Uma das poucas iniciativas do governo Temer em benefício direto dos trabalhadores (eu ia dizendo a única, mas passe a condescendência) foi a liberação dos saques das contas inativas do FGTS.
De acordo com balanços publicados pela imprensa quase 30 milhões de trabalhadores foram beneficiados (ou ainda o serão) recuperando para suas despesas pessoais cerca de 44 bilhões de reais que estavam parados, rendendo juros ridículos.
Este montante desempenha um papel não negligenciável no enfrentamento da crise pelos trabalhadores, recheando o colchão social de amortecimento da recessão.
Aí chega o diabinho da mão furada e dá ao governo mais uma de suas ideias mirabolantes, de amigo da onça. E qual foi ela?
Os técnicos do ministério da Fazenda (sob o comando do mercado e ouvintes do diabinho) propõem e o ministro (que já se acha meio presidente da República porque Temer é apenas meio presidente) se apressa em divulgar que os recursos do FGTS devidos aos trabalhadores em caso de demissão sem justa causa não serão liberados, mas sim pagos parceladamente. E o que é pior, essas parcelas compensariam o não pagamento do seguro desemprego aos que, demitidos, têm esse direito.
Pela ideia estapafúrdia do diabinho, cuja insensibilidade social iguala à dos burocratas da Fazenda, a medida é queda e coice nos trabalhadores: sem FGTS, sem seguro desemprego. Dupla tamancada.
A coisa é tão estúpida e com efeitos tão daninhos que o próprio senador Serra (que não pode ser acusado de amiguinho) insurgiu-se publicamente contra a iniciativa e desautorizou o desatino, classificando-o de “aberração”.
O diabinho da mão furada ficou todo sorridente e entrevistado limitou-se a dizer que, com sua ideia aceita e implementada, os eventuais ganhos do governo e da sociedade com a liberação do saque das contas inativas serão mais que neutralizados pelo arrasa-quarteirão dessas novas medidas de tunga aos trabalhadores.
“Dei o meu conselho, quem me escutou que vá para o diabo”, declarou.
Por João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical