“Há hoje dois pontos de vista que perturbam os dirigentes sindicais e fazem que eles se desorientem sobre o que deve ser feito e como fazê-lo.
O primeiro deles é ver – sem olhar crítico – tudo aquilo que “querem” que seja visto, na forma e nas colorações que “querem” dar à visão.
O outro é não ver – com o olhar indignado – o que se passa em volta, na vida diária e sofrida dos que nos são próximos ou pertencem à base da nossa representação.
Ver somente o que “querem” que se veja ou não ver aquilo que nos rodeia compõem o duplo cego. Um é cego de antolhos, o outro é cego mesmo.
Tomemos o caso do desemprego e dos desempregados.
Querem que vejamos a tragédia com olhos de estatísticos preocupados com a fraudulenta exatidão dos números e aceitemos a fatalidade do quadro.
Ao mesmo tempo não vemos a situação dramática dos desempregados, nossos semelhantes, nossos irmãos.
Não nos emocionamos e não nos indignamos com a tragédia social que nos enluta mais que mil deslizamentos de terra, mil quedas de avião, mil degolamentos em presídios e mil mortes de teoris.
Embora, com justa razão, o movimento sindical tenha como um dos eixos de sua ação a luta contra a recessão, pelo abaixamento de juros e pela retomada do desenvolvimento, o terror estatístico dos números do desemprego não pode nos levar a pasteurizar a luta para diminuir as agruras e sofrimentos dos desempregados.
A Frente Contra o Desemprego das entidades sindicais paulistanas que, de maneira articulada, unitária, paciente e persistente, pretende lutar contra o desemprego em São Paulo, precisa urgentemente concentrar-se naquela ação que pode, no curto prazo, representar isto: a efetivação do passe livre para o desempregado, que já é lei e precisa apenas ser regulamentada.
Esta ajuda concreta aos milhões de homens e mulheres desesperados pode ser o início de uma verdadeira e consequente plataforma paulistana de combate à catástrofe social do desemprego.
Eu me emocionei quando vi no Jornal Nacional o choro da jovem mãe desempregada e em busca de emprego que, tendo gasto dois reais em um cartório, não tinha dinheiro para voltar de ônibus para casa”.
Por João Guilherme Vargas Netto
consultor sindical