“A política vive uma fase de descrédito em todo o mundo. Essa perda de prestígio atinge também os partidos, que perdem apoio popular, se dividem ou abandonam os compromissos programáticos. O resultado é mais despolitização.
Em outubro, teremos eleições no Brasil e o processo eleitoral se dará num momento de enfraquecimento partidário. As pesquisas mostram que a crise, que atingiu em cheio o partido no poder – no caso, o PT – não beneficiou outras siglas. O desgaste é generalizado.
E a situação tende a se agravar, caso a operação Lava-Jato prossiga. Nomes históricos da política aparecem nas gravações e delações, mostrando a forte contaminação dos partidos pelo poder econômico ou a participação em negócios fora da lei.
O desgaste partidário é lesivo ao Estado de Direito e a própria confiança na democracia acaba perdendo força. Na Europa, uma das consequências é o ressurgimento de partidos de extrema direita, com forte componente racista. Nos Estados Unidos, o fenômeno é o empresário direitista Donald Trump, que surgiu à margem do próprio Partido Republicano e tem chances de vencer a eleição presidencial.
O atual quadro brasileiro é muito complicado, devido à recessão econômica, à crise política e ao afastamento da presidente Dilma. O interino Michel Temer, por mais habilidoso que seja, não tem a sustentação do voto popular, o que fragiliza a legitimidade de seu governo.
Nos municípios, o quadro não é menos complicado, tendo em vista a situação drástica das finanças públicas – muitas prefeituras atrasam salários e deixam de pagar direitos do funcionalismo. O fim da transferência de recursos federais também agrava o quadro, ao paralisar obras importantes para a sociedade e a economia.
Desde que milito na política, tendo começado no antigo Partidão, considero a conjuntura atual uma das mais complicadas. A situação nacional atual combina recessão econômica, desemprego, paralisia de obras com crise política e desconfiança da sociedade. Como fazer campanha eleitoral num ambiente desses? Como pedir voto ao eleitor? Como defender partidos e candidatos?
Essas questões são concretas e não haverá marketing político capaz de operar milagres. Os partidos estão diante do desafio de recuperar seu papel histórico. Se assim não fizerem, passarão a ser secundários na vida nacional”.
José Pereira dos Santos
Presidente licenciado do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região