O Estado de SP
Na véspera da apresentação da prévia do plano de reestruturação, quebra ainda ronda GM e Chrysler
Às vésperas do prazo marcado pelo governo para que a General Motors e Chrysler apresentem uma prévia dos seus planos de reorganização para justificar a ajuda financeira recebida e evitar a falência, representante do presidente Barack Obama disse que as montadoras americanas precisam fazer uma reestruturação significativa.
As duas companhias devem apresentar amanhã, em Washington, as medidas que pretendem adotar para se tornarem viáveis. Se não forem convincentes, terão de devolver as parcelas já recebidas da ajuda de US$ 17,4 bilhões aprovada em dezembro. Sem o dinheiro, elas vão quebrar. Segundo a imprensa americana, a GM, que ainda tem uma parcela de US$ 4 bilhões a receber, estuda pedir mais dinheiro à Casa Branca ou até declarar falência.
Ontem, o assessor de Obama, David Axelrod, disse que “deverá haver concessões por parte de todos”, pois “precisamos de uma indústria do automóvel próspera neste país.”
Em dezembro foi aprovada uma ajuda de US$ 13,4 bilhões à GM e de US$ 4 bilhões à Chrysler. O governo deu prazo até 17 de fevereiro para que elas apresentassem uma prévia dos seus planos de reorganização. O projeto final de reestruturação será entregue em março. Para ter direito ao socorro, as empresas devem promover mudanças em seus métodos de produção, modelos e estrutura empresarial para se tornarem viáveis.
“O presidente disse várias vezes que isso requereria uma reestruturação significativa da indústria, de modo que as empresas olhem para a frente, e não para trás, na produção dos veículos que as pessoas querem comprar”, disse Axelrod.
Segundo ele, a reforma da indústria automobilística americana exigirá sacrifícios “não só de parte dos trabalhadores, mas dos acionistas, dos credores e dos executivos que dirigem as companhias”.
A imprensa americana também noticiou que o Sindicato de Trabalhadores, o UAW, retirou as concessões que tinha feito em suas negociações com a GM. As conversas foram suspensas na sexta-feira à noite, mas havia indicações de que seriam retomadas ontem à noite.
A GM não revelou o valor do fundo extra que pode solicitar. Funcionários do Departamento do Tesouro acham que ela precisa de pelo menos mais US$ 5 bilhões para manter operações além deste trimestre.
Outra saída pode ser a empresa pedir garantia federal se optar pela concordata (o chamado Chapter 11), que permite a reestruturação ante condições. Mas a opção da concordata é politicamente delicada frente à potencial supressão de empregos. O setor gera 3 milhões de postos diretos e indiretos. Na crise atual, muitas vagas já foram perdidas. Nos últimos dias, ambas anunciaram novos cortes. A GM, ex-líder mundial no mercado automobilístico – foi destronada em 2008 pela japonesa Toyota -, anunciou na semana passada cortes de operários e executivos. O grupo espera eliminar 31,5 mil postos nos EUA e ficar com 65 mil a 75 mil pessoas até 2012.
A GM também disse que pretende renegociar dívidas com credores e vender a marca de jipes Hummer. A Chrysler tinha 46 mil assalariados em 2008 e também anunciou cortes. Além disso, negocia parceria com a italiana Fiat.
O analista da Standard and Poor?s, Gregg Lemos-Stein, vê “risco elevado de quebra de pelo menos uma das duas fabricantes”. Os analistas preveem queda das vendas nos EUA para 10 milhões de veículos, redução de 24% em relação a 2008.
Para o presidente da GM do Brasil, Jaime Ardila, a economia dos EUA terá forte recessão, mas sairá primeiro do processo. “O ano de 2009 ainda será difícil, mas em 2010 começará a recuperação.” Na opinião do executivo, que dirige uma filial lucrativa, “a GM fará uma reestruturação profunda e será uma empresa forte quando a crise passar”.
AGÊNCIAS INTERNACIONAIS e CLEIDE SILVA
NÚMEROS
US$ 13,4 bilhões é a ajuda que a GM recebeu do governo em três parcelas
US$ 4 bilhões é o valor do socorro à Chrysler
31,5 mil é o número de funcionários que a GM pretende demitir nos EUA até 2012
10 milhões é o total de carros que devem ser vendidos no mercado americano este ano
24% é o porcentual de queda das vendas em relação a 2008