“Governos, assim como pessoas e famílias, não devem gastar mais do que arrecadam ou ganham. Quando isso ocorre, são necessários ajustes.
No caso de pessoa, ou família, é mais simples. Basta cortar gastos supérfluos, consumir marcas mais baratas, suspender eventuais viagens ou adiar a troca do carro, a reforma da casa etc.
Os gastos governamentais são muito mais complexos, por envolver custeio da máquina, salários de Servidores, quitação de precatórios, investimentos em obras ou programas sociais, pagamentos de juros da dívida, entre outras.
No caso de uma família, a decisão dependerá apenas da própria família. Já o governo precisa estar atento a leis, a compromissos, à cobrança da mídia e a pressões de interesses eventualmente contrariados, incluindo-se a pressão parlamentar, pois deputados e senadores correm atrás de emendas para obras e projetos em suas bases.
O que faz um governo, geralmente? Opta pelo mais cômodo. E o mais cômodo é cortar dos mais desprotegidos, ou seja, trabalhadores da ativa, desempregados, aposentados e pensionistas. Enfrentar o poder econômico, aplicando imposto sobre grandes fortunas ou controlar remessa de lucros das multinacionais, isso raros topam fazer.
Ninguém é contra cortar abusos, na concessão de benefícios previdenciários (para uma elite privilegiada, especialmente de Servidores) ou no fornecimento, fraudulento, de guias do seguro-desemprego. Mas cortar de forma horizontal, atingindo a todos, é cometer injustiça em cima dos cidadãos.
Digo isso para afirmar que a equipe econômica da presidente Dilma errou na forma e no conteúdo ao baixar o pacote que reduz benefícios. Forma: decidiu antes de tomar posse; não consultou nem buscou negociar com Sindicatos e Centrais; anunciou as medidas às vésperas do Natal, que é época festiva.
Conteúdo: o pacote que atinge os mais fracos não dá qualquer sinal de que haverá medidas contra os privilegiados.
Bom governante dá exemplo. Não se sabe, quanto ao governo federal, de redução no número de cargos comissionados (milhares), do corte de despesas supérfluas (flores, vinhos, caviar etc.), do congelamento de ganhos dos aliados nos conselhos de estatais e autarquias (onde se paga regiamente).
Esses cortes resolveriam o problema fiscal do Brasil? Não. Mas dariam exemplo. Bons exemplos.
Salário – Onde Dilma acertou? Acertou ao desautorizar Nelson Barbosa, ministro do Planejamento, que havia anunciado mudanças na fórmula de aumento real para o salário mínimo. E poderá acertar mais. Para isso, precisará ouvir a sociedade, especialmente o setor produtivo e os trabalhadores.
Fazer ajustes, sim. Mas ajustes que atinjam privilegiados, na política e na economia”.
José Pereira dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região