O capital, principalmente as multinacionais vivem com a velha choradeira de que produzir no Brasil é um sacrifício enorme devido ao alto custo. Balela pura. Na verdade o Brasil é o paraíso para esse pessoal. Essas empresas recebem de mão beijada do governo bilhões em incentivos, isenções e outros benefícios fiscais e tributários. Investem o mínimo aqui e mandam o grosso das regalias que recebem como remessa de lucros para suas matrizes no exterior. De 2008 até o início de 2015, o governo concedeu às multinacionais a incrível quantia de R$ 236,3 bilhões em benefícios com a desoneração da folha de pagamento, desconto do IPI e outros tipos de isenção fiscal. Não é para menos que, praticamente, no mesmo período, as remessas de lucros para o exterior atingiu a incrível marca de U$ 171 bilhões de dólares, segundo o Dieese. Somente as montadoras, setor que lidera a lista de remessas, mandaram para fora incríveis U$ 16,5 bilhões de dólares. A vida é muito boa para as empresas no Brasil.
Essa política de desoneração para favorecer empresas também é uma das causas do rombo nas contas públicas que aprofundaram a crise econômica, que tem ceifado milhares de empregos. E qual a postura das empresas agora para solução da crise que elas ajudaram a criar? Demitir os trabalhadores. Ou seja, as empresas receberam bilhões em benefícios públicos, aumentaram seus lucros, ajudaram a criar a crise e agora agem sem responsabilidade nenhuma, simplesmente mandando embora milhares de pais de família. Só pensam em lucro a todo custo, inclusive através do dinheiro público e não querem nenhum ônus, nenhuma responsabilidade.
Ou pior, de forma oportunista, a patrãozada ainda tenta se aproveitar da situação para colocar a faca no pescoço do trabalhador obrigando-o a escolher entre ficar desempregado ou ficar sem direitos, com salários reduzidos e condições de 20 anos atrás. Nunca uma crise foi tão boa para o empresariado. Estão com a faca e o queijo na mão. Com a última pá de cal dada no processo de impeachment, o cenário que se desenha não é nada animador para os trabalhadores e o movimento sindical . As posições assumidas pelo novo governo, o Congresso e pelo patronal já mostram claramente que esse pessoal vai querer resolver a crise ás custas do sacrifício da população. Isso fica bem claro quando se analisa as propostas da patrãozada para solução da crise e que o governo sinaliza que vai seguir: flexibilização, cortes e retirada de direitos trabalhistas e sociais.
Essa é a velha formula neoliberal, equivocada, cujo fracasso já está comprovado, mas que o patronal e o governo teimam em seguir. A população já está tendo que conviver com o fantasma do desemprego, com o rebaixamento da sua renda. Querer resolver a crise, estrangulando ainda mais o trabalhador com corte de direitos e salários é dar o tiro de misericórdia no futuro econômico do país. É matar a galinha dos ovos de ouro.
Ao contrário do que dizem os economistas de rabo preso como capital, precisamos de políticas que fortaleçam e elevem a renda da população, que fomentem o crédito, que de segurança para investimentos. É isso que vai fazer com que a roda da economia gire, gerando produção, emprego e mais renda. É isso que vai trazer a estabilidade para o país. Retirar direitos não tem efeito nenhum sobre a economia, não gera emprego, não gera renda. Ao contrário, empobrece a população e trava a economia. Ao invés de ficar de lambeção com o patronal, o governo devia para de enrolação e começar a agir com mais pulso e medidas concretas. Até agora falou demais e trabalhou de menos. Não fez NADA que pudesse ajudar a economia.
É por isso, que nós, metalúrgicos da Grande Curitiba, já tomamos uma posição. Não vamos aceitar que a conta da crise criada pela irresponsabilidade do patronal e imobilismo do governo fique nas costas dos trabalhadores. Não vamos aceitar ter que trocar direitos conquistados a muito custo por nenhuma garantia de emprego. Vamos lutar para exigir que o governo cobre das empresas que mamam dos cofres públicos a responsabilidade delas com os empregos. Chega dessa farra do empresariado com o dinheiro do contribuinte. Se a empresa usa dinheiro público, dinheiro do contribuinte, ela não pode demitir. Queremos a preservação dos nossos empregos e nosso direitos. Ou lutamos agora para acabar com o assanhamento da patrãozada ou vamos comer o pão que o diabo amassou. Não precisamos de flexibilização de direitos. O que queremos é a retomada da economia já. Vamos para a luta já!
Sérgio Butka
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba/PR