenário revelado pelo último anuário de estatísticas internacionais da Onudi (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial), divulgado recentemente.
Segundo dados da Onudi, compilados pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o valor adicionado pela indústria brasileira (medida do que o setor de fato produz, descontados custos de insumos) cresceu a uma taxa média de 3,5% entre 2005 e 2008.
O número perde de longe para as taxas no mesmo período de China (12,9%), Índia (8%) e Rússia (6,9%), que, com o Brasil, formam os Brics.
Apesar do crescimento fraco, o Brasil ainda figurava em 2008 entre os 15 maiores produtores mundiais em 21 de um total de 22 setores mais importantes da indústria de transformação.
Mas, considerando 20 desses setores (para os quais há dados da Onudi disponíveis tanto para 2000 como para 2008), a participação do país na geração de valor agregado da indústria mundial encolheu em 13 e ficou estagnada em um deles.
Recente tese de doutorado do economista Alexandre Comin, professor licenciado da PUC-SP, defende que o Brasil passa por um processo parcial de desindustrialização.
Em linha com os dados da Onudi, ele mostra, por exemplo, que 21 dentre 23 setores da indústria de transformação tiveram perda de densidade entre 1996 e 2006.
Ou seja, a proporção do que é produzido de fato (descontando, por exemplo, insumos importados ou não industriais) vem caindo.
“A produção industrial cresce na ponta, mas com uma maior proporção de componentes importados”, afirma Comin. (EF)
Produção industrial volta a cair e confirma desaceleração da economia
Folha de SP – CIRILO JUNIOR DO RIO
A produção industrial brasileira voltou a cair em junho. A retração de 1% foi a mais intensa desde dezembro de 2008, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com três quedas consecutivas, que representam recuo de 2%, o desempenho recente da indústria ratifica o desaquecimento da economia ao longo do segundo trimestre, depois de um forte crescimento nos três primeiros meses de 2010 -alta de 6,1% no acumulado do período.
Especialistas afirmam que o quadro já era esperado, e a tendência é que haja um crescimento moderado daqui para a frente.
“O primeiro trimestre surpreendeu para cima, e o segundo, um pouco para baixo. Essas oscilações não geram preocupação. Há fatores positivos, como renda, salário e crédito em alta”, disse Douglas Uemura, da LCA Consultores.
O acelerado ritmo de crescimento levou a indústria a patamar recorde em março. Naquele mês, houve avanço de 3,4% ante fevereiro, lembrou Leonardo Carvalho, do Ipea. Seria difícil manter esse ritmo, avaliou.
Em relação a igual período de 2009, o primeiro semestre teve avanço de 16,2%, variação recorde dentro da série histórica iniciada em 1991. Deve ser levado em conta, no entanto, que o patamar estava baixo, devido à crise.
André Macedo, do IBGE, minimizou o fato de o recuo de 1% ter sido o pior desde o auge da crise, no fim de 2008. Em dezembro daquele ano, a produção chegou a cair 12,2%, ante o mês anterior.
O desempenho em junho pode ter sido prejudicado pela Copa, já que o Brasil fez três jogos em dias úteis. Mas a ausência desse fator, provavelmente, não teria impedido o resultado negativo.