09 set 2016
Artigo
O presidente da Força Sindical está elétrico. Paulo Pereira da Silva tem multiplicado seus contatos com dirigentes das centrais sindicais do País – CUT, UGT, CSB, Nova Central e CTB – para a realização de uma manifestação nacional a favor da manutenção dos direitos trabalhistas e contra reformas econômicas que penalizem os trabalhadores. A data já está certa, no próximo dia 22. A expressão dos atos promete ser forte, em razão da série de ameaças de precarização das relações trabalhistas e de perdas em relação à Previdência Social que, dia sim, dia sim, pululam nos jornais a partir de uma única fonte, o Palácio do Planalto.
“Os trabalhadores estão aumentando rápida e gradativamente seu nível de mobilização”, calculou Paulinho nesta entrevista ao BR:. “Manifestações de protesto têm surtido o efeito de aumentar a pressão sobre o governo e mostram que estamos no caminho certo. O que não podemos fazer é nos precipitarmos e, antes do tempo certo, chamar uma greve geral. Há negociações em curso, o governo tem recuado em muitos pontos. Nem tudo o que sai nos jornais é verdadeiro. E sabemos que não se faz greve com base em boatos. Seria muita irresponsabilidade com o trabalhador e chefe de família”, completou.
Acompanhe:
BR: As centrais sindicais realizaram de modo unitário, no fim do mês passado, na avenida Paulista, uma significativa manifestação a favor da manutenção dos direitos trabalhistas. Em seguida, o volume dos atos gerais contra o governo Temer só fez crescer. Já está na hora de uma greve geral?
Paulo Pereira da Silva: É exatamente porque as manifestações estão crescendo, porque a mobilização da sociedade está aumentando e porque o governo, em muitos pontos, está desdizendo o que os jornais publicam sobre retirada de direitos trabalhistas e previdenciários que devemos seguir nesta estratégia. O caminho correto a seguir está apontado pela realidade: aumentar as manifestações e manter a pressão pelos protestos pontuais que, feitos em sequência, estão nos fortalecendo. Por mais que o governo queira vender o otimismo de que o pior da crise já passou, não é o que a gente vê nas fábricas e demais locais de trabalho. Demissões em massa seguem acontecendo. A atividade industrial está sob forte ameaça. No setor de serviço, no comércio, todos os trabalhadores estão sob enorme pressão. O futuro de milhões de famílias está em jogo neste exato momento. O risco de se chamar uma greve geral nacional neste quadro é muito alto. Um gesto precipitado deste tipo pode colocar toda a nossa crescente mobilização a perder. E, além do mais, não se faz greve em cima de boatos.
BR: Mas as ameaças aos direitos trabalhistas e previdenciários, por parte do governo Temer, são reais. Ou o sr. não acredita no caráter anti-trabalhista deste governo?
Paulinho: As ameaças existem e estão sendo combatidas uma a uma pelo movimento sindical, desde as entidades de base até as centrais sindicais. Nada tem ficado sem resposta. Quanto ao caráter anti-trabalhista, existe um paradoxo forte entre o governo atual e o que acabou de passar. O primeiro gesto concreto do governo Temer, ainda interino, foi chamar as centrais sindicais para uma mesa formal de negociações, dentro do Palácio do Planalto, para tratar da reforma da Previdência Social. No governo Dilma, o que a então presidente fez, dias antes da posse, foi chamar representantes dos trabalhadores, num encontro com o então chefe da Casa Civil Aloizio Mercadante, e avisar que estava alterando o acesso ao seguro desemprego e que iria acabar com conquistas como o auxílio-doença. Dizia que isso iria solucionar o problema econômico do Brasil, fazer o tal ajuste. Quem é mais anti-trabalhista? Temer que nos chamou para conversar, ou Dilma que nos deu uma paulada logo de cara e nem apareceu para assumir sua violência?
BR: Mas, dia sim dia sim, o governo, sob a fonte Palácio do Planalto, anuncia retiradas de direitos e está disposto a mandar para o Congresso uma reforma da Previdência com a imposição da idade mínima para a aposentadoria de 65 anos para homens e mulheres.
Paulinho: Eu não estou chamando o governo Temer de última coca-cola gelada no deserto do Saara. Sabemos que forças ultraconservadoras o apoiam e lhe dão sustentação. O que verifico, no entanto, é que temos sim espaços formais para o debate. Quero lembrar que, apesar de todas os boatos e rumores, as negociações não foram encerradas. Se, de fato, o governo enviar ao Congresso uma reforma dura da Previdência, que represente um atraso em relação ao que temos hoje, em lugar da modernização desejada por todos, a começar pelos trabalhadores, a luta muda de patamar. Sai da mesa de negociação e vai para o plenário do Congresso. Fica no Congresso e ganha, a seu favor, a pressão das ruas. Já marcamos deputado a deputado no passado, e vamos fazer isso de novo em nome de manter os direitos trabalhistas e sociais. Faremos isso outra vez agora. Dentro de dois anos haverá eleições parlamentares, e até onde eu sei os políticos não têm tendências suicidas.
