Leonardo Rodrigues / Valor |
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Miguel torres, do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo: preocupação com as demissões nas pequenas empresas |
Desde fevereiro, o mercado de trabalho formal apresenta saldo líquido positivo nas áreas de serviços, agropecuária e construção civil. Já a indústria mantém trajetória de queda que já dura cinco meses. O último levantamento sobre empregos com carteira assinada divulgado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) revela que, em março, o saldo de geração de postos formais no país ficou positivo em 34,8 mil vagas. O setor industrial, porém, fechou 35,3 mil vagas.
De novembro a março, foram fechados 753,5 mil postos com carteira de trabalho no país. A indústria respondeu por 506,8 mil (67,3%) desse total. O saldo foi atenuado pelo setor de serviços, que se manteve aquecido e gerou 25 mil vagas. Para se ter ideia, entre novembro de 2007 e março de 2008, quando a economia estava aquecida, o saldo de postos formais no país ficou positivo em 359,6 mil. Desse total, 8,1 mil foram criados pela indústria e 236,9 mil pelo setor de serviços.
Economistas da LCA Consultores e da equipe econômica do Bradesco ponderam que o ritmo de fechamento de postos formais diminuiu mês a mês, principalmente devido à redução do IPI para automóveis (a cadeia automotiva responde por cerca de 40% da produção industrial no país), que estimulou as vendas no mercado interno. Dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) revelam que no primeiro trimestre as vendas de veículos e comerciais leves ficaram 4% acima do total comercializado em igual período de 2008. Na primeira quinzena de abril, as vendas cresceram 1,27% sobre março e 1,01% comparado ao mesmo intervalo de 2008.
A recuperação nas vendas ao mercado interno levou montadoras e empresas de autopeças a antecipar o fim de acordos de redução de jornada. No ABC, conforme o Sindicato dos Metalúrgicos, oito das 44 empresas fizeram acordos para reduzir a jornada normalizaram as atividades antes do prazo – Ife, Altwin, Proxyon, Fiamm, Polistampo, Kostal, Delga e Metalpart. A Volkswagen, após as férias coletivas de janeiro, convocou os trabalhadores para horas extras em todos os sábados.
Em São Paulo e Mogi das Cruzes, três dos 30 acordos fechados em janeiro já foram cancelados (Valeo, Armco e WG) e outras 17 empresas antecipam o fim da jornada reduzida nos próximos dias, segundo o presidente do sindicato, Miguel Torres. “O sindicato ainda não foi procurado por empresas para discutir demissões. Mas preocupam as pequenas autopeças, que enfrentam problemas financeiros mais sérios e empregam muita gente, só que de maneira pulverizada”, afirma Torres.
Na Grande Curitiba, a Renault antecipou o fim do lay-off para 500 dos 850 funcionários. A empresa de autopeças Maflow também antecipou o fim do acordo em mais de um mês, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos da região. Em Porto Alegre, duas empresas retomaram as atividades após o fim do acordo de redução de jornada (GKN e DHB) e em Gravataí (RS), a General Motors suspendeu as férias coletivas dos 5,2 mil funcionários que ocorreria em janeiro, informaram os sindicatos locais.
Em Camaçari (BA), as atividades na Ford e nas autopeças também foram normalizadas, conforme o sindicato local. E em Betim (MG), onde foi feito apenas acordo garantindo a estabilidade dos metalúrgicos, a Fiat e as autopeças fizeram horas extras em três sábados em março e 45 minutos de horas extras diárias. Na semana passada, a montadora anunciou a contratação de 380 pessoas em suas unidades no país, totalizando 1.019 admissões entre março e maio.
Se nas montadoras e autopeças destinadas a automóveis a produção dá sinais de recuperação, o mesmo não ocorre no segmento de caminhões e ônibus, que seguiu fraco e registrou queda de 14,34% nas vendas no primeiro trimestre. Na primeira quinzena deste mês houve incremento de 6,15% sobre igual intervalo de março, mas na comparação com abril de 2008, a queda foi de 14,33%.
Pelos dados do Caged, o saldo de postos de trabalho fechados pelas indústrias de materiais de transporte reduziu mês a mês, saindo de 14,9 mil em dezembro para 5 mil em março. Também apresentaram estabilidade ou melhora as indústrias metalúrgica, de material elétrico e de comunicações, papel e gráfica, química, têxtil e de vestuário, que também fizeram acordos para redução de jornada que garantiam estabilidade pelo menos até abril.