Por Aparecido Inácio da Silva
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“A campanha salarial deste ano no setor automotivo está dando o que falar. Isto porque as empresas no afã de assegurar a manutenção e ampliação da taxa de lucro aproveitam o embalo da crise econômica que lá atrás atingiu alguns segmentos produtivos e financeiros e resolvem na mesa de negociação apostar na intransigência como a melhor maneira para não atender as reivindicações dos trabalhadores.
Sabemos como isto funciona, uma vez que quando se trata de conceder aumento salarial aos seus empregados elas arranjam justificativas as mais diversas com vistas a não ceder naquilo que para nós é um direito. Desta vez não está sendo diferente.
Os argumentos apresentados são todos voltados para uma situação de crise que vivem as empresas. Mas que crise é esta que no setor automotivo possibilita um índice de produção que somente nos oito primeiros meses do ano gira em torno de dois milhões e duzentos mil veículos? Um número nada desprezível se levarmos em conta que a produção de automóveis em 2008 ficou no patamar dos 3 milhões e 200 unidades. E restam ainda quatro meses. Mantido o ritmo atual, chegaremos em dezembro com o maior índice de produção de todos os tempos no setor automotivo.
Todavia, enquanto a produção cresce o nível de empregos mantém-se estacionado, ou crescendo de maneira vegetativa, gerando desalento para uma classe trabalhadora que necessita de emprego de qualidade para se afirmar dignamente na sociedade. Portanto, o discurso com base na crise não convence ninguém. Até porque as medidas tomadas pelo governo federal, no tocante aos empréstimos baratos, via BNDES, e redução de impostos, além da ampliação do crédito, foram mais do que suficientes para que as empresas montadoras de veículos ignorassem a tal crise. Esta apenas foi percebida quando das demissões absurdas ocorridas entre o final de 2008 e início deste ano. Um quadro que até agora quase não se alterou. As demissões do período citado foram tantas que, há pouco, representantes de setores econômicos importantes admitiram publicamente ter havido exagero no número de cortes. E as empresas que mais dispensaram foram as que garantiram as mais altas margens de lucros aos seus acionistas.
A sociedade necessita se conscientizar disto e passar a enxergar a realidade de outra maneira. Inclusive devendo se posicionar sobre estas e outras questões. Até porque quando uma empresa se instala em determinado estado e/ou município ela recebe uma série de incentivos, tendo, porém como contrapartida a geração de empregos e isto nem sempre acontece. Portanto, para nós trabalhadores que conhecemos bem o problema o caminho é o da mobilização, da luta, por entendermos que com produção em alta o discurso sobre a crise torna-se piada de mau gosto e até falta de respeito para com aqueles que produzem a riqueza e, portanto, merecem ter acesso a ela.
Está mais do que na hora de irmos à luta sem trégua para mudar em definitivo este lamentável quadro no qual as relações entre capital e trabalho caminham para se tornar algo em que apenas uma parte ganha enquanto a outra se sacrifica, sofre as sérias conseqüências dos intensos ritmos de trabalho e, no final das contas, lhe são oferecidas migalhas.
A negociação continua sendo importante, mas deve vir sempre acompanhada de intensa mobilização a partir do chão da fábrica, inclusive na perspectiva da greve, como resposta, caso as empresas insistam nesse jogo de empurra-empurra para não conceder aumento real de salário que é o que todos nós almejamos. A hora é agora quando as empresas montadoras estão vendendo praticamente tudo o que produzem, a ponto de alguns modelos de veículos demorarem até 40 dias para ser entregues aos clientes.
Nossa causa é justa, sabemos o que queremos e não podemos abrir mão dos nossos direitos. A grande batalha está apenas no seu começo. Vamos à luta!”
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Fonte: Zé Raimundo – Assessoria