Os rentistas e os cabeças de planilha não sossegam quando se trata de direitos dos trabalhadores – querem sempre os derrubar e contabilizam os benefícios como ameaças à saúde financeira do governo.
O último exemplo é a tonitruante notícia de que as despesas com seguro-desemprego subiram quase 400% em dez anos, passando de 6,6 bilhões de reais para 32 bilhões entre 2003 e 2013.
Ao mesmo tempo apresentam a contradição entre a queda do desemprego e o aumento das despesas com o seguro, insinuando, é claro, fraudes, ineficiência, malversação, corrupção e exigindo cortes.
Conseguem transformar um somatório de dados positivos – cumprimento de um direito, aumentos reais do salário mínimo (que corrige o seguro), ampliação do número de beneficiados e formalização do vinculo de emprego – em elementos de crise para contrabalançar a malfadada rotatividade da mão de obra que, ela sim, é a grande vilã da história.
Enquanto quase metade dos trabalhadores é demitida em um ano e recontratada após um período para as mesmas tarefas com salários menores, o seguro-desemprego – direito do trabalhador – passa a ser um auxiliar desta prática perversa e antissocial. Em 2013, por exemplo, 22 milhões de trabalhadores foram contratados com carteira assinada, mas 21 milhões foram demitidos. E assim, ano após ano, o total de beneficiados pelo seguro- desemprego passou de cinco milhões para nove milhões de trabalhadores de 2003 a 2013.
Reprimir as fraudes, melhorar o serviço e exigir requalificação (sem quebra de direito) são iniciativas corretas; mas é preciso bater, e bater forte, na rotatividade, uma das heranças malditas da ditadura militar.
Por João Guilherme Vargas Netto