Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Nissan tem trabalho aviltante denunciado por CUT, UGT e Força ao Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio

BR:

Uma das maiores fábricas de automóveis do mundo, a japonesa Nissan está praticando trabalho aviltante nos Estados Unidos. Na fábrica recém inaugurada no estado do Mississipi, os trabalhadores são obrigados a usar fraldões porque só podem recorrer aos banheiros em intervalos pré-determinados de quatro horas. Os contratos de trabalho são temporários. Os trabalhadores e suas famílias têm sido ameaçados de demissão caso votem, como determina a legislação americana, a favor de um sindicato dentro da empresa para a defesa de seus direitos. Há suspeitas de jornadas de trabalho excessivas, arrocho no pagamento de horas extras e assédio moral sobre a maioria negra que ocupou as primeiras vagas de emprego.

Assim como ocorreu com a Nike, antes e durante as Olimpíadas de Pequim, em 2008, agora é a Nissan que vai sendo denunciada mundialmente por prática de trabalho aviltante. A novidade é que esta campanha mundial está sendo liderada pelas centrais sindicais brasileiras CUT, UGT e Força Sindical. Nesta quinta-feira 18, no Rio de Janeiro, dirigentes das três entidades se reuniram com representantes do UAW – o sindicato dos trabalhadores na indústria automobilística dos EUA – para, em seguida, levar documento com denúncias de desrespeito às regras globais de trabalho decento ao Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos. A denúncia foi recebida pelo embaixador Agemar Santos, dirigente do organismo.

“Procuramos as centrais sindicais brasileiras para desenvolver essa campanha contra o trabalho aviltante na Nissan porque, hoje, o sindicalismo brasileiro é uma referência para nós nos Estados Unidos”, afirmou o diretor da UAW Gary Castel. Ele veio especialmente ao Brasil para deflagrar a ação.

“Vou, pessoalmente, procurar o presidente mundial da Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn, para elevar imediatamente o nível das relações de trabalho na fábrica da empresa no Mississipi e em outras partes do mundo”, disse ao BR: o presidente da central UGT, Ricardo Patah. “A Nissan não pode querer ter uma imagem moderna e ser completamente arcaica em suas relações de trabalho”.

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos, Miguel Torres, detalhou ao BR: o que ocorre dentro da fábrica da Nissan no sul dos EUA. “Os trabalhadores não podem usar os banheiros quando sentem necessidade, mas apenas de quatro em quatro, e por tempo curtíssimo”, assinalou ele. “Para não deixarem a linha de produção dos carros, eles são obrigados a usar fraldões para o caso de ocorrerem necessidades fora do horário estipulado pela empresa. Isso rompe todos os padrões de trabalho decente estabelecidos pela OIT e pela ONU”.

As centrais brasileiras irão usar o percurso da tocha olímpica para denunciar a Nissan em diferentes atos públicos, no caso de a empresa não corrigir seu métodos.

Uma prática recorrente é impedir a filiação dos 2 mil trabalhadores da fábrica no Mississipi ao sindicato da categoria. Nos EUA, a legislação estabelece que deve haver votações dentro das fábricas para que, a depender dos resultados, o sindicato seja criado ou não. Sob ordens do presidente Ghosn, porém, a Nissan está assediando seus trabalhadores para que não aceitem o estabelecimento do sindicato.

 “A Nissan impõe regras feudais que não podem existir no século 21”, disse o sindicalista americano Castel.

A julgar pelos estragos que as ações sindicais à volta dos Jogos do Rio pode fazer na marca de veículos japonesa, a Nissan terá de mudar rapidamente seus métodos se não quiser ser desmoralizada mundialmente.