BR: E por que não incluir uma greve geral nesse arsenal de luta?
Paulinho: Na década de 1980, já fizemos uma greve geral e alcançamos sim resultados expressivos, durante o governo Sarney. Me lembro que o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão, cunhou uma frase que ficou famosa. “Fizemos de uma quinta-feira de trabalho um feriado em São Paulo”, ele disse. E foi isso mesmo. Paramos os metalúrgicos, pararam os condutores de ônibus, pararam os metroviários, os têxteis, os químicos, os trabalhadores na alimentação, houve greve na região Nordeste, para grande surpresa do governo, e manifestações por todo interior do país e no campo. Isso foi construído com o acúmulo de mobilização. Neste momento, estamos acumulando forças. Nossa estratégia de manifestações, como se pode ver pelo crescente número de pessoas nos protestos, está dando um grande resultado. O trabalhador está percebendo que a luta está se fortalecendo mesmo em meio à crise de desemprego. Tanto é assim que, a cada boato que sai por ai sobre retirada de direitos, aparece o presidente Temer no dia seguinte, ou até no mesmo dia, como foi agora, para desmentir. Insisto: está dando certo. Esse é o caminho para não perdermos direitos.
BR: O sr. se refere ao desmentido sobre a imposição da jornada de 12 horas diárias de trabalho, ideia que surgiu no começo da tarde e foi abatida por Temer no início da noite de ontem?
Paulinho: Exatamente. O ministro Ronaldo Nogueira, que, justiça seja feita, tem escutado as centrais sindicais e está procurando acertar, foi descuidado. Neste momento delicado, em que os nervos estão à flor da pelo, falou demais. E levou um corte do próprio presidente. Temer, ainda, também desmentiu hoje que tenha a intenção de mudar as regras de acesso ao Fundo de Garantia, como saiu nos jornais. Quer dizer, o governo sabe que não pode sair atacando os trabalhadores sem sofrer perda de popularidade e ver crescer a oposição. Isso acontece exatamente porque estamos nos locais de trabalho, fazendo a nossa parte, e nas ruas, protestando. Não se faz greve sobre boatos. Afinal, são boatos e podem não se materializar. Seria uma irresponsabilidade dos dirigentes sindicais com o trabalhador e a trabalhadora chefes de família.
BR: As consequências de uma greve nunca são certas, é isso?
Paulinho: Sim. Tem muito patrão por ai esperando um escorregão do trabalhador para mandar em embora. Não podemos arriscar sem estarmos seguros de que, ao chamarmos uma greve nacional, ela se dará realmente nos principais centros do Brasil e de maneira generalizada. O grau de mobilização entre as categorias é diferente entre elas. Os metalúrgicos estão enfrentando o desemprego com muita luta, os bancários, neste momento, estão parados em busca de um reajuste salarial digno, mas é preciso mais para se fazer um movimento nacional. Caso contrário, no dia seguinte virão os jornais dizer que fomos derrotados, que não conseguimos o que queríamos. Não precisamos correr esse risco agora. Afinal, estamos conseguindo aumentar o calor sobre o governo. Temer já sabe que não pode fazer o que quer, ou o que dele querem, sem nos respeitar.
BR: Qual é a sua proposta?
Paulinho: No dia 22 deste mês, com todas as centrais sindicais unidas sobre a mesma bandeira da defesa dos direitos trabalhistas, vamos realizar uma grande manifestação nacional. Um dia de luta, de protesto, para mostrar o nosso descontentamento. Já fizemos isso, no mês passado, num ato unitário em São Paulo. O mesmo ocorreu em outros estados, mas agora será maior. Não só o governo, mas também o Congresso é muito sensível a isso. A Força Sindical está em diálogo permanente com a CUT, a UGT, a Nova Central, a CSB e a CTB para fazer dessa manifestação um ato significativo. De pressão real. Ao mesmo tempo, seguem as negociações, porque não podemos abrir mão dos espaços institucionais que o governo nos abriu. Como lembrei aqui, no governo passado não era assim. As centrais nem eram recebidas pela Dilma, mas agora conversam com Temer. Então, temos de ocupar todos os planos, todos os espaços, e lutar dia a dia. O momento é delicado, tem muita gente querendo prejudicar os trabalhadores e vender a ideia de que fazer isso é um jeito de superar a crise. O tal ajuste fiscal. O que estamos dizendo é: isso é mentira. A crise econômica se supera com medidas a favor do crescimento, e não com volta a um passado pré-CLT.
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