“Pressionada pelo forte crescimento das importações, devido à valorização do real no último ano, a indústria de transformação está perdendo competitividade. Passado o trauma da crise econômica mundial, o PIB e a produção industrial brasileira apresentaram em 2010 uma recuperação expressiva, crescendo 7,5% e 10,5% respectivamente, maior expansão desde 1986.
Esta expansão, contudo, mitigou uma dura realidade: a produção industrial brasileira não acompanhou o crescimento do consumo interno e este fato explica-se em boa medida pelo pesado incremento das importações. Os produtos brasileiros têm perdido espaço para os produtos importados. Com certeza, poderíamos ter crescido e gerado mais empregos. Em outras palavras, com esta enxurrada de importações, o País gera empregos no exterior em detrimento dos empregos nacionais.
Os trabalhadores não são contra os importados, mas a população precisa preservar seus empregos e melhorar sua renda para continuar consumindo. Isto só se consegue com crescimento sustentável, indústria robusta e geração de postos de trabalho com qualidade. Neste sentido, entendemos que o momento é propício para discutirmos alternativas de enfrentamento desta realidade.
Vários fatores contribuem para a perda da competitividade da Indústria brasileira: taxa de câmbio excessivamente apreciada, concorrência espúria, maior taxa de juros real do mundo (6%), investimento (18% do PIB), gargalos de infraestrutura (comunicações, transportes, logística).
Outros aspectos, não menos importantes, também precisam ser enfrentados. Segundo dados do Ministério de Ciência e Tecnologia – MCT, em 2008, do total investido no País em pesquisa e desenvolvimento (P&D), aproximadamente 44% foi bancado pelas empresas.
Em países como EUA, Coreia, Japão e Alemanha, o maior investidor em P&D é o setor privado. Somente nos dois países orientais mencionados, o investimento das empresas em P&D ultrapassou 70%. A inovação é um importante elemento para reduzir os impactos da valorização da moeda.
Por outro lado, a taxa de rotatividade da mão de obra na indústria de transformação de 37,9% é uma das maiores do mundo, aproximadamente 50% da mão de obra no País está empregada a menos de dois anos. Neste ambiente tão instável, ficam evidentes problemas como baixa remuneração, intensificação do trabalho (crescimento de horas extras) e baixa qualificação profissional.
Diante desta realidade, é estratégico construir um canal de interlocução entre trabalhadores, empresas e governo, visando, além de garantir o crescimento da indústria e do emprego em 2011, um projeto de desenvolvimento sustentável para o País que garanta maior crescimento, distribuição de renda, valorização do trabalho e democratização das relações de trabalho”.
Miguel Torres
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes e vice-presidente da Força Sindical
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